Andrea Trindade
Encerrou na noite desta sexta-feira (26), após 10 horas e 30 minutos, o depoimento do médico Geraldo Freitas de Carvalho Júnior, acusado de matar o médico Andrade Lopes Santana, de 32 anos, no dia 24 de maio. Após vários dias de desaparecimento, o corpo foi encontrado no Rio Jacuípe em São Gonçalo dos Campos.
O depoimento foi prestado à juíza Márcia Simões Costa, em uma das salas de audiência da Vara do Júri, no Fórum Desembargador Filinto Bastos, em Feira de Santana. O médico estava acompanhado pelos advogados Eustáquio Neto, Leandro Gabriel e Teófilo Borges. A audiência de instrução começou às 9h. Foram ouvidas as primeiras testemunhas arroladas pelo Ministério Público (MP). Logo após, foram ouvidas as testemunhas de defesa e por fim, o réu. Familiares do médico Andrade Santana também estão presentes na oitiva. A vítima morava no município de Araci.
Foto: Aldo Matos,/Acorda Cidade
Homicídio culposo
A defesa apresentou a tese de homicídio culposo, quando não há intenção de matar, destacando que réu e vítima eram amigos e que o tiro disparado foi acidental, durante uma discussão por causa de mensagens de celular, no momento em que os dois estavam em uma moto aquática. De acordo com a defesa, Andrade estava conduzindo o veículo no rio quando deu uma cabeçada para trás. Reação que, segundo a defesa, teria ocasionado o disparo acidental da arma que estava na mão de Geraldo, e que por ser uma arma de competição, dispara com um simples toque no gatilho.
“Hoje, pela primeira vez, o réu teve a oportunidade de contar a versão dos fatos. Desde o início lá na polícia, ele já afirmou que eles eram amigos e não tinha nenhum motivo para assassinar o amigo. Na verdade houve sim a discussão, mas o disparo foi acidental. A defesa espera que no momento oportuno possa provar, não que ele é inocente, porque Geraldo cometeu um erro e se arrepende muito, e hoje aqui olhando nos olhos da juíza, do promotor, ele disse que está arrependido do que fez. Mas o disparo não foi intencional (…).Tudo ocorreu em cima de uma moto aquática e Andrade pilotava a pedido dele mesmo. Estavam andando, pararam o Jet pra poder conversar sobre as mensagens e infelizmente, Andrade estava de costas, no momento em que ele dá a cabeçada para trás, porque se assustou com a arma, o tiro pegou na nuca, mas poderia ter sido no ombro, de raspão, ou ter errado, mas infelizmente acertou na nuca”, afirmou o advogado Eustáquio Neto.
Âncora amarrada ao corpo e queixa na delegacia
Sobre a âncora encontrada junto ao corpo da vítima, o advogado afirmou que o equipamento foi usado, não para que o corpo afundasse no rio, mas sim para tentar retirá-lo da água.
O advogado destacou que o réu cometeu uma sucessão de erros, após o disparo, por desespero e medo. Geraldo chegou até mesmo a registrar a queixa do desaparecimento do colega na delegacia e receber a família do médico.
“Geraldo cometeu uma série de erros. O primeiro e, ele disse hoje aqui, foi estar com aquela arma de fogo naquele momento e ter tentando intimidar o amigo a entregar o celular, e se ele não estivesse com essa arma esta tragédia com certeza não teria acontecido. Por que ele não contou à polícia? Por medo, por desespero, Geraldo é réu primário, é um jovem de 32 anos, então naquele momento ele entrou em pânico, em desespero, acabou não contando pra ninguém. Tanto é que os advogados, que também são tios, só ficaram sabendo dos fatos chegando aqui em Feira de Santana. Geraldo errou, ele disse: ‘eu fui covarde, não em ter atirado no amigo pelas costas como disse a polícia, como disse a imprensa, mas por não ter tido a coragem de imediatamente ir a delegacia e ter falado que houve um acidente, que foi um disparo acidental, que era o certo’. Mas por desespero, por medo, ele cometeu uma série de outros erros, que foi ter ido à delegacia registrar a queixa, ter encontrado a família. Ele disse aqui que a todo o momento ele pensava em dizer a verdade, mas como ele nunca tinha passado por uma situação dessa, o medo tomou conta”, relatou.
Dívida de compra de arma, crime passional e mensagens
O advogado Eustáquio Neto também alegou que o crime não teve como motivação uma dívida por parte da vítima, nem mesmo por causas passionais.
“A arma foi vendida por 12 mil reais e Andrade já tinha pagado três parcelas. A arma em si não tem nada a ver com o fato, já que Geraldo e todas as testemunhas disseram hoje que Geraldo e Andrade eram amigos. Não tinha nenhum motivo pra tirar a vida de Andrade. Infelizmente o erro dele foi obrigar o colega a entregar o celular que tinha umas mensagens que ele tinha acabado de descobrir e infelizmente, Andrade que não teve culpa, teve uma reação de se curvar e deu uma cabeçada para trás, e ele acabou caindo do Jet e a arma disparou. Lembrando que a arma de Geraldo era preparada para competição, tinha o gatilho aliviado, isso foi explicado, a um simples toque do dedo ela dispara, e infelizmente essa tragédia aconteceu”, afirmou o advogado ao Acorda Cidade.
Médico Andrade Lopes | Foto: Reprodução/Redes Sociais
Segundo a defesa, as mensagens que teriam motivado a discussão estavam relacionadas a um desafeto de Geraldo Júnior.
“Não teve nada a ver com crime passional. A juíza fez questão de perguntar se havia alguma desconfiança por parte de Geraldo com Andrade, com a namorada. Andrade era uma pessoa íntegra também, jamais sequer deu em cima da mulher de alguém. O crime não foi passional, na verdade as mensagens estavam relacionadas a um desafeto de Júnior, que Junior acabara de pegar as mensagens no celular, deles conversando sobre supostamente um plano para pegar Júnior, mas não teve nada a ver com crime passional. Geraldo confessou que foi ele que estava com Andrade, foi ele que efetuou o disparo, mas também esclareceu que ele não teve a intenção, foi um disparo acidental. Desta forma, a defesa sequer pede a absolvição de Geraldo, a defesa pede para que ele responda e pague pelo crime exato que ele cometeu: homicídio culposo, quando não há intenção de matar (…). A defesa de Geraldo que também é da família dele, lamenta muito e tem muito respeito pela família e Andrade”, concluiu.
Durante interrogatório à Polícia Civil no dia em que foi preso, o réu disse que teve sonhos premonitórios e afirmou que o disparo foi acidental.
Com informações do repórter Aldo Matos do Acorda Cidade.
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