Não é esporte e nem arte marcial. Também não tem competições entre os lutadores. Ainda pouco conhecido pela maioria das pessoas no estado da Bahia, assim como em Feira de Santana, o Krav Magá é um sistema de defesa pessoal israelense, que une técnicas de luta e golpes contra ataques a faca, arma de fogo, bastões, entre outras formas de agressão.
Muita gente não sabe, mas nesta quarta-feira (18), é comemorado o Dia Nacional do Krav Magá. A data comemorativa foi aprovada pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania da Câmara dos Deputados, em 2018. O Projeto de Lei é de autoria do deputado Acelino Popó.
O Krav Magá chegou ao Brasil nos anos 90, através do Grão Mestre israelense Kobi Lichtenstein. Ele foi o responsável por apresentá-lo a civis e militares no país. Em Feira de Santana, cada vez mais pessoas estão se interessando por essa arte de defesa pessoal.
Há 7 anos, a professora Gabriela Farias, de 43 anos, se interessou pelo Krav Magá e desde então não parou de especializar. Recentemente, ela alcançou a faixa preta e se tornou a primeira mulher da Bahia a receber esse título.
“Tudo começou através de um convite que meu esposo Tadeu me fez para poder participar de uma atividade física. Eu era totalmente sedentária e achei bem interessante associar o exercício para cuidar da minha saúde e também aprender movimentos que viessem me ajudar a me defender nesse dia a dia tão violento que a gente vive”, contou.
Mesmo sendo um esporte violento, Gabriela Farias aceitou o desafio.
“A gente consegue aprender movimentos que venham nos ajudar a se defender dessa violência que está aí hoje. A gente descobre que através de uma caneta, a gente pode se defender, através de uma garrafinha de água, a gente consegue descobrir aonde vão ser executados os movimentos que mobilizem e afastem aquela pessoa que quer praticar o mal e fazer algo de ruim para você”, afirmou.
Em novembro do ano passado, a professora, o esposo Tadeu Cordeiro, instrutor na Academia I.P.A.M, e mais um aluno, participaram em Goiânia (GO) do X Congresso Internacional de Krav Magá e Kapap realizado pela Federação Brasileira de Krav Magá e Kapap (FBKMK), que reuniu praticantes do Brasil inteiro e de outros países.
“Daqui da academia foram dois homens e só eu de mulher participando do evento de formação em faixa preta de Krav Magá. O maior desafio foi participar do exame. Foram mais de 30 horas lá em Goiânia, tivemos testes tanto físicos quanto psicológicos, que para mim o psicológico foi terrível, de te levar ao extremo ali, de você ter que ficar acordado, ter uma alimentação restrita, praticando, executando os movimentos e sendo avaliado, para ver se você estava realmente apto a pegar essa faixa e estar passando todo o conhecimento para os alunos. Hoje eu sou representante do esporte na Bahia. Sou a primeira mulher na Bahia faixa preta formada pela FBKMK, aqui pelo IPAN, que é a instituição aqui da academia”, destacou.
Para a professora, representar o estado neste nível é uma emoção muito grande. “Estar em meio a mais de 50 homens, como participante, se igualando a eles no que está acontecendo, a gente vê que é bastante gratificante e valeu a pena o esforço realmente. Para o exame a gente treinava mais de cinco horas diariamente, todos os dias, de domingo a domingo, mas a nossa rotina de treino não é tão assustadora, ela leva no máximo duas horas, aonde a gente faz a parte física, depois a gente vem executando os movimentos e é bem prazeroso”, contou.
O instrutor de Krav Magá Tadeu Cordeiro, 46 anos, proprietário da Academia I.P.A.M, em Feira de Santana, explicou que o Krav Magá não é algo novo, mas também não é tão comum de ser encontrado nas academias.
“Foi um sistema de luta desenvolvido pelo Exército de Israel para combate corpo a corpo. O Krav Magá é um esporte agressivo, sem normas, sem dogmas, sem regras, então não existe competição dentro dele por conta disso. Nós treinamos nossas defesas contra as ameaças de faca, arma de fogo, bastões, e utilizamos técnicas de projeções e torções, desde rasgar os olhos, bater nas partes genitais do oponente, para se livrar daquela situação naquele momento”, explicou.
Segundo Tadeu Cordeiro, atualmente a procura por mulheres por esse sistema de defesa tem crescido muito em Feira de Santana.
“Infelizmente, ocorre muita agressão contra as mulheres, que tem procurado esse método de treinamento, para que no momento de uma agressão ela venha a se livrar daquela situação. A gente treina para salvaguardar nossas vidas e dos nossos familiares, então o Krav Magá preza é a vida de quem o pratica. Hoje aqui em Feira a gente é a única academia que traz esse curso de formação. Nós formamos instrutores de outras cidades e esses formandos passam um ano em treinamento. São de cidades como Irecê, Itaberaba, Berimbau, Conceição do Jacuípe, Camaçari e Salvador, aonde a gente tem pessoas que praticam e hoje ministram aulas nessas regiões. E cada vez mais a gente está ampliando”, informou o instrutor.
Geralmente, esses instrutores são graduados em outras modalidades de luta, como o Karatê, o Judô, Jiu-Jitsu, Muay Thai, explicou o instrutor.
“Eles nos procuram para dar um treinamento de 11 meses, para saírem como instrutores, e a gente possa difundir e divulgar mais esse sistema de defesa pessoal, que é tão bom, mas pouca gente conhece na nossa região. O Krav Magá começa com a faixa branca, depois vem a amarela, a laranja, verde, azul, marrom e preta. (…) A mudança de faixa depende muito do nível técnico do aluno, no qual a gente vai trabalhando com ele, e em média de cinco a seis meses acontece o primeiro exame, e se ele realmente dominar essas técnicas que são exigidas para a primeira graduação. Depois vai aumentando para 8 meses, 1 ano, e o processo total é de 7 anos para chegar à faixa preta”, informou.
Tadeu Cordeiro contou que ele começou a praticar o Krav Magá em 2014 através do convite de um amigo.
“Fui até Aracaju, desenvolvi esse treinamento lá e gostei muito. Em 2015, participei de alguns treinamentos com nosso mestre em Goiânia, aonde recebi a autorização para ser monitor, depois para instrutor, e estou até hoje. Sou faixa preta 2º Dan e único representante aqui da nossa região. Já fui três vezes para Israel fazer o treinamento, em 2016, 2019 e 2022, depois da pandemia, e este ano estamos com a programação de ir novamente, entre o mês de março e abril, aonde passaremos 15 dias em treinamento com os maiores mestres de todo o mundo desse sistema de defesa”, informou ao Acorda Cidade.
Ele enfatizou que o Krav Magá reúne as melhores técnicas de outras modalidades e agrega dentro dele.
“A gente não segue só uma direção. A gente trabalha desde o Box, Jiu-jitsu, Judô, karatê, Muay Thai. De todas as modalidades, a gente vai agregando ao nosso conhecimento e à nossa realidade. Não é muito comum, ainda é pouco divulgado, pouca gente conhece, e esse ano tive a oportunidade de formar minha esposa como a primeira faixa preta da Bahia, minha filha também pratica e vai se formar instrutora, então a família toda pratica, treina Karatê e o Krav Magá”, relatou.
Em 2023, a procura pelo sistema de defesa aumentou na academia de Tadeu e ele comemorou esse resultado e a curiosidade de mais pessoas querem conhecer as técnicas.
“Dentro da academia temos um número legal de alunos que praticam. A procura esse ano começou em alta, estou feliz por isso, que o pessoal esteja buscando, porque apesar de não ser novo, muita gente não conhece e não é normal de achar como o Karatê, o Judô, o Box, em nossa cidade. O pessoal fica muito curioso em fazer uma aula experimental para saber como é”, contou.
Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade
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