O crescente aumento das infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) em Feira de Santana tem sido motivo de preocupação para a Vigilância Epidemiológica da cidade, segundo Caroline Oliveira, enfermeira e supervisora do programa IST HIV/AIDS.
De acordo com dados do Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) da cidade, de janeiro a agosto de 2024, foram registrados 585 novos casos de ISTs, enquanto no mesmo período de 2023 o total foi de 428.
“Quando a gente compara o ano de 2023 para 2024, continuamos a ter um aumento no número de casos dessas infecções”, afirmou Oliveira ao Acorda Cidade, destacando que o número de atendimentos aumenta anualmente.
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O serviço de rastreio para HIV, por exemplo, atende tanto os habitantes locais quanto pacientes de municípios vizinhos. O CTA de Feira de Santana presta assistência pactuada para cerca de 28 municípios vizinhos.
ISTs em Feira de Santana
Entre as ISTs mais prevalentes no município estão sífilis, herpes genital, gonorreia e HIV, respectivamente, nesta ordem. A sífilis preocupa especialmente quando ocorre em mulheres gestantes, pois pode ser transmitida para o bebê, resultando em sífilis congênita. Além disso, doenças como herpes genital e HIV, que têm tratamento, mas não cura, reforçam a necessidade do uso de métodos preventivos.
Sífilis
“Nos preocupa muito quando essa sífilis é em gestante, porque ela é uma doença que pode passar da mãe infectada para o bebê e esse bebê nascer com sífilis congênita. A herpes genital também é uma infecção bastante incidente, que, assim como o HIV, tem tratamento, mas não tem cura, e aí a gente já fala da importância do uso da camisinha. Hoje em dia a gente não fala mais, até a nível de informação, camisinha feminina e camisinha masculina. Hoje a gente já trata como camisinha externa e camisinha interna”, explicou.
Gonorreia
A gonorreia, uma infecção antiga, permanece prevalente e é caracterizada por sintomas como corrimento e ardência ao urinar poucos dias após a exposição.
“Ela é uma infecção que, normalmente, quando a pessoa adquire através de uma relação sexual desprotegida ou usou de forma incorreta esse preservativo, com dois, três dias da infecção, esse sintoma já aparece, que é o caso do corrimento espesso, amarelado, que surge principalmente quando o paciente acorda. Ele vai ter ardência ao urinar. Então, é um sintoma que, normalmente, a pessoa tem com poucos dias que teve a exposição e que se infectou durante a relação sexual. Mas a gonorreia, também é importante que as pessoas não tenham vergonha e procurem o atendimento”, alertou.
Cancro Duro
O cancro duro é uma lesão que pode aparecer no pênis ou na região da vulva da mulher, uma ferida indolor que desaparece sem tratamento, e a pessoa não imagina que tem. Por isso, a enfermeira reforça a importância de se fazer a testagem para sífilis. Ela também confirmou que para o cancro mole não há tanta incidência na cidade.
A prevenção combinada, uma abordagem que integra testagem regular e o uso de preservativos com outras formas de prevenção, tem sido recomendada para evitar a proliferação de ISTs. Segundo Caroline Oliveira, é essencial que o paciente tenha orientação sobre sua saúde sexual de forma personalizada.
“A consulta tem que ser muito individualizada, nas práticas sexuais dessa pessoa, desse indivíduo. Não só chegar e orientar: você precisa usar a camisinha externa ou interna. Mas dar outras orientações de que, olha, é importante você testar para HIV, para sífilis, hepatite B e C. Orientar que esse paciente faça esse teste de acordo com a vida sexual dele, se é uma vida sexual ativa, qual a frequência, quantos parceiros sexuais tem. Orientar as pessoas sobre a importância da vacinação também. Ser vacinado para hepatite B. Quem está no calendário de vacinação do HPV, se vacinar também”.
PEP e PrEP, você sabe o que é?
Você sabia que, além das camisinhas, existem outros métodos seguros para prevenir as ISTs, principalmente o HIV? Estamos falando das PEP e PrEP.
O centro de saúde também oferece atendimento para a PEP (profilaxia pós-exposição) e a PrEP (profilaxia pré-exposição), tratamentos bastante indicados pelos médicos para situações de exposição às ISTs. A PEP é uma medida de prevenção de urgência para o HIV, hepatites virais e outras ISTs. Já a PrEP é uma combinação de dois medicamentos que previne o HIV, mas não protege de outras ISTs.
