Juliana Nascimento de Carvalho, advogada brasileira de 34 anos, natural de São Paulo, está realizando seu sonho de atuar na área jurídica em Portugal. Nascida em uma família humilde, Juliana cresceu no bairro da Queimadinha em Feira de Santana, Bahia, onde passou sua infância e adolescência, saindo do bairro em 2019, poucos meses após a sua formatura. Sua mãe, que é natural de Feira de Santana, a trouxe para a cidade ainda com um ano de idade.
A experiência de Juliana em se tornar advogada começou na infância, quando descobriu que sua mãe sonhava com essa profissão, mas não pôde realizá-la devido à condição financeira. Juliana decidiu então seguir esse sonho em nome de sua mãe. Inicialmente, ela cursou Engenharia, aproveitando uma bolsa de estudos, mas logo percebeu que seu verdadeiro objetivo era o Direito. Com a ajuda de um colega de faculdade, conseguiu o Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies) para cursar Direito.
“Foi sempre um sonho cursar Direito, passei por muitas dificuldades financeiras, a ponto da minha mãe ter que tirar dinheiro de água e luz, até da feira mesmo, para ter que pagar transporte, xerox. Passamos por muitos apertos, tive ajuda de alguns colegas da faculdade isso foi o que amenizou, mas também sofri muito preconceito dentro da instituição, e por eu vir de um bairro humilde as pessoas associavam que o ‘crime’ era quem financiava a minha faculdade”, disse.
Atuando na área do Direito Imigratório, Juliana oferece suporte a pessoas interessadas em deixar o Brasil, auxiliando-as com pedidos de visto, nacionalidade e documentos para regularização em território português. Além disso, ela presta atendimento a estudantes brasileiros que desejam ingressar em cursos de graduação, pós-graduação ou mestrado em Portugal. Juliana também ajuda profissionais brasileiros a se registrarem na Ordem dos Advogados de Portugal, permitindo-lhes exercer a profissão no país.
“Trabalho com Planejamento Imigratório, pedidos de visto, nacionalidade, documentação para se legalizar em território português, tanto para os que já estão aqui e os que querem vir e não tem um conhecido ou um ponto de partida”, explicou.
Novas decisões e oportunidades
A decisão de mudar para Portugal em 2022 surgiu após uma série de acontecimentos pessoais difíceis na vida de Juliana. Em 2020, sua mãe faleceu e a advogada se viu sozinha em meio aos sonhos conquistados com a ajuda da mãe.
“Tenho um pouco mais de 8 meses aqui, não foi algo planejado, foi uma volta de 365 graus em minha vida. Em 2020 a minha mãe faleceu, eu sou mãe solo, eu vi toda dificuldade que minha mãe passou para criar a gente, eu e meu irmão, e quando eu e meu irmão estávamos conseguindo dá uma velhice digna para ela foi quando aconteceu essa morte dela repentina e eu fiquei sem chão e me vi colhendo todos os frutos de algo que ela havia semeado lá atrás comigo, isso tinha perdido o sabor, porque a pessoa mais importante que deveria estar comigo ali para vibrar a cada conquista não estava mais, eu precisei recalcular a rota, me reinventar para fugir de uma depressão. E associando também a questão da segurança da minha filha, diante da violência que está o Brasil e a nossa cidade, foram os fatores que me fizeram decidir migrar”, contou.
Ao Acorda Cidade, a advogada compartilhou que a escolha por Portugal foi motivada pela possibilidade de exercer sua profissão de advogada sem burocracia, graças ao acordo de reciprocidade entre Brasil e Portugal que permite que advogados brasileiros atuem legalmente no país. A chegada de Juliana a Portugal foi tranquila, embora tenha enfrentado os desafios típicos que os imigrantes enfrentaram inicialmente.
“A minha chegada no país foi muito tranquila, passei por alguns perrengues que muitos imigrantes passam logo que chegam, mas nada que me fizesse jogar tudo para cima e voltar. A adaptação é um pouco lenta, mas hoje estou bem adaptada tanto ao ambiente em si como na profissão. Atuar no Direito fora do país nunca foi os meus planos, mas foi uma reviravolta na minha vida. A gente como profissional almeja sempre alcançar altos voos, sempre ter destaque na profissão, ampliar o leque de parcerias, abrir escritório em outras cidades, mas eu não havia sonhado tão alto e não achei que a advocacia podia me levar tão longe”, pontuou.
Portugal, segundo Juliana, não é muito diferente do Brasil em termos de costumes, no entanto possui suas particularidades. E dos pontos que favoreceram a adaptação da advogada foi a comunidade brasileira no país. “Tem costumes parecidos, assim como também costumes muito diferentes, é um misto. Talvez hoje esteja mais parecido com o Brasil, porque hoje a gente acaba encontrando uma comunidade brasileira enorme aqui, então a gente acaba se identificando e trazemos um pouco da nossa cultura”, destacou.
Como mãe solo, Juliana equilibra sua rotina entre cuidar de sua filha e seu trabalho no escritório de advocacia em Portugal. Ela leva sua filha à escola em período integral e passa o dia realizando diligências e atendendo a clientes em seu escritório.
“Acordamos, cuido da minha filha, tomamos café, deixo minha filha na escola, aqui é tempo integral. A minha filha tem quatro anos, ela passa o dia na escola, e eu passo o dia no escritório com diligências, a minha rotina é a advocacia em sua totalidade no que diz respeito a área imigratória. Às 17h/18h da tarde pego a minha filha, venho para casa. Faço atendimentos em Portugal na área de Direito Imigratório e para o Brasil também na mesma área, permaneço dando suporte aos meus clientes no Brasil”, descreveu.
Apesar de sua agenda agitada, a advogada ainda oferece suporte aos clientes no Brasil e planeja expandir seu escritório na área de Direito Imigratório, buscando atender diversas regiões do Brasil onde não há um escritório especializado nessa área, como em Feira de Santana.
Juliana disse que pretende expandir seu escritório na área de Direito Imigratório visto que em Feira de Santana não há um escritório especializado nesta área. “Eu pretendo alcançar o Brasil em diversos estados, advogar na Espanha também é um sonho. Tenho uma equipe formada por mim, mais uma secretária que me dá todo suporte. Tenho uma estagiária no Brasil. Pretendo voltar visto que ainda não tenho um ano aqui, mas pretendo visitar em dezembro ou no próximo ano. Minha família no Brasil é muito pequena, a minha mãe era filha única, eu só tenho um irmão no Brasil. E a família de meu pai é toda de Minas Gerais, eu não tenho familiares de sangue, mas amigos que a vida me deu”, indicou.
Com informações da produtora e jornalista do Acorda Cidade Maylla Nunes
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