Laiane Cruz
Comerciantes e moradores do Distrito de Maria Quitéria, popularmente conhecido como São José, em Feira de Santana, estão insatisfeitos com a possibilidade de cancelamento dos festejos juninos na localidade este ano. Já são dois anos sem a realização festa, em virtude da pandemia da covid-19. Por conta disso, a comunidade organizou um abaixo-assinado online, que já conta com mais de 100 assinaturas pedindo à prefeitura a tradição seja mantida.
Moradora do distrito há quase 20 anos, Carla Verônica da Silva destacou que o São João de São João é uma tradição local de mais de 30 anos e que não pode deixar de existir.
Foto: Ed Santos/ Acorda Cidade
“Todos os moradores e algumas pessoas filhas daqui, mas que moram mora, vêm com os festejos juninos para a casa dos seus familiares, para estarem juntos nessa festa, que é uma tradição de 30 anos. Para a comunidade, o São João é de uma grandeza que vai além da economia e de lucros para o comércio de Feira, é uma cultura. E eles não têm o direito de dizer que não têm condições de fazer esses festejos, porque é uma tradição de muitos anos. Os barraqueiros, pessoas que aguardam o ano todo, esperavam dois anos por causa da dificuldade da pandemia, mas com o passar do tempo e a evolução da ciência, a maioria das pessoas já tomou a terceira dose da vacina, e é claro que gera renda para os comerciantes”, protestou.
Foto: Ed Santos/ Acorda Cidade
Para o comerciante Ivandson da Silva Oliveira, que também mora em São José há 19 anos, não há justificativa para a não realização do evento. Para ele o que falta é planejamento por parte do município.
“O São João já tem muito tempo que é realizado aqui, mas por conta da pandemia já tem dois anos sem os festejos. Em 2019, a prefeitura fez uma festa bem fraca comparado ao que o nosso distrito merece, alegando dificuldades na prefeitura. Essa dificuldade toda de trazer uma atração que gere uma renda maior para o distrito é decorrente da própria prefeitura, por falta de planejamento. Porque já tem muito tempo que não se traz uma atração boa para aqui, e a gente questiona por que a prefeitura coloca atrações de peso no distrito de Humildes e aqui em São José coloca atrações fracas. Até a cervejaria não quer mais patrocinar nossa festa por conta disso. A gente tem a consciência de que teve todo esse período da covid, e a prefeitura tinha que suspender não só os festejos juninos, como todas as outras festas. Mas, agora que foi tudo liberado e tem muita gente que já está vacinada até com a terceira dose, e existem festas em vários lugares, a gente acha que não se justifica o prefeito não fazer os festejos em São José este ano. Ele teria condições sim se fizesse um projeto legal de fazer uma festa boa, como o distrito merece”, opinou o comerciante.
Ivandson da Silva Oliveira questionou ainda o motivo da prefeitura preferir realizar a Micareta ao invés do São João, que também já faz parte da cultura local e movimenta todo o comércio.
“Se não tem verba suficiente foi porque não se organizou. Não sei que preconceito o prefeito de Feira tem com nosso distrito, mas cada dia que se passa está ficando cada vez mais decadente. A respeito da festa, creio que ele não quer fazer. Eu ouvi em uma reportagem ele dizer que a Micareta traria emprego e renda, e o São João não iria trazer essa renda. Eu quero saber quem está se empregando e qual empresa está se beneficiando referente a isso, porque o São João de São José mobiliza o comércio em geral, de roupas, alimentos, a indústria em geral. Em termos de estrutura, a prefeitura já tem o seu catálogo, de toldos, de palco e tudo, e se ele quisesse realmente economizar, já teria feito um palco fixo aqui no distrito, na praça, para não ter essa despesa anual”, questionou.
Foto: Ed Santos/ Acorda Cidade
Proprietário de uma loja de produtos de informática, o morador Marcos Joseph ressaltou que participa do São João há muitos anos e relembrou o período em o São João no distrito chegava a durar cinco dias.
“Eu tenho meu comércio e participo há anos do São João. Meu pai também já teve bar, quando o São João durava cinco dias, e hoje eu olho o prefeito falar que não tem verba, mas tem R$ 9 milhões para a micareta. Em Ipuaçu vai ter uma festa de três dias, e por que o São João de São José não pode? O São Pedro de Humildes também, ele não se manifestou. Se se organizasse antes em todo esse período da pandemia, daria para fazer a Micareta e o São João. Todos dos arredores vêm para aqui, montam suas barracas, vêm vender seus doces na praça, é o único período que as pessoas se organizam para ganhar uma renda extra. O prefeito não precisava colocar bandas caras, mas poderia colocar o forró pé-de-serra”, cobrou.
Em entrevista ao Acorda Cidade, o prefeito Colbert Martins afirmou que protocolou um edital junto ao governo do estado, para concorrer à liberação de recursos para o São João em cidades da Bahia.O resultado do certame ainda não foi publicado, e a realização dos festejos estaria condicionada ao repasse desse dinheiro.
“Eu entrei no governo do estado solicitando no edital que venham recursos para que possamos fazer o São João. Parece que o limite máximo é R$ 140 mil. Eu já repeti e estou repetindo novamente para a comunidade de São José: a prefeitura de Feira de Santana apresentou uma proposta e a Câmara cortou R$ 2 milhões para a Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer, então nós não temos o recurso suficiente para fazer o São João com a estrutura que tinha. Se tivermos que contratar alguns grupos de forró para fazer alguma coisa bem nossa, isso aí nós vamos fazer, mas aquela estrutura de palco, barraca, aqui nós não temos condições financeiras de fazer, em decorrência dos cortes feitos pela Câmara Municipal de Feira de Santana”, afirmou o prefeito.
Ele reiterou, ainda, que se a prefeitura tiver que escolher bancar uma festa grande, a preferência é pela Micareta, que na avaliação dele irá gerar mais emprego e renda para a cidade.
“A micareta é a festa que mais cresceu em Feira de Santana e que ultrapassou a nossas fronteiras, portanto, eu acho que se tivermos que fazer uma aposta, eu acho que a micareta seja a melhor opção, talvez, eu ainda não posso afirmar, espero que possa ser de qualquer forma. O São João está muito caro, os preços das bandas estão lá em cima, o Ministério Público também está em cima acompanhando tudo, e se nós tivermos que optar, eu acho que é melhor optar pela festa que mais gera emprego, que mais gera renda”, reforçou.
Em relação à festa que possivelmente será realizada no distrito Governador João Durval (Ipuaçu), o secretário de Cultura, Esporte e Lazer, Jairo Carneiro, informou que se trata da Festa do Vaqueiro, que ocorre tradicionalmente no final do mês de maio, porém também não está confirmada.
Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade.
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