“Pessoas que foram vítimas, infelizmente, de violência sexual, ou que tiveram uma relação sexual sem o uso da camisinha, ou acidente ocupacional, profissional de saúde, que se fura com a agulha de uma pessoa e que não sabe a sorologia dessa pessoa. Então, a gente chama isso de tratamento, profilaxia pós-exposição, que é a PEP. Existe uma consulta para isso, para indicar a terapia antirretroviral por até 30 dias”, explicou ao Acorda Cidade.
A PEP, usada após relações sexuais de risco, deve ser iniciada preferencialmente nas duas primeiras horas, mas pode ser tomada até 72 horas após o evento. Já a PrEP é voltada para pessoas com alta vulnerabilidade ao HIV, oferecendo proteção contínua para quem tem múltiplos parceiros ou situações frequentes de risco.
“PrEP é uma profilaxia antes da exposição, antes da relação sexual. É para aquela pessoa que tem uma vida sexual muito ativa, múltiplos parceiros, que tem uma vulnerabilidade maior e muitas situações de risco de contrair o HIV. Então, essa pessoa também é indicada a fazer a PrEP. O que é isso? É o uso contínuo da terapia antirretroviral do HIV. Então a pessoa vai ficar usando o tempo que for necessário. Ela vem para a consulta com o enfermeiro ou com o médico, e a gente orienta: ‘Olha, você realmente se expõe muito, tem muitos parceiros, principalmente, você se expõe muito a situações que pode contrair o HIV’. Pronto, tem essa medicação aqui, você tem que usar todos os dias no mesmo horário, e o paciente vai ficar vindo aqui mensalmente ou a cada três meses, de acordo com a rotina do paciente, e a gente vai acompanhando”, orientou.
Esse tipo de medicamento pode ser encontrado no centro de referência ou nas UPAs da Queimadinha e Mangabeira.
Com o aumento expressivo de casos, a enfermeira alertou sobre a subutilização de preservativos disponibilizados gratuitamente pelo programa. “A pessoa tem que se testar, a pessoa precisa usar a camisinha”, enfatizou, destacando que as consultas são por livre demanda e os preservativos ficam à disposição sem restrições de quantidade.
HIV: risco de morte existe, mas qualidade no tratamento avançou
Apesar do aumento das ISTs em Feira de Santana, Caroline destacou ainda em entrevista ao Acorda Cidade, que os índices de risco de mortes por essas doenças têm reduzido bastante por conta do avanço dos tratamentos.
“Está se reduzindo o número de pessoas que evoluem para a Aids. Aqueles pacientes que evoluem são pessoas que geralmente já se descobrem no quadro da Aids, porque começam a ter sintomas que muitas vezes são tardios. Quando fazem o teste, descobrem que têm o vírus. Mas aqueles pacientes que fazem o acompanhamento regularmente, que fazem uso da medicação de forma correta, que não faltam às consultas médicas, esses pacientes passam muitos e muitos anos, inclusive, com carga viral indetectável. Fazem uso da medicação e fazem todo o acompanhamento ambulatorial”.
Pacientes diagnosticados com HIV ainda morrem devido ao rastreio tardio e à falta de tratamento, mas atualmente, a conscientização tem melhorado a qualidade de vida dos pacientes e evitado mortes.
“Cada vez mais, esses pacientes que vivem com o vírus do HIV estão tendo melhor qualidade de vida, e muito menos, principalmente em comparação ao início da Aids na década de 80, vemos pacientes morrerem”.
Onde buscar tratamento?
O Centro de Saúde Especializado Dr. Leone Coelho Lêda (CSE) funciona de segunda a sexta, das 7h às 18h, realizando testagem e atendimentos relacionados às ISTs. Basta comparecer à unidade com um documento com foto, cartão do SUS e comprovante de residência.
Para pacientes diagnosticados com doenças como HIV e hepatites B e C, o próprio centro realiza os encaminhamentos sem precisar de regulação ou marcação via posto.
O CTA está nas imediações do CSE, localizado na Rua Prof. Geminiano Costa, s/n – Centro, Feira de Santana – BA, 44001-120.
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Com informações do repórter Ney Silva do Acorda Cidade
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