Gabriel Gonçalves
Os bateristas e percursionistas que se apresentam junto com as bandas nos bares e restaurantes de Feira de Santana, entraram em contato com a produção do Acorda Cidade, para reclamarem sobre uma nova decisão que a prefeitura, através da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semmam), tomou na última segunda-feira (7).
Devido à poluição sonora, que segundo a Semmam, é causada pelos instrumentos, os profissionais ficarão proibidos de tocarem em ambientes próximos de residências.
Ao Acorda Cidade, Lucas que é percussionista, contou que o trabalho é como fonte de renda extra, mas com esta nova decisão, as dificuldades irão aumentar.
"Eu já venho enfrentando dificuldades com relação a poder tocar junto com meus amigos que possuem bandas. Alguns locais por exemplo, a gente não está podendo fazer mais o nosso trabalho, principalmente quem toca bateria e percussão. Acredito que o momento mais intenso da pandemia já passou, e os músicos precisam voltar a trabalhar, porque uma parte é beneficiada e a outra não? Infelizmente não tem como a gente entender estas decisões", contou.
Esposa de um baterista, uma internauta do Acorda Cidade que preferiu não se identificar, contou que com esta decisão, muitas pessoas serão prejudicadas.
"Eu fiquei sabendo dessa proibição dos bateristas e isso é muito contraditório, logo agora que está liberando os eventos. Como é que fica esta categoria? Muitas famílias desses bateristas irão passar por dificuldades, tive a informação que a voz e violão permanece, mas por qual motivo barrar aquela pessoa que trabalha com a bateria? Isso não envolve apenas uma pessoa, mas sim uma família que é sustentada por este profissional", lamentou.
O Acorda Cidade procurou a Secretaria Municipal de Meio Ambiente. De acordo com o chefe de fiscalização da Operação Feira Quer Silêncio, Camilo Cerqueira, a decisão tem como objetivo, diminuir a propagação de ruído que é causada pelo equipamento, permitindo assim, o sossego de moradores próximos.
Foto: Ed Santos/Acorda Cidade
"Tivemos uma reunião na última segunda-feira com os donos de bares, os proprietários de som, estas pessoas que alugam para colocar em eventos e estabelecimentos comerciais e posso dizer que foi uma reunião muito produtiva. Infelizmente a maioria das pessoas interessadas, que são os próprios músicos, não compareceram. Esta reunião teve como objetivo chamar as partes para conversar, informar sobre a lei, para que a partir desse momento, do entendimento deles, possamos realizar as nossas fiscalizações, multar e se for o caso, apreender os equipamentos. O que ficou definido nesta reunião, e inclusive não adianta colocar culpa em terceiros, porque os músicos falam que a culpa é do dono do bar, o dono do bar, diz que é culpa do técnico do som, então a gente nunca encontra um verdadeiro culpado. Nós instruímos que evitassem o uso da bateria tradicional, e que alguns músicos já estão aderindo a bateria eletrônica. Infelizmente por conta da intensidade que se bate, o ruído é muito grande causando o incômodo para os moradores que moram próximos destes bares", informou.
Ainda de acordo com Camilo Cerqueira, esta decisão não está relacionada à um decreto, mas sim, uma orientação, para que maiores sansões não sejam aplicadas.
"Nós somos um órgão fiscalizador e temos como obrigação notificar, multar e até mesmo interditar este estabelecimento comercial e os equipamentos utilizados. Isso não consta em decreto, mas é uma recomendação, pois diante da fiscalização que estamos fazendo, observamos que a poluição sonora ultrapassa o limite. Durante o dia, o permissível é de até 70 decibéis, já no período da noite, esse limite diminui para 60 decibéis, claro que existe uma margem de tolerância, mas tudo dentro de um limite, e por isso que estamos focando estas fiscalizações na região da Avenida Fraga Maia, devido ao alto número de casas residenciais próximas desses locais", destacou.
Durante uma fiscalização, Camilo Cerqueira foi autorizado a entrar em uma residência que fica próxima de um bar, e constatou que dentro de um dos quartos, o som chegava a ter 90 decibéis.
"A gente entende que as pessoas deveriam se preocupar em andar na legalidade, muitas vezes, as pessoas dizem que as fiscalizações são arbitrárias, são injustas, mas eles esquecem que existem pessoas que querem descansar depois do seu dia de trabalho. Existem recém-nascidos, existem pessoas enfermas e veja só, eu tive um relato interessante. As pessoas não gostam de se expor, mas durante a fiscalização, uma pessoa nos chamou para entrar na sua residência e a denúncia dela foi o seguinte, 'olha, a minha esposa ela tem câncer, ela toma morfina e está em estado terminal, e eu sei que ela vai morrer, ela só precisa dormir, eu quero que ela durma'. Então isso é emocionante porque quando a gente entrou na casa, ele autorizou a gente entrar, aferimos do quarto e deu quase 90 decibéis. Então aquele show que estava acontecendo e as pessoas se divertindo, na verdade o show também estava no quarto da pessoa. Isso se chama ruído de fundo, mas as pessoas não entendem, acham que a gente faz isso com todo prazer, com toda satisfação, mas isso é um erro e a gente precisa ter uma tolerância, e os pais de família querem trabalhar mas também querem descansar", concluiu.
Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade
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