Laiane Cruz
Neste domingo (9), segundo do mês de maio, é celebrado o Dia das Mães. É um tempo para celebrar a vida, reunir os filhos à volta da mesa, ou caso isso não seja possível receber ao menos, aquele telefonema ou mensagem agradecendo pelo amor e dedicação daquela que lhe trouxe à luz.
Mas, para a professora e empresária Quezia Carneiro o Dia das Mães esse ano terá um lugar a menos na mesa, um abraço a menos, um carinho a menos. É que hoje completam-se seis meses da morte do seu filho mais velho, Gabriel Souza Carneiro Silva, que morreu aos 21 anos de idade, no dia 9 de novembro do ano passado, em um grave acidente de carro, na Avenida João Durval.
Gabriel havia saído de uma festa com dois primos durante a madrugada daquele dia. Juntos, pegaram carona com um amigo, que também estava no evento, e bebia com eles. O jovem, que era estudante de engenharia mecânica e jogador do time de futebol americano Red Bulls de Feira de Santana, viu seus sonhos serem interrompidos naquele acidente.
Foto: Arquivo Pessoal
Em entrevista ao Acorda Cidade, Quezia relembrou os momentos após receber a notícia da morte do filho.
“Eu estava dormindo em casa, 8h da manhã eu recebi a notícia. O pai dele sempre vinha buscar o irmão dele mais novo pra ir pra escola. Ele chegou às 8 horas da manhã e meu filho Dudu, que é o de 18 anos, me chamou e falou: ‘Meu pai quer falar com a senhora’, e eu acordei assustada. Quando eu cheguei à cozinha, meu ex-marido estava chorando e falou: ‘Quezia aconteceu um acidente e parece que Gabriel faleceu’. Na hora eu perdi o chão e comecei a chorar, dizendo que era mentira. Me ajoelhei e pedi a Deus para aquilo não ser verdade”, relatou.
Ela contou ao Acorda Cidade que saiu correndo para o hospital e horas depois teve a confirmação de que Gabriel não havia resistido aos ferimentos. Já os primos dele tiveram algumas lesões, mas logo receberam alta.
“Ele estava em companhia de dois primos, em uma festa, e beberam muito, de 4h da tarde até as 4h da manhã, e depois cometeram essa loucura de pegar o carro. A gente viu nos vídeos a violência do acidente, que foi tudo imprudência. Foi velocidade demais, e a impressão que eu tenho pelos vídeos é que eles estavam brincando e desatentos. Eu ouvi até algumas conversas de pessoas dizendo que eles estavam fazendo um vídeo. Que tinha um vídeo deles fazendo um vídeo dentro carro, mas esse desapareceu. Então eu suponho que eles estavam filmando, brincando e aí ficaram desatentos e de repente quando viram a moto não conseguiram desviar.”
Inspiração para outras mães
Quézia e seus outros dois filhos | Foto: Arquivo Pessoal
A partir daquele dia, a professora e até então empresária do ramo de confecções viu sua vida virar de cabeça para baixo. Passados os primeiros dias do luto, ela passou a utilizar a sua rede social como uma ferramenta para espalhar amor, fé e esperança para outras mães que também perderam seus filhos ou que ainda os têm ao seu lado. Para isso, começou a compartilhar textos cheios de emoção, com relatos sobre a sua dor, a luta diária por superação, conselhos, mas acima de tudo, a crença de que tudo na vida acontece debaixo de um propósito.
“Algumas pessoas me enxergam como inspiração, talvez porque desde o início eu entreguei a minha dor a Jesus. Sou evangélica e, naquele momento de dor, eu tinha duas escolhas: uma era brigar e culpar a Deus, culpar os outros jovens, os primos, culpar a vida e me sentir vítima, mas eu escolhi o outro lado e fui buscar entender que tudo na vida acontece com propósito. Eu acredito na bíblia, acredito em Deus, e Ele falou muito comigo. Nesse momento de luto, eu passei 15 dias reclusa, pedi aos meus amigos que não viessem me visitar, fiquei no meu quarto, vivi o meu luto, mas com fé. Lia a bíblia, orava constantemente e Deus falava muito comigo. Orava muito pedindo a Deus para cuidar dos meus filhos, e se Deus levou meu filho pra ele, porque os filhos não são nossos, são de Deus, é porque ele quis algo melhor”, afirmou Quezia.
Mesmo tendo desejado um futuro cheio de bênçãos e vitórias para seu filho, ela crê que o futuro pertence somente a Deus, e Ele mais do que ninguém sabe o que nos espera à frente.
“Deus sabe o que vem no futuro. Eu como mãe desejava um futuro bom, era ele se formar na faculdade, ser um engenheiro mecânico, ter uma família linda, mas talvez não fosse esse o futuro que o esperava. Talvez ele se envolvesse com drogas, com violência, eu não sei o que o esperava. E se Deus permitiu que o meu filho partisse foi por amor ao meu filho, e por amor a mim. E por eu começar a divulgar isso tudo, essa mensagem de fé, muitas mulheres que viviam o luto começaram a me procurar e perguntavam como eu tinha essa força. E eu falo que não tenho essa força, eu simplesmente caí, mas caí no colo da pessoa certa, que foi o de Jesus, e aí eu fui acolhida e me senti com a possibilidade de me reconstruir e estou tentando ainda.”
