Feira de Santana

Como está a agricultura de Feira de Santana? Trabalhadores criticam falta de incentivo e investimento para o setor

Entre as reclamações, estão as dificuldades com baixo volume da safra.

Foto: Divulgação
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O agronegócio brasileiro está entre os principais pilares econômicos do País. Isso ocorre por conta dos incentivos de grandes corporações, e também pelo desenvolvimento das cidades que se sustentam a partir das atividades rurais, promovendo mais qualidade de vida para seus residentes e trabalhadores. Assim, é importante reconhecer a força do setor para o Brasil, e entender como ocorreu essa expansão de forma massiva, especialmente nos últimos anos.

Com a falta do agronegócio em diversos municípios da Bahia, a agricultura familiar ganha destaque no abastecimento de alimentos através da comercialização. Em Feira de Santana, apesar da produção escassa de grãos pela falta de sementes e investimentos, o cultivo de verdura e legumes continua sendo um atrativo para agricultores que vivem do solo.

Lucivância Gomes da Silva é agricultora, e atualmente está como diretora do Sindicato dos Trabalhadores Rurais e da Agricultura Familiar de Feira de Santana.

Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

Ao Acorda Cidade, ela contou que o setor enfrenta grandes dificuldades e lamenta não ter um ano de 2022, muito farto.

“Este ano nós estamos com uma grande dificuldades na colheita da safra, a gente acredita que não vai ser um ano farto por conta das sementes que infelizmente não estão com boas qualidades. Estamos recebendo muitas queixas dos agricultores que plantaram e não estão tendo resultados positivos. Nós que fazemos parte do Sindicato, estamos trabalhando sobre a questão das sementes crioulas, para que possamos ter uma boa produção. As sementes que nós recebemos da prefeitura, infelizmente não se adequaram ao nosso solo, não se adequam a nossa região e por isso que a cada ano, a situação vai ficando complicada e a safra só diminuindo”, relatou.

De acordo com Lucivânia, a maior parte dos produtos cultivados se dar pelo feijão e pelo milho.

“A nossa realidade aqui é mais o feijão e o milho, algumas comunidades até plantam a mandioca, batata, abóbora, feijão de corda, lá na Matinha por exemplo, Candeal, muita gente consegue cultivar esse material e depois comercializar no Centro de Abastecimento. A gente costuma fazer plantações no período de abril, maio, outras pessoas também já começam no mês de março, quando tem o dia 19, dia de São José, muita gente ainda segue aquela tradição, aquela costume, mas o plantio mesmo, a gente só faz nesse período de abril e maio”

Anita Gomes Borges, também é agricultora e moradora da Comunidade Vila Santa Inês, que fica às margens da BR-116 Norte, sentindo Serrinha. Segundo ela, todas as sementes foram plantada no mês de maio, mas infelizmente não houve germinação.

Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

“Eu cultivo mais feijão e milho, até plantava mandioca mas parei por conta da demanda, e também pelas dificuldades que estávamos tendo aqui com o cultivo. O nosso solo aqui é até bom, mas claro que se tiver uma boa adubação, quando o período é chuvoso, é uma maravilha, mas infelizmente o que nos prejudicou bastante, foram as sementes entregues pela prefeitura. Eu plantei o milho e o feijão entre os dias 15 e 20 de maio, mas não tive nada. Eu só vim perceber esse problema no meio do mês de junho, quando eu vi que o milho cresceu, mas não desenvolveu. Já olhei também em outras roças, pessoas que plantaram no mesmo período que o meu, e tiveram um desenvolvimento melhor do que o meu”, explicou.

Para a agricultora, não basta ter o ‘solo rico’, se não tiver uma semente de qualidade.

“Toda plantação necessita de cuidados, então precisa da adubação e quando chove, a terra fica ótima, mas se a semente não tiver boa qualidade, não adianta, mesmo que tenha a chuva”, disse.

Trabalhando no campo desde o 7 anos de idade junto com a mãe, hoje Creuza da Silva Dantas, já possui 57. Foi na ‘labuta’ de todos os dias, e acompanhando de perto o trabalho que era feito no campo, que o amor pela agricultura começou.

Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

Segundo ela, os produtores rurais que possuem as chamadas ‘sementes crioulas’, tiveram resultados positivos, comparado com as sementes fornecidas pela prefeitura.

“Eu posso dizer que esse ano estamos tendo bons resultados diante das constantes chuvas que estão tendo em nossa região. Quem plantou com as sementes crioulas, aquelas que guardamos de um ano para o outro, está tendo bons resultados, mas se plantou com essa da prefeitura, só prejuízo porque não germinou, os produtos estão pequenos, então não vai dar nada de bom”, informou.

Ao Acorda Cidade, Creuza contou que é através da agricultura familiar, que tira o sustento de toda a família.

“Isso aqui é o meu sustento. A partir de 7h30 já estou aqui no campo, levo até umas 12h, retorno para casa, comer o que Deus preparou, retorno aqui para o campo e levo até umas 17h. É daqui eu tiro o sustento da família, eu vivo da agricultura familiar, inclusive também fiz parte dessa feira virtual, porque tivemos a pandemia, mas toda semana eu tenho puba, o carimã que a gente tem o costume de chamar, tem galinha caipira, os ovos, aipim, frutas como o maracujá, acerola, tudo isso eu dou graças a Deus, que posso cultivar e comercializar”, destacou.

Diante dos relatos feitos pelos agricultores, o Acorda Cidade foi em busca de informações com a Secretaria de Agricultura, Recursos Hídricos e Desenvolvimento Rural de Feira de Santana.

Segundo o secretário, Pedro Américo, dois cenários contribuíram para que os produtos não germinassem da forma correta.

“Nós recebemos duas denúncias até agora de que a semente do milho, ela não brotou da forma como a gente gostaria. Nós temos aí dois cenários importantes, a semente é uma semente preparada para o plantio exclusivamente para o plantio, nós tivemos uma denúncia primeiro que uma grande parte dos agricultores consumiram o milho do feijão sem plantar, então para a gente é muito ruim e nós tivemos um cenário nesses últimos tempos, a população sabe a forma com que a chuva se deu neste período, foi uma forma diferenciada daquilo que historicamente a gente tem para o plantio do o feijão, que são semeaduras que a gente chama muito de sensíveis. Então essa semeadura, se você tiver muita chuva você tem problema, se você tiver pouca chuva você também tem problema”, disse.

Ainda de acordo com o secretário, foram identificados diferentes tipos de solo, o que pode ter provocado essa falta de safra.

“O nosso técnico fez avaliação dos locais onde não está havendo o desenvolvimento da planta por conta que nós temos em Feira de Santana, oito tipos de solo diferentes. Então nós temos os mais próximos da região do recôncavo que tem um perfil de solo diferenciado e temos também uma região mais próxima do semiárido, que essa região de Jaguara e Tiquaruçu, essas regiões mais para frente, tem um solo diferenciado, então isso naturalmente pode ter criado este problema e a equipe está analisando tudo isso”, informou à reportagem do Acorda Cidade.

Segundo o secretário Pedro Américo, o órgão está analisando uma forma de aproveitar as próprias sementes crioulas, que os agricultores já utilizam.

“Nós da secretaria, estamos propondo inclusive um modelo diferenciado para o próximo ano, nós passamos quase três anos sem entregar sementes para nenhuma agricultor da zona rural e neste ano nós entregamos a 15 mil agricultores. Então qual é a nossa proposta? Neste momento já que está identificado que nós temos oito tipos de solos diferentes e a gente sabe que nem toda semente que é plantada em cada solo, ela tem a capacidade de produzir, nós estamos chamando as associações de Feira de Santana, as associações rurais, produtores rurais, para que venham até a secretaria para que possamos estar recadastrando as associações com o objetivo de fazer o seguinte, nós queremos comprar a partir de agora as sementes que são adaptadas para o nosso solo, que é adaptada para o nosso clima, porque isso gera uma produtividade da semente. A gente consegue gerar renda dentro da própria comunidade, então a gente está propondo que as associações se cadastrem na secretaria, que elas montem o banco de sementes nas suas comunidades, e com esse banco de sementes, que vai ser testado, a prefeitura compra essas sementes da própria comunidade, e possa fazer esse processo de distribuição. Nós entendemos que com isso, a gente elimina um problema que a gente teve neste ano”, concluiu.

Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade.

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