Feira de Santana

Ainda em estado de choque, moradores do residencial Iguatemi relembram desespero das vítimas do incêndio

Ainda muito abalados com o fato, moradores relembram os momentos de desespero das vítimas e as principais dificuldades com o resgate.

Rachel Pinto

Dois dias depois do incêndio que aconteceu no Residencial Iguatemi, no bairro Mangabeira, em Feira de Santana, a reportagem do Acorda Cidade voltou ao local e, além de vestígios do fogo na entrada e nas paredes do prédio, encontrou um clima de muita tristeza, pavor e também o sentimento de muita solidariedade e amparo entre os moradores.

A tragédia na madrugada de terça-feira (4) deixou três pessoas mortas e cinco feridas. A jovem Bárbara Braz Pereira, de 20 anos, morreu no local e foi sepultada nesta quinta-feira (6). A mãe de Bárbara, Nelcione Souza Braz, continua internada no Hospital Geral do Estado (HGE), em Salvador, e teve 90% do corpo queimado. 

Ainda muito abalados com o fato, moradores relembram os momentos de desespero das vítimas e as principais dificuldades com o resgate. O morador Edson Carlos, que ajudou a salvar muitas pessoas do incêndio, se emociona toda vez que é abordado sobre o assunto. Ele disse que não consegue dormir desde que tudo aconteceu e espera nunca mais na vida vivenciar algo parecido.

Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

“Eu ouvi os primeiros pipocos e acho que foram os disjuntores. Ouvi alguém pedindo socorro e quando eu desci me deparei com meus amigos Léo e Luciano. Fizemos uma equipe e enquanto Léo tentava arrancar uma das grades, eu tentava acalmar duas pessoas que queriam se jogar do terceiro andar. Outro amigo que trabalha em uma empresa de TV a cabo tem uma escada grande e então pegamos essa escada e amarramos outra escada a ela com uma corda para que ela pudesse chegar até os andares. Léo levou um corte profundo e ficou sem força no braço. O fogo foi se espalhando cada vez mais e a gente tentando jogar água. Colocamos a escada e conseguimos tirar uma família. Fomos para o outro lado e tiramos mais algumas pessoas. Conseguimos tirar os últimos pelo segundo andar, onde não tinha acesso à grade e se não fosse uma equipe que montamos seria difícil. Tinha muitas pessoas que estavam se preocupando em tirar foto e querendo filmar”, disse.

Edson relatou que teve contato com as primeiras pessoas que saíram queimadas. Entre elas, a jovem Bárbara e uma senhora chamada Emília. Segundo ele, Bárbara e a mãe estavam desesperadas. Elas moravam no primeiro andar e, muito aflitas, na tentativa de conseguirem se salvar, atravessaram as chamas.

“Bárbara desceu embrulhada em um lençol e nesse momento tinha muita água no chão. As motos que estavam na parte de baixo explodiram e assim ela recebeu todo aquele vapor e não resistiu. Com a explosão das motos, o fogo chegou até o quarto andar do prédio. Não invadiu os apartamentos porque a maioria estava com as portas fechadas”, acrescentou.

O morador contou ainda que foi muito triste ver a vizinha Emília em chamas. Muito emocionado, ele lamentou ver a amiga tão machucada.

Dona Emília e as filhas também receberam o vapor da implosão das motos. Ela ficou paralisada. Foi uma coisa muito feia e havia ali muita emoção. O resgate que teve foi só a gente aqui. Eu creio que se o bombeiro tivesse chegado um pouco mais cedo tinha diminuído um pouco da fumaça e tranquilizado as vítimas. Eu sinto muito por tudo. Dona Emília mesmo era uma pessoa muito doce, gente boa, trabalhadora. Nós aqui somos unidos, amigos, brincamos, conversamos com todos com respeito e com amor”, frisou.

Edson está sem conseguir dormir pelo trauma que vivenciou e também porque precisa tomar conta de móveis e objetos para que não sejam levados por vândalos. Ele apelou para que a polícia possa enviar viaturas ao local, reforce a segurança e tranquilize os moradores.

Auxílio moradia de R$ 300 e dificuldades

Depois do incêndio, o prédio encontra-se sem água, sem energia elétrica e alguns moradores procuraram abrigo na casa de amigos e parentes. Edson Carlos comentou que o governo disponibilizou um auxílio moradia no valor de R$ 300, para ser usado com o aluguel de residências provisórias, mas estas precisam estar legalizadas e com todos os impostos pagos. Para ele, essas condições dificultam ainda mais e o que resta aos moradores é se ajeitarem pelas casas de pessoas próximas.

Leandro Santos da Silva, que também participou do resgate de moradores e vítimas de incêndio no residencial, relembrou os momentos de aflição causados pelas chamas. No calor das emoções, ajudando uma família a se salvar do fogo, ele se acidentou e cortou o braço em uma janela de vidro. Teve um ferimento profundo, mas disse que nesse momento só pensava em ajudar.

Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

“Eu estava saindo para trabalhar em companhia da minha esposa, que ia para academia. Eu ouvi os primeiros gritos de socorro e até achei que era uma briga de casal. Quando eu avistei a fumaça, vi que era um incêndio. O fogo estava alto e dando curto na rede elétrica. Eu me aproximei do bloco e vi uma família presa em um apartamento pedindo socorro. Consegui quebrar a grade e me cortei. Perdi a força do braço, mas os vizinhos com a escada conseguiram tirar as pessoas pela janela. O meu único pensamento era ajudar. Infelizmente todos ainda estão traumatizados e em estado de choque”, afirmou.

Com o incêndio, houve um curto-circuito na rede elétrica e todos os contadores de energia ficaram danificados com o fogo.

Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

No meio da dor e da tristeza, os moradores do Residencial Iguatemi, tentam seguir a vida em frente. A solidariedade está se transformando em força e esperança de dias melhores.

Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade.

 

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