Ney Silva e Rachel Pinto
Além dos desafios para lidar com a covid-19, muitas pessoas que testam positivo para a doença, estão tendo que enfrentar também as reações negativas de outras pessoas, muitas vezes preconceituosas. Foi o que aconteceu com uma a enfermeira que prefere não se identificar, mas que relatou a sua experiência em entrevista ao Acorda Cidade.
Ela afirmou que testou positivo para o coronavírus e, após ter alguns sintomas da doença, procurou atendimento na Unidade de Pronto Atendimento (UPA), do bairro Mangabeira em Feira de Santana. Ela disse que foi atendida por uma moça que estava na recepção e a mesma chamou um enfermeiro para que lhe atendesse. O enfermeiro que estava a três metros de distância, por sua vez negou-se a se aproximar dela e retirou-se do local.
A enfermeira infectada pela covid-19 ficou muito triste com a situação que passou e comentou sobre a necessidade de profissionais de saúde se prepararem para atender pacientes com coronavírus de forma a seguir todos os protocolos de prevenção e saúde e também terem mais empatia pelo próximo.
“Eu achei a situação preconceituosa. É certo que muitas pessoas têm esse tipo de reação, mas eu fiquei indignada em ver um profissional da área de saúde se negar a se aproximar de mim. Se ele escolheu essa profissão, ele sabe que existe isso. Se hoje eu testei positivo, se eu estou dessa forma, foi por ajudar aos outros. Foi a profissão que eu escolhi e eu faço com amor. Uma pessoa dessa não pode estar na linha de frente, não pode estar nessa profissão de maneira alguma, porque quem testou positivo sabe o que está sentindo nesse momento e sofre ainda mais com o preconceito”, observou.
Campanha ‘Não julgue quem testou positivo para covid-19’
Para prevenir outras situações como a que relatou a enfermeira que testou positivo para covid-19, a Fundação Hospitalar de Feira de Santana, lançou a campanha, ‘Não julgue quem testou positivo para a covid-19’. A psicóloga organizacional, Miriam Leão, coordenadora da ação explicou como funciona a campanha e os cuidados que estão sendo tomados para intervir situações como esta diante do aumento do estresse e da ansiedade dos profissionais, que estão atuando na linha de frente de combate a doença.
“Diante do contexto atual de pandemia nós percebemos uma necessidade maior de acolher e intervir nesse processo de saúde mental desses profissionais. É natural ocorrer esse aumento de estresse e ansiedade dos profissionais. Juntamente com a coordenação de psicologia e todos os profissionais do setor, nós estruturamos o plantão da escuta. Esse plantão tem uma finalidade de atendimento clínico psicológico individualizado e tem caráter emergencial. Ele não tem finalidade terapêutica no quesito de aprofundamento da problemática do indivíduo. O objetivo primordial é trazer nesse momento acolhimento e abrir um espaço para escuta desses profissionais”, acrescentou.
Aumento das frustrações
De acordo com a psicóloga, além das frustrações já pertinentes a natureza em si, do próprio trabalhador na área de saúde, outras frustrações e questões emocionais passaram a surgir com a pandemia.
A campanha, através do plantão da escuta, busca também reforçar sobre o não julgamento das pessoas que testaram positivo para a covid-19.
“Estamos reforçando esse papel do colaborador, do colega de trabalho ser mais fraterno, de mandar mensagem, ligar, oferecer apoio, escuta. De estar acolhendo esse colega, de não alimentar comentários negativos sobre esse colega e desconstruir preconceito. O colega que testou positivo ele já está fragilizado pelo processo de estar diagnosticado”, finalizou.