Novembro Negro

Consciência Negra: Escola Carolina Maria de Jesus celebra a cultura e a ancestralidade do povo negro

O Acorda Cidade esteve na unidade para acompanhar de perto como toda a comunidade escolar se envolveram para promover a negritude.

Foto: Ed Santos / Acorda Cidade
Foto: Ed Santos / Acorda Cidade

Amanhã (20) celebra-se o Dia da Consciência Negra e para marcar a data, a Escola Estadual de Tempo Integral Carolina Maria de Jesus, localizada no bairro Tomba, em Feira de Santana, promoveu durante todo o dia desta terça-feira (19), um evento especial em homenagem à data. A iniciativa destacou a importância da valorização da cultura e da história negra, com atividades que envolveram toda a comunidade escolar.

O Acorda Cidade esteve na unidade para acompanhar de perto como os alunos, professores das áreas de humanas e toda a escola se envolveram para promover a negritude dentro e fora das salas de aula. Com mais de 700 estudantes dos três turnos dedicados ao evento, a programação incluiu desfiles para afirmar a identidade negra dos alunos, peças teatrais para contar o legado e a história do povo negro, apresentações culturais, leituras que refinaram a intelectualidade negra, entre outras atrações que mobilizaram a escola.

Foto: Ed Santos / Acorda Cidade

Vale destacar que o colégio, antiga Uyara Portual, foi reformado pelo governo estadual e fez uma homenagem em seu novo nome, à Carolina Maria de Jesus, umas das mais importantes escritoras negras da literatura brasileira.

Em entrevista ao Acorda Cidade, a professora Joseane de Assis Santos Sena, que leciona História há 26 anos na escola, contou a emoção de organizar um evento com essa proporção.

Joseane de Assis | Foto: Ed Santos / Acorda Cidade

“É sempre difícil porque é emocionante ao mesmo tempo. A gente fica emocionada com a beleza dos trabalhos e isso é compensador. Nós contamos com a parceria do grupo de humanas, além de professores de outras áreas, mas o maior desafio é que todos os alunos querem participar. É muita coisa para fazer e pouca gente. Mas dá certo. É um dia para mostrar nossa identidade e ancestralidade”, destacou a professora.

Joseane ressaltou a importância do 20 de novembro como feriado nacional e destacou a necessidade de reescrever a história que por muitos anos não foram, contatadas pelos reais protagonistas da história.

“Transformar o 20 de novembro em um feriado nacional é uma luta de muitos anos. precisamos reescrever a nossa história, fazer com que as pessoas entendam que nós descendemos de também construtores da história da humanidade. O nosso povo é detentor da engenharia, da medicina, da arquitetura e isso nos foi negado ao longo desse processo histórico, desse processo de escravização dos europeus para com os povos africanos. Então, estar comemorando significa reacender a nossa identidade, é um reencontro com a nossa ancestralidade africana”.

Foto: Ed Santos / Acorda Cidade

Apesar do racismo estrutural fazer parte do sistema brasileiro, a professora apontou que a popualçao negra, a maioria do país, formada por pretos e pardos, conquistou lugares de poder, mas ainda enfrenta a falta de acesso a direitos básicos.

“Hoje também estamos no poder, ainda está difícil, nós vemos um racismo estruturado, estruturante. Ainda a sociedade não está aberta para entender que a nossa capacidade é igual a de qualquer outro ser humano. Mas temos conquistas sim. Um exemplo sou eu aqui agora falando, agradeço as nossas ancestrais, a Zumbi, a Dandara, a Karla Akotirene, a toda a minha família. Hoje temos médicos, professores, temos ministérios e secretarias, mas os desafios são maiores”, acrescentou.

Foto: Ed Santos / Acorda Cidade

Primeiro ano do feriado nacional

Este ano, o evento ganha ainda mais significado por ser o primeiro em que o 20 de novembro é celebrado como feriado nacional. Segundo Alexsandra da Silva Lima de Santana de Santana, que é professora de História e Ancestralidade, a ocasião reflete anos de luta e conquista.

Foto: Ed Santos / Acorda Cidade

“Estamos assim, enquanto negros, felizes porque é o primeiro ano que foi consagrado, o ano que amanhã é feriado nacional, era muito esperado esse momento. Além,da lei que torna obrigatória ter sido novamente retomada, depois de dez anos, para que a obrigatoriedade de ensino de África, do continente africano, seja trabalhado nas nossas escolas, na nossa unidade. Felizmente, tendo a oportunidade, além de história, de estar com a disciplina de ancestralidade e de sociologia, nós estamos promovendo um trabalho já que é durante o ano”.

Pequeno Manual Antirracista, de Djamila Ribeiro

A professora destacou a inclusão do livro Pequeno Manual Antirracista, da escritora Djamila Ribeiro, no evento. Desenvolvido com os alunos ao longo do ano, o trabalho tem um impacto significativo nas atitudes dos alunos. O livro ensina a combater o racismo estrutural e dar visibilidade à temática racial no dia a dia.

