Ney Silva e Gabriel Gonçalves
Novembro é o mês nacional da Consciência Negra e o mês que marca as lutas e conquistas do movimento, como também a valorização da identidade negra no combate contra o racismo.
Em entrevista ao Acorda Cidade, a cabeleireira Andrea Black, destacou a importância do mês, e como a população negra tem buscado cada vez mais afirmar suas raízes e identidade, principalmente através do cabelo e do visual.
"20 de novembro é um dia muito especial, mas na verdade, esse dia não pode ser lembrado apenas nesta época. Como sempre digo, é preciso que seja lembrado durante os 365 dias do ano para que possamos refletir em tudo que o nosso povo já passou e muitos que ainda passam", explicou.
Com mais de 20 anos no mercado de beleza, Andrea informou que o trabalho realizado é prazeroso, dando a oportunidade às mulheres negras estarem mais empoderadas diante a sociedade.
"Eu sou muito orgulhosa e satisfeita com o meu trabalho. Eu sempre explico as mulheres o porquê de usarem seus cabelos crespos, se aceitarem do jeito que são, para inibir o que a sociedade quer impedir. Meu objetivo é levar essa conscientização para essas meninas, e se a pessoa vai em uma entrevista de emprego, ela precisa entrar do jeito que o cabelo é, não precisa mudar para impressionar ninguém".
De acordo com Andrea, a representatividade negra não está apenas no cabelo, mas também em outros trabalhos como roupas e maquiagens direcionadas a negritude.
"Esse é um trabalho diferenciado que realizamos, mas temos outras mulheres aqui em Feira que também trabalham no sentido da negritude por causa dessa carência que o nosso povo teve. As mulheres empoderadas começaram a trabalhar justamente com maquiagens, roupas e os penteados", afirmou.
Foto: Arquivo Pessoal
Ainda no ano de 2020, a população negra sofre com discriminação, seja por conta da pele, por conta da roupa, ou até mesmo por conta do cabelo. A cabeleireira destacou que situações como estas, não podem fazer com que as pessoas desistam da luta, mas se fortaleçam e vivam dia após dia.
"A gente ainda sofre muito, seja pelo estilo do penteado que decidiu usar, pela roupa, e a maioria do povo julga pelo cabelo. Se ver um homem negro com cabelo black, já acha que pode ser marginal, se ver uma mulher negra com o cabelo lá em cima, já manda pentear o cabelo, mas eu sempre digo que nunca devemos desistir dessa luta. Estou há mais de 20 anos aqui nessa batalha vivendo dia após dia", informou.
Especialista em tranças e penteados afros, Andrea explicou que atende a todo tipo de público, e não somente mulheres negras procuram o seu serviço.
"Pessoas com pele clara chegam aqui e dizem, 'Andrea, eu quero trançar meu cabelo', eu digo que aqui está aberto para todo mundo, porque eu não posso excluir ninguém. Eu fazendo isso, vou me tornar uma intolerante também, e eu preciso fazer essa mudança. Meu nome artístico é Andrea Black, porque o meu cabelo me representa, isso aqui é minha identidade", finalizou.
Foto: Jesus Sampaio