Feira de Santana

Bancário de 80 anos relata desafios com tecnologia após ser readmitido em agência por ordem judicial

Entre os maiores desafios está em ter que lidar com Inteligência Artificial (IA) do banco.

Bancário Osmar Ferreira_ Foto Ney Silva Acorda Cidade
Foto: Ney Silva/ Acorda Cidade

No dia 26 de março deste ano, o idoso Osmar Ferreira, de 80 anos de idade, foi readmitido como bancário por ordem judicial para trabalhar em uma agência do Banco Bradesco, em Feira de Santana.

O bancário foi demitido do antigo Banco da Bahia, comprado pelo Bradesco, após ser preso em 8 de abril de 1964, um dia depois de completar 21 anos, durante o período da Ditadura Militar, por ter sido cofundador do Sindicato dos Bancários no município.

Bancário Osmar Ferreira_ Foto Divulgação Sindicato dos Bancários
Foto: Divulgação/ Sindicato dos Bancários

Com a criação da lei que instituiu a Comissão Nacional da Verdade em 2011, o bancário entrou com uma ação na Justiça pedindo reparação moral e indenização. A juíza do caso homologou um valor a ser pago pela instituição financeira de 5 milhões e 425 mil reais. No entanto, o banco recorreu, alegando que o idoso não tinha direito a receber esse dinheiro e sugeriu sua readmissão, que foi aceita pela Justiça.

Desde a sua readmissão, na agência da Rua Conselheiro Franco, Osmar Ferreira vem tentado se adaptar à sua nova rotina de trabalho. Em entrevista ao Acorda Cidade, ele revelou que não tem sido fácil e pretende ainda entrar com uma ação para anular a decisão judicial.

“Fui readmitido por ordem judicial, inclusive uma ordem falha, porque o meu direito é a reintegração com pagamento de todos os valores que deixei de receber do dia 20 de abril de 1964 até aqui, e a readmissão não me dá esse direito. Pretendo entrar ainda este mês com uma ação para anular essa decisão judicial. Houve uma recepção muito boa, os colegas do banco me homenagearam e eu fiquei muito feliz no dia 15 de maio passado quando eles oficializaram a minha readmissão e eu estou tentando aprender, fazendo cursos internos que são obrigatórios, mas vai ser muito difícil pra mim pois estou com 80 anos de idade, e talvez eu seja o bancário mais idoso do Brasil e do mundo em atividade”, contou à reportagem.

Bancário Osmar Ferreira_ Foto Ney Silva Acorda Cidade
Foto: Ney Silva/ Acorda Cidade

O maior desafio que o bancário precisa enfrentar é a tecnologia avançada e, principalmente, atividades em que precisa lidar com a Inteligência Artificial (IA) do banco.

“A tecnologia evoluiu bastante, não é fácil me adaptar. Não que eu não queira. É a dificuldade que tenho com as mudanças ocorridas na informática, que é a base de tudo hoje, e a Inteligência Artificial, que para mim é muito difícil de absorver. Na minha época, não tinha tecnologia nenhuma, eram máquinas de datilografia, que são sempre lembradas, as calculadoras de manivela, e hoje a tecnologia é outra. Os colegas são maravilhosos, são jovens e entendem minha luta. Eles me abraçaram”, confidenciou.

Diante das dificuldades no aprendizado e com as viagens diárias de Salvador, onde atualmente reside com a família, para Feira de Santana, o idoso considera abrir mão do cargo ou tentar uma transferência para a capital.

“Não sei se irei pedir demissão ou fazer um acordo com o banco. Está pesado viajar, porque resido em Salvador, optei por me apresentar para ser readmitido aqui em Feira na agência do Bradesco que substituiu a unidade onde fui preso em 1964, a Agência da Bahia. O Sindicato está se empenhando em me ajudar, inclusive, para tentar uma possível transferência para Salvador. Para vir para aqui estou pagando praticamente para cumprir minha jornada de trabalho, e não sei até quando vou aguentar essa despesa. Está muito difícil”, lamentou.

Ao observar tantas mudanças e comparar o trabalho que hoje ainda é executado nas agências, bem como a forma de atendimento ao público, com o modo de operação em outros países, Osmar Ferreira acredita que em pouco tempo a categoria bancária será extinta.

“A categoria bancária está em extinção, porque na Europa e em outros países desenvolvidos não têm agência bancária como aqui. Quando tem, são apenas dois funcionários, porque lá tudo é eletrônico, no cartão. Eu acredito que em 10 ou no máximo em 15 anos, no Brasil, tudo isso vai acabar. Infelizmente, vivemos em um país de desigualdade e analfabetismo. O que nós vemos nos bancos são as filas de pessoas humildes para receber benefícios sociais e da previdência, que não sabem nem colocar o cartão e digitar a senha, e por isso são roubados. Mas, isso tudo vai acabar”, prevê.

Com informações do repórter Ney Silva do Acorda Cidade.

Leia também: Justiça do Trabalho determina readmissão de bancário 59 anos depois de ser preso pela ditadura militar

Siga o Acorda Cidade no Google Notícias e receba os principais destaques do dia. Participe também dos nossos grupos no WhatsApp e Telegram

Inscrever-se
Notificar de
5 Comentários
mais recentes
mais antigos Mais votado
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários