Feira de Santana

Chefs de cozinha incentivam pessoas a desenvolverem dotes culinários durante a pandemia

Eles criaram o projeto 'No combate com os chefs', que apresentam receitas simples e com ingredientes fáceis que tem sido um grande sucesso nas redes sociais.

Rachel Pinto

A pandemia do coronavírus (Covid-19) e o fato do distanciamento social que fez com que muitas pessoas ficassem em casa para evitar a contaminação pelo vírus, trouxe também uma nova realidade de trabalho, lazer e relacionamentos no ambiente domiciliar.

O trabalho em muitos casos passou a ser remoto, o chamado home office, o estudo incorporou as regras do ensino à distância e as relações familiares estão reconfiguradas a manter à distância e evitar o contato físico. O lazer, que ajudava a extravasar a rotina, também precisou ser modificado e passou a ser associado a descoberta de hobbies e talentos.

A culinária tem sido uma atividade que está aparecendo forte neste cenário de pandemia, tanto como forma das pessoas cozinharem seu próprio alimento, economizarem e evitarem sair de casa para comprar alimento na rua, como também, como forma de distração, descoberta e conexão com experiências de vida.

Dois conhecidos chefs de cozinha que atuam em Feira de Santana, chef Iran Vivas e chef Luciana Soares, encontraram uma forma diferente se conectarem com as pessoas e com a cozinha neste período e contaram à reportagem do Acorda Cidade como tem sido esta atividade.

Eles criaram o projeto “No combate com os chefs’’, onde cada um faz uma receita com a mesma base de ingredientes e divulgam nas redes sociais o passo a passo de cada etapa. A iniciativa tem somado muitos simpatizantes, pessoas que se identificam com a culinária e outras que a partir deste momento resolveram se aventurar pela cozinha.

O chef Iran Vivas, que começou a sua história como chef de cozinha há 12 anos, disse que sua relação com a cozinha vem desde muito cedo, quando ainda era criança e em uma família cheia de irmãos, ele gostava de ajudar a mãe nas receitas familiares. Com a matriarca ele aprendeu a cozinhar e desenvolveu o amor por este universo. Na opinião dele, a afetividade é um dos principais ingredientes que não pode faltar em uma cozinha e no cenário atual de distanciamento social, esta mesma afetividade, tem confortado muitos corações.

Iran Vivas afirmou que sempre gostou de divulgar sobre o seu trabalho, as receitas nas redes sociais e a ideia da "No combate com os chefs", veio como uma forma de ajudar as pessoas a superarem esse período se aproximando mais da cozinha, dos sabores e inclusive de memórias vividas que tem relação com a culinária.

Foto: Arquivo Pessoal

“Sempre tive o hábito de registrar e divulgar o meu trabalho nas redes sociais e tenho muitos seguidores. Neste momento de pandemia, muitos deles contam que cozinhar tem ajudado muito a superar o distanciamento. Eles reaplicam as receitas e vão lembrando de histórias e de pessoas. Marcam outros amigos e assim, isso cria um movimento muito bacana”, disse.

O chef tem tido grande retorno dos seguidores nas redes sociais, principalmente quando apresenta receitas simples e que fizeram parte da infância das pessoas. Ele divulgou recentemente uma receita de um ovo de codorna coberto e foi sucesso absoluto entre os seguidores. Vários deles fizeram a receita, se lembraram de momentos vividos e se sentiram alegres ao reviverem momentos felizes através da comida.

Foto: Arquivo Pessoal

“As pessoas interagem bastante. Dão sugestões e eu acho isso extremamente interessante. São pessoas que sempre estão comentando e relatam o quanto tem sido bom esse contato. Sempre tenho o cuidado de adaptar, o cuidado do reaproveitamento do alimento no sentido de que o frango de meio dia, pode virar a torta salgada da noite, pode virar uma massa ao molho de frango, o lombo que usou meio dia, pode se transformar em uma esfirra. Temos que ter muito esse jogo de cintura nesse momento que é um momento crítico. Um momento que não podemos estar nos expondo e a gente pode sim, abrir a geladeira, olhar com criatividade e fazer muita coisa. Fico muito feliz quando as pessoas entram em contato”, comentou.

O chef, que também é professor de gastronomia, teve como aluna Luciana Soares, que é farmacêutica por formação, mas tornou-se chef de cozinha há seis anos. Ela já foi estagiária dele e ambos desenvolveram além de uma relação profissional, uma relação de amizade, carinho e muito afeto.

