Neste sábado (15), é comemorado o Dia Internacional da Mulher Rural. A data foi instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1995, com a proposta de elevar a consciência mundial sobre o papel da mulher do campo.
Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), as mulheres constituem 40% da mão de obra agrícola nos países em desenvolvimento.
A Educadora Popular, Francisca das Virgens Fonseca, 43 anos, é moradora da Comunidade Quilombola Fazenda Candeal II, no distrito de Matinha, em Feira de Santana.
Francisca contou ao Acorda Cidade sobre a infância e vivência como produtora na zona rural.
“Nasci aqui na zona rural e toda minha vida foi na zona rural, desde o trabalho na roça, até a produção agrícola. Minha infância eu posso descrever em dois momentos, o primeiro muito positivo, foi o da vivência no trabalho do campo, trabalho familiar, no aprendizado coletivo com os mais velhos, isso foi muito positivo. E o segundo momento, destaco a falta de acesso à escolarização, e a vários direitos, como a saúde. Mas foi uma infância boa, no sentido de aprender com os meus”, esclareceu.
Na vida adulta, Francisca Fonseca saiu da zona rural para concluir os estudos, cursando Letras na Universidade Estadual da Bahia. Hoje, Francisca é Mestre em Educação.
“Na vida adulta fui para a Universidade, mas sempre envolvida com as atividades do campo, até o Fundamental I estudei aqui no distrito. Sair da escola, porque não tinha escola para a gente, aí na vida adulta após 20 anos, fui estudar na cidade, fiz o EJA [Educação de Jovens e Adultos], e depois fiz a graduação em Universidade pública, no caso na Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs), fora da comunidade. Sempre estudei em escola pública desde o meu processo de alfabetização até a formação de nível superior todo em ensino público, e esse processo para a gente é muito importante, porque acreditamos na educação como um processo de transformação social. De fato, transforma as pessoas, transforma a realidade,” destacou.
O trabalho de Francisca na comunidade quilombola, consiste na coordenação de projetos sociais.
“Hoje o meu trabalho é na associação, coordenando os projetos sociais, tentando captar recursos com as outras meninas, também formadas em universidade pública, morando na comunidade. Tentamos fazer esse trabalho de articulação captação de recursos, formação dos nossos, buscando o desenvolvimento da comunidade, valorizando a agricultura familiar quilombola, e toda essa nossa produção”, afirmou.
De acordo com Francisca das Virgens, a Associação existe há mais de 20 anos e tem aproximadamente 200 associados.
“Nós temos aproximadamente, 200 associados, mas participando ativamente temos uma média de 100 que participam das reuniões mensais. E de projetos específicos é uma média de 20 a 30”, pontuou.
Ainda segundo Francisca, os recursos captados pela Associação são utilizados na formação de mulheres.
“Os recursos são obtidos via editais, recursos públicos, quando tem editais municipais, estaduais e federais e também de iniciativas privadas de economia mista. Já conseguimos com a Bahia Gás e com uma ONG, que é o Instituto Baobá que está financiado o projeto e que são para atividades aqui da comunidade, formação na área da agricultura. Nós temos uma ‘Feira das Marias’, uma feira para vender os produtos da agricultura familiar dentro da própria comunidade, visando a geração de renda e o incentivo à alimentação saudável, então esses recursos são para a formação das mulheres da feira usarem as tecnologias, inclusive nós vamos implementar a feira virtual, para as mulheres dominarem a tecnologia. O recurso é investido dessa forma”, explicou.
Ao Acorda Cidade, Francisca informou que os produtos são focados na produção familiar.
“Trabalhamos com a ideia de quintais produtivos, trabalhamos desde os derivados da mandioca, a hortaliças, frutas, legumes, tudo isso é englobado e trazemos para a feira. E os produtos processados derivados da mandioca: bolo, pudim, os beijus recheados, temos a farinha e vai muito nessa linha o processo dos produtos,” descreveu.
Francisca também informou que desde criança aprendeu a preparar esse produtos.
“Desde a minha infância eu fui aprendendo e há algum tempo as mulheres já começaram a inovar e ir aprendendo no coletivo, por exemplo, a fazer pizza de goma, para quem tem problemas de intolerância; o pudim de tapioca; o mousse de aipim, isso tudo foi aprendido agora nessa nova roupagem em que as mulheres dão a mandioca o aproveitamento da mandioca,” explicou.
Além de liderarem na associação, as mulheres lideram a produção dos alimentos.
“O papel da mulher é de suma importância, a gente sabe que as mulheres estão na linha de frente da produção e aqui as mulheres assumem essa linha de frente na liderança. E a importância é primeiro o cuidado, cuidado com a vida, com o outro, cuidado com a produção de alimento, em ter uma melhor qualidade de vida, não só para si, mas pensando no coletivo,” abordou.
A moradora do distrito de Matinha, Dionísia das Virgens Fonseca, 68 anos, disse ao Acorda Cidade que tem orgulho de trabalhar como produtora rural.
“Desde a minha infância, quando eu tinha 7 anos de idade, foi quando eu comecei a trabalhar na roça com a minha mãe, ajudava ela, ela levava a gente, mesmo quando não sabíamos limpar o caminho da mandioca, limpávamos a cabeceira, já trabalhei com inchada, foice, com todos os instrumentos da roça”, contou.
Dionísia relatou que o papel da mulher rural é trabalhar, produzir e orientar, principalmente os filhos.
“Os meus primeiros filhos me ajudaram na roça, estudaram pouco, tiveram dificuldades, mas estudaram. Quem estudava pela manhã estava na roça pela tarde, quem estudava pela tarde ajudava na roça pela manhã. Hoje trabalhando na roça, só tem eu e meu esposo, Candido Pereira da Fonseca, 69 anos. Sou aposentada, mas a gente ainda não deixa de cultivar. E minhas filhas que moram próximo, também ainda plantam cada uma um pouquinho”, contou.
A aposentada Dionísia ressaltou a importância da valorização da mulher rural. “Na roça nós produzimos tudo: mandioca, hortaliça, coco, jaca, batata, aipim, tudo isso nós produzimos na zona rural”.
Feira de Santana possui muitas mulheres na roça, mas segundo informou Dionísia das Virgens, a escassez acaba atrapalhando o cultivo da mandioca.
“Hoje está um pouco mais difícil, porque nós já produzimos muita mandioca aqui, mas agora ficou mais escasso, mas não deixamos de cultivar a mandioca. A chuva foi ficando pouca e também o comércio ficou mais difícil, antigamente, durante a semana, a gente fazia a farinha e na madrugada meu pais saiam com dois animais carregados de farinha para fazer a feira, mas hoje ficou difícil, porque até o acesso da gente comercializar ficou mais difícil,” concluiu.
As informações são do repórter Ed Santos do Acorda Cidade
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