Banca de revistas de Ciso, quase meio século de história

Mesmo com o declínio da leitura de revistas e outros impressos devido à internet, Ciso pretende continuar na atividade.

Ciso (Manuel Narciso Marinho da Natividade), da Banca de Revista
Foto: Divulgação

O dia 17 de setembro foi muito importante para Manuel Narciso Marinho da Natividade, mais conhecido como Ciso, dono de uma banca de revistas e jornais – uma das poucas ainda existentes em Feira de Santana, na Rua Conselheiro Franco, na esquina ao lado da agência do banco Itaú. Há 48 anos ele trabalha com revistas e livros que já foram lidos, além de vídeos, filmes e jornais.

Uma espécie de “sebo” que registra boa procura, apesar do avanço tecnológico que empurra as novas gerações para longe das publicações impressas e aceleradamente para o online. Ótimo meio-campista, foi titular do São Paulo de Feira, tanto da equipe amadora quanto da profissional, que disputou o campeonato baiano da segunda divisão. Ele vai driblando as dificuldades e não se queixa da vida.

Filho do mestre Manoel Narciso, desportista respeitado e fundador do Flamengo de Feira de Santana, Ciso desde cedo teve contato com livros que também lhe deram os primeiros ganhos. “Ainda garoto, eu comecei a vender revistas de faroeste (quadrinhos) nas matinês de domingo e segunda-feira dos cinemas Timbira e Irís. Formavam-se filas. Eu comecei assim e foi assim que ganhei dinheiro pela primeira vez”, rememora.

Adolescente, começou a trabalhar em bares e lanchonetes, mas a qualidade do seu futebol levou-o ao São Paulo, melhor equipe amadora da cidade, e logo ao Fluminense.

Aprovado pela comissão técnica, juntamente com Bacuri, Paixão e Laet, também do São Paulo, foi chamado pelo Dr. Alberto Oliveira, presidente do clube, que propôs pagar uma gratificação, já que o clube tinha muitos compromissos.

Foi quando o técnico Walter Miraglia chegou do Rio de Janeiro, em 1963, trazendo nove jogadores. “Preferi esquecer o futebol como atleta”, e assim ele voltou às revistas e jornais. Mas na banca, ele começou em 17 de setembro de 1976.

O 17 de setembro tem uma importância especial para ele, porque é a data de aniversário da irmã Sofia e o dia em que faleceu sua genitora, dona Hortência, em 1967. Em relação à venda de impressos, ele observa que na década de 1980 havia grande afluência de leitores, e a cidade tinha umas 15 bancas ou mais.

“Foi quando Wilson, que era carioca, salvo engano, assumiu a distribuidora e estabeleceu critérios que só traziam benefícios para ele. Muitos desistiram, aqui de Feira, de Serrinha, Rachão do Jacuípe, de toda a região. Eu resolvi continuar, mas vendendo revistas e livros velhos, ou usados”, explica.

Com o avanço da tecnologia, jornais, livros, revistas e demais formas de impressos “têm dado enormes passos para trás”, tanto assim que apenas duas bancas ainda abrem aos domingos. Mas ainda há um bom número de leitores que procuram revistas de faroeste, livros de bolso, livros de autoajuda, romances e quadrinhos infantis.

“Mas quem tem não quer se desfazer, assim fico sem poder vender.” Há também boa procura por revistas especializadas em esportes, como a Revista do Esporte, Globo Esportivo, Esporte Ilustrado e outras que há muito deixaram de circular.

Sem definir nomes nem os autores, relata que muitos leitores procuram romances e ele conta com um bom número de exemplares na banca, acrescentando que livros da ficcionista Agatha Christie, famosa no gênero policial, têm muita procura, assim como exemplares da Bíblia.

Todavia, os jornais, como A Tarde, que “era o carro-chefe das vendas”, hoje raramente têm procura, tanto assim que ele não se preocupa em colocá-los na banca. Quando ele começou, a banca ficava em frente ao Edifício Mandacaru, mas houve uma reforma ou reordenamento no centro da cidade, e o prefeito José Raimundo de Azevedo decidiu retirar todas as bancas que estavam sobre os passeios.

“Ele recomendou que eu colocasse a banca aqui. Depois, houve uma reforma no Banco Itaú e o gerente me procurou. Eu expliquei que tinha sido autorizado pelo prefeito José Raimundo e, graças a Deus, está tudo bem até hoje!” Independente de vender livros, Ciso gosta de ler e ressalta a importância da leitura. “Um bom livro proporciona conhecimentos, momentos felizes, verdadeiras viagens pelo mundo”.

Mesmo com o declínio da leitura de jornais e outros impressos devido à internet, Ciso pretende continuar na atividade a que se dedica há muito tempo com satisfação e ressalta que há muitos livros de conteúdos interessantes que deveriam ser lidos por muito mais pessoas. Aos 77 anos de idade, além dos impressos e da família, tem outra paixão: o vermelho e preto das camisas do Flamengo do Rio de Janeiro e do Vitória, de Salvador.

Esta reportagem faz parte da série de matérias especiais elaboradas pela Secretaria de Comunicação Social destacando personalidades feirenses, monumentos, órgãos e empresas que fazem parte da história do município. A iniciativa comemora o aniversário de 191 anos de emancipação político-administrativa de Feira de Santana, celebrado em 18 de setembro.

Por: Zadir Marques Porto

Informações da Secretaria Municipal de Comunicação Secom

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