Luciana que já desenvolvia o projeto “Cozinhaterapia”, que compartilha momentos da cozinha com o seu filho Luizinho, com receitas fáceis para que as mamães possam fazer com os seus filhos, o convidou para juntos protagonizarem o projeto “No combate com os chefs”.

A iniciativa que não tem nenhum perfil de disputa é uma forma de mostrar as inúmeras possibilidades com os ingredientes e como é fundamental a criatividade na cozinha.

Iran afirma que tanto ele como Luciana buscam trazer ingredientes simples e fazer com que as pessoas usem produtos que têm em casa.

Foto: Arquivo Pessoal

“Ela me convidou para fazer parte junto com ela desse projeto. Com isso, chegou março, o período do distanciamento e nós não queríamos perder essa interação, com os nossos alunos, com os nossos clientes dos cursos e os nossos seguidores. Ela teve essa ideia do “No combate com os chefs", em que ela faz um prato e eu faço o mesmo prato, sempre usando a criatividade e a mesma base. Usamos os produtos que temos em casa para evitar a saída e a exposição. Fazemos coisas retrôs e tivemos também a participação do produtor de eventos Will Bitencourt, com receitas que nos remetem às coisas da infância. Outro dia fiz um sanduíche americano de quitute, um alimento que marcou muito a minha infância”, relatou.

Iran ressaltou que assim como o amor, o afeto manifestado através da cozinha, as receitas que ele tem feito durante o distanciamento social tem lhe levado para as lembranças do colo de sua mãe, principalmente e lhe trazem muita esperança.

“Eu acho que toda essa história da cozinha traz amor e no distanciamento tem me levado para o colo de minha mãe que está em Salvador. Cozinhar, lembrar de determinados pratos que eram feitos em casa. Isso traz muita esperança de que logo isso vai passar e será uma fase. Um grande aprendizado e nesse momento, nós estamos também aprendendo a interagir através da gastronomia”, frisou.

A chef Luciana Soares relatou que cozinhar sempre foi um refúgio e uma atividade muito prazerosa em sua vida. Hoje essa atividade é também uma profissão e ela ministra vários cursos de culinária na cidade. Tem um perfil na rede social Instagram, onde divulga um pouco do seu dia a dia e os pratos que faz, assim como várias dicas que atraem muitos seguidores.

Foto: Arquivo Pessoal

“Sou movida pelo amor que tenho pela gastronomia, e o quanto posso ajudar outras pessoas a descobrirem o quanto cozinhar faz bem. As redes sociais são a forma mais fácil e rápida de interagir com as pessoas e tenho focado nisso nos últimos anos. Com a pandemia esse foco em rede social acabou aumentando por que tive que interromper a programação de cursos presenciais. Aí foram surgindo várias ideias para estar mais perto dos meus alunos e seguidores e incentivar outras pessoas a aproveitarem esse momento de isolamento para praticar a cozinhaterapia. O número de seguidores tem aumentado, tudo isso me fez refletir e foram surgindo ideias para engajar as pessoas. O resultado superou todas as minhas expectativas”, contou.

Foto: Arquivo Pessoal

A chef observa que também está muito feliz com o retorno das pessoas. Recebe muitas mensagens e fotos dos pratos. As pessoas tiram dúvidas e apesar do distanciamento social, há uma interação muito grande. Segundo ela, quando mais simples as receitas, mais os seguidores se identificam e as preferidas são as receitas de pães e bolos.

Ela fez uma receita de um sequilho junto com o filho Luizinho e várias pessoas reaplicaram a receita em família, lembrando das reuniões entre parentes e festas da infância.

Foto: Arquivo Pessoal

Ela disse que o “No combate com os chefs”, que realiza junto com o amigo, o chef Iran Vivas, é uma forma divertida e simples de ambos compartilharem o conhecimento que têm da gastronomia.

“Trazemos um pouco do nosso dia a dia durante o isolamento. Focando em ingredientes de fácil acesso para que todos possam reproduzir as receitas em casa. Acredito que cozinhar é uma forma de resgatar o afeto e a esperança. Muitas pessoas estão sendo obrigadas a cozinhar por conta do isolamento, fechamento de restaurantes e contenção de despesas. Mas, já tenho ouvido muitos relatos do quanto isso tem feito bem nesse período. Cozinhar nos ajuda a controlar o estresse e ansiedade, desperta a criatividade e nos une, seja no fogão ou à mesa. Convido a todos para praticarem essa terapia”, pontuou.

Conheça mais sobre o trabalho dos chefs Iran Vivas e Luciana Soares através dos perfis o Instagram: @ iran_vivas e @omundodelu

Foto: Arquivo Pessoal

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