Sobre a sensação de passar o primeiro Dia das Mães sem a presença de Gabriel ao seu lado, Quézia disse que sente um vazio, pois foi um pedaço que se foi. Porém, ela também entende que a presença dos outros filhos ameniza essa dor.
“Eu sou mãe de três, mas no momento só vai ter dois. Eu acredito que meu filho vai estar comigo, ele não vai estar em carne e osso, presente aqui comigo, mas vai estar no meu coração, como lembrança eterna, e o tanto que o amor é eterno, a saudade também será eterna.”
Após a morte de Gabriel, Quézia decidiu fechar a loja de roupas e passou a se dedicar mais ao lar e à família. Segundo ela, a perda de um dos filhos fez com que ela enxergasse que poucas coisas na vida tinham realmente valor e passou a ficar mais presente com os filhos que ficaram.
“Eu acho que eu fiquei uma mãe mais presente. Quando a gente perde uma coisa que é valiosa demais, a gente começa a entender que muita coisa que eu buscava perde um pouco o sentido. Levei muito tempo pra manter minha loja física, tive uma loja de moda feminina e eu corria, mexia no instagram, fazia anúncios patrocinados, fazia provadores, era uma vida muito corrida. E depois disso tudo perdeu tanto o sentido, que eu resolvi fechar a loja e ficar mais em casa. Hoje eles têm uma mãe que está mais em casa, mais presente, e vou tentar não ser aquela mãe com medo de tudo, vou deixar que eles vivam um pouco da vida também, que experimentem, mas dá medo de perder. Dá medo quando o de 18 anos quer sair de carro, viajar sozinho, vai dar medo quando eles quiserem viver e voar com as suas próprias asas, eu vou sentir muito medo. Mas as coisas acontecem somente quando Deus permite e eu tenho que confiar”, salientou.
Lembranças
Foto: Arquivo Pessoal
A professora revelou ao Acorda Cidade que ainda luta para superar a perda. Ela contou que dorme em oração todas as noites, pedindo a Deus para confortar seu coração.
“A sensação é que ele estava aqui ontem, eu ainda não acredito que isso aconteceu. Acho que Deus conforta o coração da mãe nesse sentido de fazer um pouco de amnésia, porque se eu sentisse essa dor que eu sinto o tempo inteiro, eu não ia conseguir. Deus me dá lapsos de memória e, às vezes, eu passo o dia inteiro sem lembrar que meu filho foi embora. E quando eu lembro, principalmente à noite, vem o momento do sono, passa todo o filme na minha cabeça, lembro dele criança, dele aqui, as últimas conversas, as conversas de whatsapp, do dia do enterro, a minha despedida, e vou pedindo pra Deus me tirar essas lembranças pra eu poder dormir.”
Ser mãe
Para Quézia Carneiro, ser mãe é renúncia, é abrir mão, mas também uma sensação de completude.
Foto: Arquivo Pessoal
“Eu não consigo me enxergar mulher inteira, sem ser mãe. Então é viver um paradoxo o tempo inteiro. Ser mãe é essa vida de alegria e de tristeza, de surpresas, felicidade e pavor. A gente passa por isso o tempo inteiro. E a gente vai vivendo essa montanha russa de sentimentos. Eu tenho hoje um blog feminino, pois depois que a loja fechou, eu uso minha rede social pra falar sobre muita coisa e essa semana eu estou falando muito sobre mãe e sobre a mãe real, que sofre, que perde filho, que luta pelo filho por adoção, a mãe de filho autista, a que tem filho deficiente, porque às vezes a gente romantiza demais a maternidade.”
Durante a entrevista ao Acorda Cidade, a professora deixou ainda uma mensagem de fé para todas as mães que estejam enfrentando alguma dificuldade e também aquelas que ainda não conseguiram trazer uma mensagem de fé para seus filhos.
“A mensagem é confiar em Deus, entregar a ele todas as suas aflições, os seus medos, porque em tudo há um propósito. E para as outras mães, independente de ter perdido ou não um filho, eu dou um conselho que eu não fiz, é que independente da religião que elas tenham, que elas coloquem a fé no coração dos seus filhos. O jovem hoje precisa ouvir falar de Deus, independente de igreja, ser católico ou evangélico. E Gabriel era um pouco cético, tudo dele era muito lógico. Ele olhava pra mim e dizia que iria curtir a vida dele e quanto tivesse 35 anos iria pra igreja, mas às vezes a gente não tem esse tempo todo. Então, que as pessoas procurem a Deus hoje mesmo e falem de Deus para os seus filhos”, completou.
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Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade.