O primeiro turno das eleições em Feira de Santana deixaram um rastro de enorme sujeira, lixo e lama, devido à grande quantidade de panfletos com propaganda dos candidatos, os denominados ‘santinhos’.
Paralelo a isso, houve também o aumento no número de pacientes atendidos no Hospital Geral Clériston Andrade (HGCA) vítimas de quedas e com fraturas graves, alguns deles oriundos de acidentes com material de campanha em frente a colégios eleitorais.
Uma das vítimas de acidentes envolvendo santinhos foi o auxiliar administrativo Carlos Eduardo Melo de Carvalho, de 39 anos. Ele votou no Colégio Reitor Edgar Santos, no bairro Jomafa, por volta das 11h.
“Ao chegar ao local de votação, percebi a grande quantidade de santinhos espalhados pelo chão, de forma que cobriu completamente o meio-fio da entrada da escola. Pisei em falso e tive uma torção muito forte no pé. Mesmo assim, entrei no colégio com o pé machucado e sentindo muita dor. Fui até a minha seção e exerci a minha cidadania, votei e fui para casa. Ao chegar em casa, as dores pioraram, cheguei a colocar uma compressa de gelo e tomei um remédio para dor. Fui para o hospital, onde foi feito um raio-x, que constatou uma luxação e uma pequena distensão no pé no tendão”, relatou Eduardo Melo, em entrevista ao Acorda Cidade.
Ele contou ainda que precisou imobilizar o pé e está impedido de trabalhar durante uma semana.
“Ainda não estou conseguindo andar direito, com dores e o pé inchado. Fica o aviso para que as pessoas tomem mais cuidados. Vai ter o segundo turno, e acredito que a quantidade de santinhos não será a mesma, pois serão menos candidatos, mas com certeza ainda vai ter santinhos pelo chão. A minha opinião é que isso devia ser proibido, além de ser um crime eleitoral, a cidade fica suja, acontecem acidentes, como aconteceu comigo, porque quando cheguei ao hospital, tinha mais duas pessoas que sofreram acidentes parecidos com o meu e estavam com os pés machucados por causa dos santinhos. As pessoas devem tomar muito cuidado onde pisam para que não aconteça nenhum acidente com alguém”, aconselhou o paciente.
Ouvindo o relato de Eduardo durante o programa Acorda Cidade, um ouvinte contou que a cunhada quebrou o fêmur, quando escorregou nos santinhos espalhados pelo chão.
Em seguida foram chegando outros relatos. Entre eles o de uma eleitora que caiu em frente ao Colégio Assis Chateaubriand machucou o ombro. “Ainda sinto muitas dores”, disse.
Segundo o médico ortopedista Alexandre Vieira Alves, coordenador da Ortopedia do HGCA, o aumento no número de internamentos por quedas no hospital foi de aproximadamente 30%. A maioria dos casos foi de pacientes idosos.
“No final de semana, tivemos um aumento no número de pacientes vítimas de queda. Inclusive, vários idosos internados com fratura de fêmur, de várias idades, mas muitos que estão na emergência hoje foram vítimas de queda. Com o paciente idoso tem que haver um trabalho de prevenção de acidentes. Então tudo que gera risco de queda tem que ser evitado. Já temos um número grande de pacientes vítimas de queda, diariamente, mas eu percebi um aumento de cerca de 30% na quantidade de idosos”, confirmou o médico.
Na opinião dele, esse aumento do número de acidentes pode ter sido provocado pelos santinhos espalhados pelas ruas da cidade.
“Eu acredito que a grande quantidade de santinhos espalhados pela cidade durante as eleições podem ter sido a causa desse aumento. Os santinhos, de qualquer forma, é lixo, e vi muitos na rua, vários no asfalto, calçadas, então é mais um fator que pode predispor aos acidentes. Os idosos sem um equilíbrio bom passam e escorregam nesses papéis, misturados com alguma sujeira, lama, e isso pode propiciar uma queda”, observou o coordenador da Ortopedia do HGCA.
Ele ressaltou que os idosos quando fraturam o fêmur têm um índice de morbidade e mortalidade muito alto.
“A fratura mais comum no idoso é a de rádio distal, que a gente tem visto muito na Unidade de Pronto Atendimento (UPA), de muitos idosos que caem, tropeçam, e a fratura do fêmur, que é o carro-chefe, causada principalmente por quedas. O risco de se ter esse material na rua é fazer com que as pessoas escorreguem, além de ser lixo, que pode interferir na saúde pública. Hoje na era digital é inconcebível que ainda tenhamos essa quantidade de lixo nas ruas”, refletiu.
Nos idosos as fraturas são mais graves e levam a internamentos mais prolongados, gerando custo para o estado. Conforme Alexandre Vieiras Alves, esse público é mais suscetível a quedas, assim como as crianças.
“Em casa os idosos têm que fazer de tudo para terem uma segurança a mais, para evitar escorregões, então evitar qualquer tipo de lixo, papel no chão, sempre tem que ter alguém olhando esses idosos, porque eles não têm um equilíbrio satisfatório, então é preciso uma rede de apoio para esses idosos para que eles não venham a cair, e os santinhos estarão ocasionando um fator extra. Eu acredito que deva existir uma política de prevenção de acidentes maior no município”, orientou.
Conforme o Tribunal Regional Eleitoral (TRE), o candidato que ordenar ou permitir o derramamento de materiais de campanha nas ruas estará praticando propaganda irregular, sob pena de multa, além da apuração do crime, conforme previsto na legislação eleitoral (Lei nº 9.504/1997).
Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade.
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