Foto: Ed Santos / Acorda Cidade

“São 11 capítulos, e onde um dos capítulos, inclusive, convoca para que a comunidade brasileira, os alunos, as escolas, trabalhem com autores negros. E foi pela primeira vez que foi apresentado à turma, que foi lançado em 2019, ganhador do prêmio do ano, o prêmio Jabuti, foi consagrado um dos mais vendidos, por sinal, e continua ainda na prateleira, no top da prateleira, que é necessário um livro que tenha uma linguagem coloquial, fácil e acessível para os alunos. E isso foi de suma importância porque eles ficaram fascinados pelo livro e decidiram que a participação no evento do Novembro Negro desse ano, trariam essa obra para ser apresentada para a escola, para os colegas”.

Alexsandra da Silva | Foto: Ed Santos / Acorda Cidade

A professora também destacou a importância que o livro traz dos problemas raciais serem estudados também pela branquitude, afinal, todos precisam se responsabilizar em combater este mal que é o racismo estrutural no país.

Uma das alunas da professora, Sofia, de 15 anos, foi uma das beneficiadas pelo conhecimento. A estudante que realizou recentemente o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), agradeceu a professora por tudo que aprendeu em sala de aula. Ela acredita que saiu muito bem desenvolvendo a redação que este ano teve como tema “Os desafios para a valorização da herança africana no Brasil”.

“Não é necessário só discutir negritude, mas também branquitude, o branco precisa entender o papel dele nesse processo de ir contra o racismo, de ser mais um para somar nessa luta, ela ficou extremamente feliz e se empenhou para que o trabalho hoje fosse uma enquete rápida, que eles vão apresentar aí, tentando trazer um pouco dessa essência do livro”, contou a professora.

Ana Sofia | Foto: Ed Santos / Acorda Cidade

Ana Sofia de Jesus, estudante do primeiro ano do ensino médio, citada pela professora, destacou como o projeto foi importante para ela, assim como todos os estudantes.

“A importância desse projeto para mim é principalmente a conscientização das pessoas brancas e negras também. Porque com essa conscientização, a gente vê que busca essa herança africana, dos povos originários e traz essa coisa da cultura negra, que é realmente de onde a gente veio. E para mim é uma coisa muito importante estudar autores negros, consumir conteúdos de negros para justamente cumprir essa valorização da herança”.

No evento, ela se apresentou trazendo uma música que falava sobre discriminação e trouxe também o livro de Djamila Ribeiro para reforçar intelectualmente, com argumentos reais, que este é um problema real e como a sociedade deve trabalhar para combater, principalmente consumindo autores negros que tem lugar de fala para trazer as vivências individuais e coletivas sobre o impacto do racismo no Brasil.

Foto: Ed Santos / Acorda Cidade

Ao Acorda Cidade, Murilo Vitor Simões de Freitas, presidente do Grêmio Estudantil, ressaltou a participação ativa dos alunos no planejamento e execução do evento.

“O evento vem trazer a cultura para o espaço dos estudantes, trazendo que eles venham a se desenvolver com desfiles, dança, as pessoas de religiões candomblescistas ou umbandistas, venham participar mais, que são religiões bem abafadas no nosso cotidiano e bem agredidas no nosso cotidiano também quanto brasileiros. Eu sou evangélico, mas não tenho nada contra essas pessoas, gosto muito também, está no meu coração cada um deles”.

Murilo Victor | Foto: Ed Santos / Acorda Cidade

Murilo explicou que o processo de criação foi realizado em parceria entre os professores, a coordenação e pedagógica e os alunos. Ele destacou a importância do evento para o desenvolvimento dos estudantes, no aprendizado ao respeito, à própria identidade brasileira, entre outros benefícios de se saber a sua história.

Foto: Ed Santos / Acorda Cidade

“A importância é trazer a cultura aos nossos estudantes, relembrando nossos antepassados, nossos avós, bisavós, que fizeram parte dessa história brasileira, que é um marco histórico e traz a importância dos nossos estudantes relembrar. Os estudantes gostam muito, desenvolvem muitas atividades nesse evento. Por exemplo, a gente teve 100 inscrições no desfile do Novembro Negro e se tivesse mais vagas, teria mais inscrição, desenvolveram peças, poesias e entre outras coisas também. É um bom engajamento”, disse o estudante.

Foto: Ed Santos / Acorda Cidade

Ele ainda acrescentou que espera que toda a comunidade escolar “entendam o quanto foi importante a negritude e é importante ainda no nosso Brasil, em nossa Bahia, em nosso país. Ele (evento) contribui mostrando às pessoas que o negro foi bastante escravizado, desgastado na sua época e que hoje eles desejam respeito que sempre deveriam ter naquela época”.

Foto: Ed Santos / Acorda Cidade

Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade

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