Gabriel Gonçalves
Neste sábado, 20 de novembro, é celebrado o Dia Nacional da Consciência Negra. A data faz memória ao grande líder negro Zumbi dos Palmares, morto neste mesmo dia, no ano de 1695.
O mês de novembro vem se tornando referência para as atividades que inspiram a luta e, principalmente, a resistência do povo negro, que historicamente enfrenta o racismo articulado nas diversas esferas da sociedade.
Fundada em 20 de novembro do ano de 2014, a Associação Cultural MoviAfro de Feira de Santana é uma entidade filantrópica sem fins lucrativos, que busca, desde o princípio, promover a inclusão e a justiça social por meio da arte, cultura afro-brasileira e, principalmente, da educação.
Em entrevista ao Acorda Cidade, o presidente da Associação, Val Conceição, destacou a importância da celebração no Novembro Negro, que é realizado em todo o território brasileiro.
"Este é um mês para celebrar, um mês que a gente tem para reivindicar e conscientizar. Entretanto, nossa entidade, nosso povo preto, nossas Associações já praticam essa conscientização durante o ano inteiro. É uma data importante, que a gente comemora sim, de fato, mas não seria uma data exclusiva para estas questões de conscientização, essas questões de posicionamento. Essa luta contra a desigualdade social é necessária, mas em muitos momentos durante os nossos diálogos que temos, a gente não queria nem que fosse necessária, preferíamos que não houvesse tanta luta, mas infelizmente a desigualdade está aí, e a sociedade faz questão de colocar para nós que existe uma diferença entre pretos e brancos. Por isso, precisamos continuar nessa luta, mas o nosso movimento é diário, não apenas no dia 20 de novembro, precisamos lutar nos dias 21, 22, 23 e todos os outros dias do ano", enfatizou.
De acordo com o presidente da Associação, infelizmente as mulheres negras sofrem por apenas serem mulheres, e dentro da sociedade, outros estereótipos provocados pela sociedade fazem com que a autoestima desta mulher seja rebaixada.
"A mulher negra já sofre por apenas ser uma mulher e sofre mais ainda por ser mulher negra. Depois disso, surgem os estereótipos, como a mulher negra e gorda, e a partir disso, criamos um núcleo de mulheres, que é coordenado por nossa irmã Suelen Cardoso, justamente para criar um fomento ao combate deste preconceito, porque vai depender muito do contexto que aquela mulher faz parte. Eu, por exemplo, chamo a minha companheira de minha preta, mas ela já foi chamada de preta sebosa, preta suja, então depende muito como vem a expressão e de quem vem", afirmou.
Para Val Conceição, é possível identificar que muitas discriminações são vistas de forma tão radical, como se não fosse um ser humano que estivesse recebendo todas as ofensas.
"Muitas pessoas não vêem o negro e a negra como pessoas iguais, não nos vêen nem como seres humanos, imagine. Esta é uma luta diária e estamos nesta militância há 33 anos buscando, cada dia mais, vencer todas as batalhas que não são fáceis. Hoje eu tenho 48 anos de idade e tenho certeza que se eu viver por mais 48 anos, a gente ainda não vai ver o fim do racismo. O fim do preconceito pode melhorar, mudar, amenizar, mas não vai acabar infelizmente", disse.
Foto: Ney Silva/ Acorda Cidade
Integrante da Associação Cultural MoviAfro, a ativista cultural Luciana Silva declarou que cada mulher negra carrega consigo uma história de sobrevivência.
Para ela, independente da cor de pele, estilo de cabelo, o orgulho em ser uma pessoa negra fala mais alto.
"Hoje eu sou feirense, nascida e criada aqui, fruto de um casal inter-racial e a família como muitas aqui no Brasil, não era afro centrada, então essa questão racial não era discutida na minha casa, mas eu sempre tive uma mente en que eu queria isso, eu queria me aquilombar, queria estar no meio, e cada mulher negra aqui no Brasil tem a sua especificidade, pois existe o preconceito e infelizmente vem até das pessoas no qual você admira, vem da própria família, mas ainda bem que hoje temos a literatura, como uma forma de sensibilizar. Para mim, ser negra foi uma grande maravilha da minha vida, porque eu me amo como eu sou, eu descobri que o meu cabelo é lindo, que eu sou linda e isso tudo mudou, porque este é o segredo da vida, ser uma referência e procurar uma referência. Hoje digo que sou feliz, e ainda posso ajudar outras meninas que passaram pelo mesmo processo", relatou.
Como forma de inserir o jovem no mercado de trabalho, a Associação MoviAfro, através do grupo de ação social coordenado por Marinalda Soares, está fomentando uma rede de apoio, para que a juventude possa ter uma oportunidade de emprego.
Foto: Ney Silva/ Acorda Cidade
De acordo com ela, muitas empresas cobram conhecimentos, mas segundo Marinalda, sem essa chance do primeiro contato com as atividades laborais, não será possível ter experiência.
"Nós hoje estamos com um projeto buscando o apoio de empresas para nos apoiarem e dar o primeiro emprego a tantos jovens negros oriundos da periferia de Feira de Santana. Assim como pais e mães que, neste período de pandemia, perderam seus empregos, mas sobretudo, estamos nessa busca da parceria, para dar esta oportunidade a estes jovens a terem o seu próprio trabalho. Infelizmente, muitas empresas falam e exigem determinado conhecimento, mas é justamente este primeiro emprego que o jovem vai ter a oportunidade de se capacitar, fazendo sua formação do conhecimento, do que é necessário dando continuidade naquele setor. Estamos empenhados neste projeto e uma empresa já demonstrou interesse e a partir da próxima semana, estaremos sentando para analisar todas as propostas e fazer esse alinhamento", concluiu.
Com informações do repórter Ney Silva do Acorda Cidade