Gabriel Gonçalves
Entre abril e maio de 2021, o custo médio da cesta básica de alimentos aumentou em 14 cidades e diminuiu em outras duas, de acordo com a Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos, realizada mensalmente pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) em 17 capitais.
Entre as cidades do Norte Nordeste, as que registraram menor custo foram Aracaju com R$ 468,43 e Salvador com R$ 470,14. O último levantamento feito em Feira de Santana pelo Programa Conhecendo a Economia Feirense da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs), apontou que o valor da cesta básica em julho teve um aumento de 1,75% comparado ao mês de junho, elevando o valor para R$ 429,30.
Em entrevista ao Acorda Cidade, a coordenadora do programa Márcia Pedreira, explicou que a cesta básica é composta por 12 itens com base nos valores nutritivos.
"A cesta básica foi definida pelo Decreto Lei nº 299/1938 e é composta por 12 produtos, como o arroz, feijão, farinha, carne, óleo, café, leite, açúcar, pão, manteiga, banana e tomate. Os produtos foram selecionados com base nos valores nutritivos determinados, contendo quantidades balanceadas de proteínas, calorias, ferro, cálcio e fósforo que são suficientes para o sustento e bem-estar de um trabalhador adulto", disse.
De acordo com Márcia Pedreira, cerca de 45 estabelecimentos fazem parte do processo de pesquisa, sendo dividido em 16 bairros da cidade. De acordo com ela, entre julho de 2020 e julho de 2021, houve um aumento na cesta básica de 15,85%.
"Nosso programa é desenvolvido por uma equipe de professores e alunos do curso de Economia da Uefs e levanta mensalmente os preços dos produtos da cesta básica nos estabelecimentos, como supermercados, padarias, açougues e feiras. Atualmente, essa pesquisa é feita em 45 estabelecimentos em cerca de 16 bairros da cidade. Entre julho de 2020 e julho deste ano, o aumento acumulado da cesta básica em Feira de Santana foi de 15,85%, passando de R$ 370,50 para R$ 429,23", afirmou.
Para o aposentado Racene dos Santos Zahreddiene, é necessário pesquisar bastante os preços dos alimentos nos estabelecimentos da cidade, principalmente pelas variações que cada item tem sofrido.
Foto: Ed Santos/Acorda Cidade
"A cesta básica é muito variada, tem cesta básica por exemplo que é mais barata, porém não é vantagem comprar por conta dos produtos que estão inclusos nela. Então para realmente elaborar uma cesta básica com produtos que sejam de qualidade, é necessário sair de estabelecimento em estabelecimento. Eu faço, fazendo esse levantamento para saber onde posso pegar", disse.
Embora seja uma prática para driblar os altos preços dos itens da cesta básica, o aposentado Racene informou a reportagem do Acorda Cidade, que nem sempre é vantagem sair de local em local fazendo busca de preço, pois o que economiza no alimento, se gasta no combustível.
"Precisa pesquisar bastante, porque existem muitas divergências de preços, um valor em um supermercado, outro valor em outro estabelecimento. Tem coisa que é menos, tem coisa que é mais. Uma das saídas que utilizo também, é a questão de promoção e cada supermercado tem um dia variado com ofertas, então você pode optar por esta opção, mas quando precisa sair de supermercado em supermercado, as vezes não compensa porque você gasta tempo, você gasta de combustível e o dinheiro também", destacou.
Segundo Rubem Porto, gerente de compras da Rede Bem Barato em Feira de Santana, o aumento da gasolina, do dólar, de insumos, refletem diretamente na alta dos preços do alimento também. De acordo com ele, mesmo com as mudanças que estão acontecendo frequentemente, os preços são repassados para os clientes de forma gradativa.
Foto: Ed Santos/Acorda Cidade
"O aumento do combustível, dos insumos, o aumento do dólar influi direto nessa relação e a indústria acaba repassando para a gente, que é comerciante. Mas o detalhe maior, é que o Bem Barato não trabalha dessa forma de receber o aumento e repassar de vez, a gente trabalha com um estoque regulador e vamos analisando o mercado a cada dia e vamos repassando aos poucos", afirmou.
De acordo com Rubem, derivados do leite, são os maiores vilões presentes na cesta básica e informou que todo mês, há um reajuste de preço.
"Todo mês tem aumento, a indústria repassa todo mês e agora mesmo na próxima segunda-feira, vamos ter um aumento de 12% no café e mais 5,30% no leite líquido. Posso até dizer que os derivados do leite, são os maiores vilões da cesta básica pela escassez no sul do país e isso influem direto no preço", explicou.
Segundo o economista e professor da Uefs, René Becker, o valor da cesta básica afeta muito mais as famílias que vivem com apenas um salário mínimo. De acordo com ele, o valores estão aumentando a cada ano sobretudo por fatores internos e externos.
Foto: Ed Santos/Acorda Cidade
"Essa cesta básica tem uma função muito mais perversa para aquele que tem uma renda menor, porque imagine um assalariado que recebe apenas um salário mínimo e a participação desta cesta básica, corresponde a 41%, ou seja, não sobra quase nenhum recurso para esta família dar continuidade com sua vida de forma digna. Esse preço depende de alguns fatores internos e externos, como por exemplo, a queda do real em relação ao dólar, o aumento do produto que é importado, a frustração da saca que estamos tendo agora com as geadas no sul do Brasil e consequentemente, teremos uma queda na produção desses insumos e isso vai refletir diretamente no valor da cesta básica", informou ao Acorda Cidade.
Para o economista, o valor ideal de uma cesta básica não deve ultrapassar 15% do salário mínimo.
"Esse valor deveria ser o mínimo possível e não ultrapassasse 15% do valor do salário mínimo, porque quem ganha um salário mínimo, além dos alimentos, precisa pagar energia que está tendo um reajuste acima da normalidade, tem que pagar água e outros gastos que são necessários para a vida", concluiu.
Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade.