Histórias

Ciclo do Tabaco promoveu a riqueza de muitos na região de Feira de Santana

A coluna Feira em História, assinada pelo jornalista Zadir Marques Porto, traz fatos históricos e curiosos sobre a cidade.

Ciclo do Tabaco
Foto: Arquivo/IBGE

Com a restrição ao uso do cigarro, considerado um produto altamente cancerígeno, o plantio do fumo praticamente desapareceu de várias regiões do estado, dentre elas a de Feira de Santana, onde o ciclo do tabaco floresceu desde o surgimento da vila, proporcionando o enriquecimento de numerosas famílias e trabalho para muita gente nas zonas rural e urbana.

Por conta da sua posição geográfica privilegiada no território baiano, passagem obrigatória para quem procedia do Norte com destino ao porto de Cachoeira, via de transposição obrigatória para a Bahia (assim era nominada Salvador, capital do estado), Feira de Santana logo passou a ser chamada de ‘terra das boiadas’, uma vez que era o roteiro comum de enormes manadas destinadas a abatedouros e açougues da capital. Ao lado do intenso tráfego de animais, e muito por conta dele, o comércio brotou como lírios à beira de uma fonte, o que resultou em um progresso sem precedentes. Feira de Santana chegou a ter o topônimo de “cidade comercial”.

Por conta dessa história deslumbrante, fica esquecido o ciclo do tabaco, ou ciclo do fumo, que de certo modo caminhou passo a passo ao lado das boiadas durante muito tempo. Há registros de que o casal Domingos Barbosa de Araújo e Ana Brandoa, proprietário das terras nos Olhos D’ Água, que deu origem à vila e depois à cidade de Feira de Santana, era fumicultor. Domingos Barbosa, detentor de título de tenente e dono de ampla gleba, a chamada Fazenda dos Olhos D’ Água, cultivava fumo, isso portanto no século XVIII.

Todavia, o ‘ciclo do tabaco’ se alargou durante o século XIX e início do século XX, contribuindo de forma decisiva para o desenvolvimento do nível econômico da cidade princesa e o enriquecimento de alguns coronéis, proprietários de amplas áreas rurais voltadas para a fumicultura, bem como comerciantes que adquiriam o produto para a revenda, sempre observando resultados financeiros respeitáveis.

Contribuía para isso a qualidade da folha de tabaco obtida nas áreas plantadas em distritos de Feira de Santana e São Gonçalo dos Campos, considerada a melhor existente no país, bem como em parte do Recôncavo, em especial os municípios de São Félix e Cachoeira, que tinham uma importante indústria de charutos, cujo produto era exportado para países da Europa. Esse extrativismo vegetal também apontava as folhas de tabaco obtidas em cultivos feirenses como da melhor qualidade, tanto assim que o produto era absorvido pelo mercado internacional.

Francisco Maria de Almeida, nascido em São Gonçalo e dono de terras em Feira, cultivou e comercializou fumo em folha para exportadores. Heráclito Dias Carvalho, apelidado Lolô, prefeito de Feira (1935/1937) e (1938/1943), fazendeiro em Tanquinho, foi um grande comerciante de fumo. Joaltino Silva foi outro destacado comerciante de fumo, com um grande armazém na Praça Froes da Mota, onde eram estocadas grandes quantidades de folha de tabaco, gerando emprego para muitos trabalhadores. Esse armazém funcionou durante mais de duas décadas, entre os anos de 1940 a 1970.

Outro conhecido comerciante de fumo foi o vereador João Mamona, dono de um amplo depósito na Rua de Aurora (Rua Desembargador Filinto Bastos). João Pedreira, rico fazendeiro de Humildes, que tem seu nome em uma praça central de Feira de Santana, é outro relacionado entre os ícones da exportação de fumo e comercialização de gado.

Rosendo Lopes, fazendeiro na comunidade de São Roque, foi outro respeitado exportador de fumo com um armazém instalado na Praça Piedade, próximo ao Cemitério com o mesmo nome. Tinha como sócios nesse negócio Francisco Maria de Almeida e Emetério Lopes. Vivaldo Romão de Almeida, de São Gonçalo, também mercantilizou fumo. Outro importante nome do ciclo do tabaco foi o coronel Agostinho Froes da Mota, representante da firma Luiz Barreto Filho e Companhia com sede em Salvador.

Coronel Adalberto Pereira, Alexandre Falcão, Bartolomeu Santos, Amadeu Saback Oliveira, Epifânio Araújo e Valentim José de Souza foram outros que marcaram presença nesse comércio através do plantio, compra e venda. O cultivo e o comércio do tabaco, que rendeu fortunas a vários fazendeiros e negociantes, também foi muito importante para o trabalhador rural que plantava o vegetal solanáceo da família ‘Nicotiana tabacum’ e para o urbano que atuava nos grandes armazéns com a missão de selecionar e classificar as folhas, que em seguida eram enfardadas e depois comercializadas e transportadas para as fábricas de cigarros e charutos em Salvador e outras partes do país.

Uma grande parte das folhas selecionadas era exportada. Em Feira de Santana, eram cerca de duas dezenas de armazéns de fumo. Dona Joana Maria Conceição, da Rua Nova, 82 anos de idade, aposentada, tem boas lembranças do armazém onde trabalhou até os anos finais da década de 1960. Ela destaca que trabalhava com carteira assinada, o que era fundamental na época. Apesar de possuir terras consideradas de ótima qualidade para o cultivo do fumo, há algum tempo essa atividade deixou de ser praticada na região de Feira de Santana, principalmente a partir das campanhas de restrição ao uso do tabaco, desencadeadas por órgãos do governo federal, considerando o produto altamente cancerígeno. Todavia, não se pode falar na história de Feira de Santana e do seu histórico crescimento, sem incluir esse importante capítulo que foi o ‘ciclo do tabaco’ ou o ‘ciclo do fumo’.

Por Zadir Marques Porto

As informações são da Secretaria de Comunicação Social

Siga o Acorda Cidade no Google Notícias e receba os principais destaques do dia. Participe também dos nossos canais no WhatsApp e Youtube e grupo de Telegram.

Inscrever-se
Notificar de
0 Comentários
mais recentes
mais antigos Mais votado
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários