Fé e respeito

Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa: líderes religiosos destacam a importância da união e respeito

O Acorda Cidade conversou com representantes de algumas religiões para destacar a urgência do combate à intolerância religiosa.

espiritualidade e religião
Foto: Freepik

Neste dia 21 de janeiro, é celebrado o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, uma data que representa um marco na luta pelo respeito à diversidade religiosa. A data foi instituída em 2007 pela Lei nº 11.635 em homenagem à Mãe Gilda, Iyalorixá que foi vítima de intolerância religiosa em outubro de 1999, quando seu templo foi invadido e depredado, e seu marido agredido por fundamentalistas religiosos. Não superando o trauma dos ataques, ela faleceu em janeiro do ano seguinte, após um infarto.

Para celebrar a data, o Acorda Cidade conversou com representantes de diversas religiões para destacar a urgência do combate à intolerância religiosa e a valorização das práticas culturais, com o objetivo de promover o respeito e a inclusão no Brasil.

Maria das Graças Ferreira Santos, uma mulher negra e candomblecista desde 1989, coordena, através da Federação Nacional do Culto Afro-brasileiro em Feira de Santana, o culto afro e faz parte de um grupo de combate à intolerância religiosa. Ela destaca que o candomblé é uma religião afro-brasileira que surge a partir das tradições religiosas trazidas por africanos escravizados, originários da África Ocidental, onde a doutrina é o respeito à ancestralidade e à natureza.

Maria das Graças Ferreira Santos
Maria das Graças Ferreira Santos | Foto: Arquivo Pessoal

“As principais práticas religiosas realizadas por nós são oferendas de alimentos, sacrifícios de animais, dança, música e muito amor para agradar nossos ancestrais e orixás. O candomblé prega a paz, o respeito e a união de todos, independentemente de cor ou escolaridade; a humildade deve prevalecer. Para nós, o respeito é a base”, disse.

Julgamento sem conhecer

Ela afirmou ao Acorda Cidade que o maior preconceito acontece porque as pessoas julgam sem conhecer. “Elas não procuram visitar terreiros, não procuram ler sobre nossa religião, não buscam conhecimento adequado sobre nossa religiosidade e acabam se baseando em boatos, com a noção equivocada de que nossa religião é do mal”, declarou Maria das Graças.

A candomblecista lamenta que nem todas as pessoas consigam conviver e respeitar outras religiões. “Infelizmente, essa convivência é prática de poucos. Sabemos que a laicidade do nosso país é muito insuficiente. Não tenho nenhum problema em conviver com pessoas de diferentes religiões, convivo com pessoas de todas as religiões. Mas existe perseguição e intolerância religiosa no nosso país”, afirmou.

Ela relatou ao Acorda Cidade que, assim como no Brasil, Feira de Santana também é uma cidade onde ocorrem casos de intolerância religiosa e destaca os desafios enfrentados pelas religiões de matriz africana. “Sofremos com isso; as pessoas querem nos agredir, criticam nossas roupas, nossas contas, nossos turbantes, até apedrejam nossos terreiros, além de agressões físicas e verbais. Mas somos resistentes e vamos permanecer de pé para honrar nossa ancestralidade. A diversidade religiosa é essencial para a construção de uma sociedade mais justa, com respeito, inclusão e justiça”, salientou, deixando uma mensagem para a população.

“Busquem estudar, busquem saber sobre a religião de matriz afro-brasileira, visitar terreiros para conhecer nossa ancestralidade, nossos orixás, porque só adquirindo conhecimento podemos mudar e acabar com a intolerância.”

Paz entre as religiões

O arcebispo metropolitano de Feira de Santana, Dom Zanoni de Castro, que faz parte da comissão do diálogo inter-religioso e do diálogo ecumênico da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), falou sobre o papel da Igreja Católica na luta contra a intolerância religiosa. Ele destacou que a Igreja Católica se realiza em Jesus, caminho, verdade e vida.

procissão senhora santana (7)
Dom Zanoni | Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

“Seguindo Jesus, temos presente essa missão de anunciar, evangelizar, dar notícias sobre a verdade, sobre Jesus, seu reino. Mas, como nos ensina São Francisco de Assis, evangelizar é a missão. Se for preciso, use palavras. A Igreja é a comunidade daqueles que acreditam nesta palavra, nesta verdade. A grande reflexão hoje da igreja é a salvação, a preocupação com a casa comum, com o bem-estar das pessoas. Por isso, nossa espiritualidade abrange o bem-viver, o cuidado com as populações indígenas, a defesa da causa dos quilombolas, a luta pela justiça, a defesa dos povos. O cristianismo e suas diversas matrizes expressam esse Deus que, na plenitude dos tempos, enviou seu Filho ao mundo. Mesmo aqueles que não são cristãos são chamados a compreender o mistério da salvação e têm muito a contribuir na gestação de um mundo de paz e justiça.”

Dom Zanoni ressalta que não haverá paz no mundo se não houver paz entre as religiões. Segundo ele, existe diversidade no mundo inteiro, incluindo o Brasil, que é um país muito plural, com diferentes compreensões e diversas expressões religiosas.

“Nós, que vivemos num Estado laico, não estamos sujeitos a uma determinada fé ou profissão religiosa. Todos somos chamados a contribuir na gestação de um mundo de paz e justiça, onde todas as pessoas, em sua liberdade, sejam de fato respeitadas. Nosso empenho é, diante desse mundo plural, usar o diálogo como palavra de ordem: deixar o outro falar, compreender e buscar um caminho de justiça e paz. A diversidade e a pluralidade das igrejas, com suas tradições e maneiras próprias de ser, refletem a verdade de Deus”, destacou.

Respeito mútuo

Luciano Brito, presidente da Estaca Kalilândia da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, disse acreditar que a convivência harmoniosa entre as religiões promove, acima de tudo, o respeito mútuo e contribui para a paz tão necessária neste mundo atual.

“Não podemos permitir que as diferenças religiosas sejam maiores que as necessidades das pessoas. Como igreja, sempre buscamos unir esforços para ajudar pessoas em situações de vulnerabilidade, como em campanhas de doação de alimentos, abrigos em desastres naturais. A igreja também procura estar envolvida em fóruns inter-religiosos onde se discutem temas como justiça social e ética.”

Luciano Brito
Luciano Brito | Foto: Arquivo Pessoal

Ele destacou em entrevista ao Acorda Cidade, que a Igreja de Jesus Cristo busca fortalecer a sociedade de modo geral, sejam membros ou não, ajudando a desenvolver valores como caridade, honestidade e serviço ao próximo. “Temos vários programas, como o Programa de Bem-estar e Autossuficiência, disponíveis para auxiliar em diversas áreas, como resiliência emocional, educação financeira, educação para um emprego melhor e aprendizado de novos idiomas. Mas, acima de tudo, ajuda a desenvolver um relacionamento pessoal com Deus e Jesus Cristo.”

Luciano Brito ainda analisou que quando o assunto é religião, é comum que informações incorretas ou ideias preconcebidas interfiram no entendimento das pessoas. “No nosso caso, não é diferente. Exemplos de alguns equívocos incluem a ideia de que não acreditamos na Bíblia ou que adoramos Joseph Smith, o que não é verdade. Acreditamos na Bíblia e vemos Joseph Smith como um profeta que teve um papel importante no estabelecimento da igreja nesses últimos tempos. Também é comum dizerem que substituímos a Bíblia pelo Livro de Mórmon, o que também não é verdade. O Livro de Mórmon é um outro testamento de Jesus Cristo.”

Ele aproveitou a oportunidade para convidar as pessoas a conhecerem a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. “Este é o convite feito pelo próprio Salvador Jesus Cristo quando ele disse: vinde e vede. É importante buscar informações em fontes honestas e confiáveis. Temos várias igrejas espalhadas por Feira de Santana e nas cidades circunvizinhas. Na entrada de cada capela, há uma placa que diz: todos os visitantes são bem-vindos. Temos missionários prontos para compartilhar o evangelho gratuitamente, por visita nos lares ou pelas redes sociais, onde também é possível aprender. Temos o site vindeacristo.org e também a rede social Vinde a Cristo em Feira de Santana.”

Luciano Brito explicou ainda que a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias é uma igreja cristã, que acredita que Jesus Cristo morreu por nossos pecados, ressuscitou e agora aguarda a sua segunda vinda. “Os membros da igreja são ensinados a aguardarem o dia do Senhor como um dia de descanso e também um dia sagrado. Frequentamos as reuniões semanalmente, principalmente a reunião sacramental, onde a ordenança do sacramento é realizada. Praticamos as obras, consideradas sagradas, como o livro de Mórmon, que é um outro testamento de Jesus Cristo. Também realizamos a ordenança sagrada no templo, a exemplo do casamento eterno”.

Com informações da jornalista Iasmim Santos do Acorda Cidade

Siga o Acorda Cidade no Google Notícias e receba os principais destaques do dia. Participe também dos nossos grupos no WhatsApp e Telegram

Inscrever-se
Notificar de
3 Comentários
mais recentes
mais antigos Mais votado
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários