Toque Esportivo

Após o coma, pugilista volta ao boxe e mira revanche com algoz

Da luta de 24 de abril de 2004, no hotel Unique --em São Paulo, Fábio diz se lembrar que segurou até o nono round um combate que teria sido desleal antes, durante e depois do gongo final

Acorda Cidade

Com só duas derrotas em 24 lutas, o meio-pesado Fábio Garrido, 31, quase abandonou a carreira em 2004, quando entrou em coma devido a uma lesão cerebral sofrida em uma luta contra Mário Soares, o Marinho. Após seis anos longe dos ringues, período em que foi segurança particular, retomou a carreira e já vislumbra uma revanche contra o algoz.

Da luta de 24 de abril de 2004, no hotel Unique –em São Paulo, Fábio diz se lembrar que segurou até o nono round um combate que teria sido desleal antes, durante e depois do gongo final.

"Fiquei no único vestiário que não tinha chuveiro e ligaram o ar-condicionado para que eu sentisse frio. Na luta, levei cotovelada, cabeçada e, quando reclamava perdia pontos", diz Garrido.

Os últimos dois golpes que sofrera, um gancho e um cruzado –este, quando o juiz estava com o braço entre os dois rivais, não foram decisivos para a lesão cerebral que quase o fez abandonar a carreira.

"Os médicos me disseram que me machuquei na queda. Depois descobri que o ringue não tinha tatame para amortecer a queda", afirma Garrido.

Após três dias em coma induzido, Garrido diz ter assinado documentos que não sabia o que eram e acabou processando o adversário –que também era o promotor do evento.

"Meu pai processou o Marinho. Hoje, pensando melhor, eu não o processaria como lutador mas como organizador daquele evento. Não acho antiético lutar em um evento promovido por mim, mas tomaria todos os cuidados", diz Garrido.

Mauro José da Silva, atual presidente da CBBoxe (Confederação Brasileira de Boxe) –entidade que supervisionou o evento em que Garrido se lesionou, disse que o evento tinha todas as condições de segurança para ser realizado.

"Tinha até mais do que o necessário. Eram duas ambulâncias equipadas e médicos de plantão", diz Silva.

Além da falta de estrutura do evento, Garrido também reclama ter sido alvo de racismo após a luta. "Naquela luta, fiz tatuagens falsas com as marcas de meus patrocinadores. O Marinho disse para o meu pai que eu parecia um "macaquinho todo enfeitado", afirma o pugilista.

Após o coma e inúmeras consultas médicas, Garrido foi atrás de um tratamento especializado para voltar ao esporte. "Os médicos diziam que eu não poderia voltar ao boxe. Fiz um tratamento particular e gastei mais de R$ 100 mil. A dívida está lá, e estamos tentando o dinheiro na justiça".

RETORNO

Em 2005, o Garrido tentou retomar a carreira numa luta contra o lutador chamado de Cowboy. O combate ficou marcado por declarações de Cowboy de que não golpeava a cabeça de Garrido por conta da lesão.

Na ocasião, o retorno acabou sendo frustado por falta de patrocinadores e Garrido foi trabalhar como segurança particular para um empresa que terceiriza serviços. Por mais de cinco anos, foi vigilante de empresas como Bauducco e Macro [atacadista de alimentos].

Mas o que o pugilista sonhava era retomar a carreira no esporte e conseguiu em março de 2010. "Voltei a competir para valer. Estou completamente recuperado, sem sequelas. Só tomo o cuidado de levar todos os exames atualizados para a luta".

Desde o retorno, foram quatro combates –três vitórias e uma derrota. No último, acabou derrotado pelo colombiano Brinatty Maquilon. A luta foi embaixo do viaduto, organizada pelo pai, Nilson Garrido –que mantêm um projeto social sob viadutos de São Paulo.

"Voltei a lutar porque amo o boxe. É difícil ganhar dinheiro lutando. Hoje, paga-se em média R$ 1.000 a R$ 1.500 [por luta]. Em quase dez anos de carreira, já cheguei a ganhar R$ 500 para lutar", afirma o pugilista.

Agora, um dos seus próximos passos pode ser desafiar Marinho para uma espécie de revanche da luta de 2004. "Seria bom para mim e para ele. Iríamos bater recordes de arrecadação, e a divulgação seria muito boa. As pessoas adoram histórias de superação, e quer mais superação do que a minha?", afirma o pugilista. As informações são do Folha

Inscrever-se
Notificar de
0 Comentários
mais recentes
mais antigos Mais votado
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários