Na comunidade da Fazenda Jenipapo, no distrito Maria Quitéria, em Feira de Santana, Dona Braúlia celebra seus 100 anos de vida. Nascida em São Vicente, hoje conhecido como distrito de Tiquaruçu, no dia 26 de março de 1924, ela cresceu em um ambiente simples, moldado pela devoção à Sagrada Família, especialmente ao Deus Menino. Essa devoção foi o ponto de partida para uma trajetória que transformou não apenas sua vida, mas a de toda a comunidade ao seu redor.
Dona Braúlia é fundadora da primeira Capela da região e doou o terreno onde hoje está localizada a Igreja da Sagrada Família, além de uma escola, atualmente desativada. Sua vida, marcada pela fé e dedicação, fez dela uma das primeiras romeiras do Km 13 e uma das responsáveis pela catequese da comunidade da região. Sua lucidez e memória impressionam, e sua história, cuidadosamente registrada pela família, é uma inspiração para todos.
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A vida e a fé de Dona Braúlia
Com uma voz forte e uma resposta firme na ponta da língua, Dona Braúlia conversou com a reportagem do Acorda Cidade demonstrando muita confiança, força e alegria em suas palavras. Aos 100 anos de idade, celebrados este ano, ela demonstra uma lucidez surpreendente e um coração cheio de gratidão por tudo que viveu e ainda tem para viver.
Questionada sobre suas memórias, ela sorriu e disse que não se lembrava de quase nada, mas, logo voltaram as lembranças do tempo em que seus pais a trouxeram lá do sertão de Jequié. Apesar das dificuldades naturais de uma longa vida, ela demonstra uma força interior alimentada pela fé.
“Minhas alegrias eram cantar presépio, rezar na igreja. Tudo aqui foi eu que fiz e ajudei o povo”.
Um legado para as futuras gerações
Aos 100 anos, Dona Braúlia sabe bem a importância e o significado de seu trabalho. Através da fé, da educação, da cultura e do empenho pela comunidade, ela contribuiu de forma significativa para a formação de muitas pessoas.
“Eu cheguei aqui nessa comunidade, não tinha nada, quase nada. Só tinha o terreno puro. Aí eu inventei de fazer a igreja, presépio, festa, e está assim hoje. Graças a Deus, olha o que eu fiz, isso foi eu que fiz, a minha igreja, a escola, tudo foi eu”, disse em entrevista ao Acorda Cidade.
Até os dias de hoje, rezar é uma das atividades que mais lhe trazem alegria. Ao ser perguntada sobre o segredo para alcançar os 100 anos com saúde e lucidez, Dona Braúlia respondeu: “A saúde é pouquíssima”, brincou. Em seguida, afirmou: “Cantava, ia à igreja, cantava presépios, cheganças”. Esse é o segredo.
O legado de Dona Braúlia transcende o tempo e inspira as futuras gerações com sua força, vitalidade e proatividade. Ainda em entrevista ao Acorda Cidade, ela deixou uma mensagem que ecoa com a mesma força e simplicidade que guiaram sua vida.
“Eu gostaria que tomassem conta da igreja, para ajudar, rezar, cantar. Tudo aqui é do meu povo. A gente ajuda tudo aqui”, declarou.
Sua única filha, Teresinha Vitória de Jesus, relembra com carinho o papel fundamental de sua mãe na formação da comunidade. Ela recorda como a família chegou à comunidade trazendo muita fé para todos.
“Quando ela veio morar aqui na Fazenda Jenipapo, só tinha eu. Ela me teve num lugar chamado Baixa das Canas, que fica perto de São Vicente. Minha avó comprou esse terreno todo e passou o nome dela. Veio ela, meu pai e eu. Aí eu fui crescendo na comunidade, e ela sempre devota de São José, da Sagrada Família, dos meninos principalmente, a devoção dela era mais com Deus Menino. Ela começou a rezar as novenas em casa, que era simples, sem piso. Ela começou a chamar os vizinhos, as crianças, para rezar a novena a Deus Menino. Ela disse que fez uma promessa a Deus Menino e começou a fazer as novenas na casa dela. Depois disso, ela falou assim: ‘Eu tenho que fazer a capela de Deus Menino, a minha promessa'”, contou.
A primeira capela foi erguida com paredes de adobo e contou com mutirões organizados por Dona Braúlia e os vizinhos. No mês de novembro, após uma chuva de trovoadas, a igrejinha que todos já estavam acostumados caiu. Depois da queda, devido às fortes chuvas, uma nova construção foi realizada, dessa vez com apoio da prefeitura e materiais mais resistentes. Hoje, a capela é um símbolo de fé e união para toda a comunidade.
Teresinha relembra que passou 32 anos morando em Salvador. Nesse período, sua filha tomou conta da comunidade, inclusive das rezas e novenas que a avó realizava. Como uma boa filha, à casa torna. Após retornar para a comunidade, sua filha decidiu lhe passar o bastão novamente.
“Eu fiquei 14 anos como coordenadora dessa comunidade. Depois que eu fui coordenadora, juntei com o pessoal do dízimo e aí comecei a botar piso nas paredes, forro, luz, tudo direitinho. E hoje está aí, como o senhor vê, essa capela linda e maravilhosa. E ela ficou mais feliz ainda”, contou Teresinha em entrevista ao Acorda Cidade.
Segundo Teresinha, Dona Braúlia realizava o ‘Baile do Presépio’ e as festas de reisado, uma tradição antiga que perpetua na cultura até os dias de hoje. Ela colocava as ‘moças jovens’ para ensaiar, para fazer a festa em homenagem ao Deus Menino, celebrado no Natal. Essas meninas se tornaram grandes mulheres, que hoje, boa parte delas já partiram, deixando saudades.
Com informações do repórter Paulo José do Acorda Cidade
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