Gabriel Gonçalves
Na atual edição do reality show BBB 21 da Rede Globo, muitos assuntos gerados dentro da casa entre os participantes causaram grandes questionamentos entre a população brasileira e quem acompanha o programa. Em razão deste fato, o professor de Estética e Filosofia da Arte na Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs), Charliston Pablo do Nascimento, decidiu escrever um artigo sobre a violência militante radical no BBB 21.
De acordo com ele, a militância tóxica é um termo criado por ele próprio e expressa um comportamento que já vem sendo praticado há um bom tempo, mas só agora no reality show ficou em evidência para toda população.
"Esse tipo de militância está se fazendo presente depois que o ex-participante Lucas Penteado passou a sofrer a partir de uma ação da parte dele ao abordar de maneira muito machista uma mulher perguntando com quem ela iria ficar na casa. Apesar de ter pedido desculpas, o Lucas passou a ser taxado como abusador, ele que é negro, bissexual e de periferia, passou a ser discriminado pesadamente na casa sendo excluído e ainda com esse rótulo de abusador. Naquele momento, ele sofreu militância que chamo de tóxica. Isso corresponde à perda por parte dos militantes do sentimento de empatia. Eu penso no outro e respeito o outro por aquilo que ele é e não por aquilo que eu quero que ele seja e infelizmente a perda desses sentimentos partem de grupos militantes", explicou.
Foto: Ney Silva/Acorda Cidade
O texto escrito pelo professor Charliston Pablo tem como objetivo homenagear o ex-participante que desistiu de concorrer à premiação. Segundo ele, o público que estava acompanhando a trajetória de Lucas Penteado se comoveu pela situação, como um jovem negro estava sendo excluído daquele meio.
"Eu batizei esse ensaio justamente de 'BBB 21 e a superexposição da Militância Tóxica', apesar de trazer à tona um termo novo e que estava pensando em um evento que já acontece há bastante tempo e que muita gente vem compreendendo e sentindo afinidade em razão do que aconteceu com o Lucas do BBB. Ele tinha em seu perfil 178 mil seguidores e depois que ele passou a sofrer a violência, discriminação e ser objetificado na casa, ou seja, considerado apenas como um objeto, esse número de seguidores subiu para nove milhões, um crescimento gigantesco e ocorreu em razão das pessoas sentirem a afinidade, não só pelo sofrimento, mas também por terem sofrido com a violência desse tipo", destacou o professor ao Acorda Cidade.
Charliston, que nunca foi telespectador assíduo do reality show, explicou que ao tomar conhecimento dos fatos que estavam acontecendo, começou a sentir na pele o que Lucas Penteado estava passando.
"Eu me senti na pele dele por ter passado pelo mesmo tipo de problema e por ter vivenciado várias e várias ocorrências em que colegas ou professores sofreram algum tipo de abuso ou tortura psicológica ou rotulação no sentido mais negativo por terem feito algum tipo de afirmação ou algum tipo de posicionamento", disse.
Para o professor de Filosofia da Arte, rotular uma pessoa é como tirar a humanidade da outra pessoa, simplificando apenas em um rótulo.
"No meu caso por exemplo, eu sou um cara gordo, simplificado a isso, eu sou 'o gordo', e todas as minhas outras qualidades, vivências e experiências são retiradas de jogo por conta desse termo. Às vezes, a gente até brinca com a questão do sujeito dizer 'e aí gordinho' e a outra pessoa aceitar como brincadeira, mas quando existe a militância tóxica, como uma rotulação, é como tirar a humanidade daquela pessoa tornando em espécie de objeto que pode ser manipulado por outro", finalizou.
Com informações do repórter Ney Silva do Acorda Cidade