Cinema
Filme com Fábio Porchat tira sarro da mania nacional de fazer concurso
Gênero de maior sucesso no cinema nacional, a comédia ganha mais um forte candidato ao sucesso com a estreia, hoje, do filme O Concurso
Acorda Cidade
Em O Concurso, comédia que estreia hoje nos cinemas, quatro finalistas concorrem à disputada vaga de juiz federal. Eles têm apenas mais um exame pela frente. É a temida prova oral. Mas, como se não bastasse a dificuldade de enfrentar os excelentíssimos senhores da banca cara a cara, os candidatos ainda vão ser convencidos pelo malandro da turma, o carioca Caio, personagem de Danton Mello, 38 anos, a se aventurar pelo submundo do Rio para conseguir o gabarito.
Os outros concurseiros são Rogério Carlos (Fábio Porchat, 30), Bernardino (Rodrigo Pandolfo, 28) e Freitas (Anderson di Rizzi, 33), que são, respectivamente, das cidades de Pelotas, no Rio Grande do Sul, Piraporinha, São Paulo, e Milagres, no Ceará.
O filme é dirigido por Pedro Vasconcelos, 38, que tem uma carreira extensa na televisão e já dirigiu as novelas Malhação, A Favorita e Amor Eterno Amor, entre outras na TV Globo. Além disso, atuou em produções da emissora nos anos 90, como Vamp, Fera Ferida e A Próxima Vítima. Só agora, porém, ele estreia como diretor de cinema.
Em entrevista coletiva realizada em Salvador na última terça, o produtor LG Tubaldini Júnior, ou Tuba, contou que resolveu convidar Vasconcelos por seu histórico de dar atenção à direção de atores. Também estiveram presentes na coletiva os atores Fábio Porchat e o baiano Érico Brás, 34, que vive o travesti Roberval, par romântico do personagem de Porchat.
Encontros
O roteiro, assinado em parceria entre Tuba e Leonardo Levis, foi fruto de três anos de pesquisa com concurseiros. O quarteto vive encontros inusitados no Rio em busca das respostas para a prova. O religioso Freitas vai encontrar a “mandinga master”. Na verdade, um gato sagrado, com um ferimento nojento na cabeça, que ele precisa louvar. Na trama, ele é casado com Mariana, interpretada por Carol Castro, 29.
Bernardinho é um nerd clássico, filhinho da mamãe e virgem. Ele reencontra sua namorada da adolescência, a sexy atiradora de facas Martinha Pinel, personagem de Sabrina Sato, 32. “A Martinha é de Piraporinha, mesma cidade do Bernardo, e é apaixonada por ele desde criança. O pai dela é atirador de facas e a mãe é contorcionista. Ela é apaixonante e doida. O Bernardo tem medo dela, mas na verdade ela age assim por ser tão apaixonada por ele”, conta Sabrina.
A apresentadora do programa Pânico na TV faz sua estreia no cinema e comenta: “Quando eu li o roteiro do filme, eu já ri muito. Eu me diverti muito filmando as cenas do passado da Martinha e do Bernardo. Sempre tive vontade de fazer cinema e, apesar de ter sido o meu primeiro filme, fui muito bem recebida, com carinho, e vou sentir saudade”.
Enrustido
O humorista Fábio Porchat é um dos maiores destaques do elenco. Ele incorpora o gaúcho Rogério Carlos, que é pressionado pelo pai a seguir a carreira jurídica e ser muito macho. O ator contou que uma das maiores dificuldades para encenar o personagem foi controlar sua mania de mexer as mãos o tempo todo. “Decidi fazer o Rogério Carlos com as mãos sempre coladas ao corpo, justamente para mostrar que ele é um cara enrustido”.
Para Porchat, a maior jornada dos personagens é a descoberta de quem realmente são. “Às vezes não é passar em um concurso que te deixa feliz, e sim ser gay na praia de Ipanema”, brincou. “Você está lá, com cílios postiços e lantejoulas nas pálpebras, e aí alguém grita – almoço. Não é mole comer frango montado”, gracejou. Érico Brás completou: “Tem que ser muito macho para ser travesti”.
Beijo gay
As filmagens de O Concurso deixaram o público carioca em polvorosa quando Porchat e Brás gravaram uma cena de beijo na praia de Ipanema. “Na hora que a gente viu, tinha umas cem pessoas nos olhando, sem entender direito o que estava acontecendo. Publicaram até que eu estava beijando um moreno misterioso”, disse Porchat, que também declarou ser a favor do beijo gay na TV. “Sou a favor do beijo, mas o telespectador não está preparado. Fiz um vídeo no meu canal Porta dos Fundos com um beijo gay, o povo entrava lá para xingar”.
Ao falar sobre como está lidando com essa fama recente, que veio com o sucesso do canal no Youtube e com a participação na série global A Grande Família, Porchat aponta como principal incômodo a incapacidade de passar despercebido. “Agora, ficou mais difícil sentar no banco da praça e observar o que acontece no cotidiano sem ser notado. E isso me dá material para fazer humor. Mas acabo dando um jeito de dar uma espiada nas pessoas mesmo assim”.
O roteiro de O Concurso lembra Se Beber Não Case, filme americano que fez sucesso com a fórmula de quatro caras saindo pelas baladas da cidade, consumindo álcool e se metendo em confusões. Na entrevista, elenco e produtor admitiram a semelhança. Mas também disseram que O Concurso fala bastante da realidade brasileira, pois são milhões de pessoas fazendo concurso todo ano. “Fazer concurso virou até profissão no Brasil” disse Brás.
Comédias nacionais têm alto faturamento em 2013
O cinema nacional está se recuperando depois da crise de 2012. No primeiro semestre do ano passado, nenhum filme teve público superior a um milhão de espectadores. Este ano, na boa maré iniciada já no final de 2012, cinco produções já atingiram essa marca. Três são comédias: Minha Mãe É uma Peça,
Vai que Dá Certo? e De Pernas Pro Ar 2. Os outros dois estão ligados ao fenômeno Renato Russo (1960-1996): Faroeste Caboclo e Somos
Tão Jovens.
A chamada retomada, cujo primeiro filme foi Carlota Joaquina – Princesa do Brasil, de 1995, pode ter números históricos em 2013. Segundo a Agência Nacional de Cinema (Ancine), a sétima arte é, atualmente, o segmento de entretenimento que mais fatura no Brasil. De Pernas Pro Ar 2 teve 4,7 milhões de espectadores e Vai que Dá Certo?, 2,7 milhões. Ambos entraram na lista dos 10 mais vistos no país, feito que nenhum filme brasileiro conseguiu em 2012.
Segundo o portal Plano B, no primeiro semestre deste ano, os longas nacionais venderam pouco mais de 13,6 milhões de ingressos, um aumento de 280% em relação ao mesmo período do ano passado. Os números de faturamento são ainda mais expressivos. A bilheteria total foi de R$ 144 milhões, um crescimento de 289% em relação a 2012, quando foram arrecadados apenas R$ 37 milhões.
Bons de humor
Enquanto isso, os filmes estrangeiros não estão tão bem, tiveram uma queda de 13% no público e de 5% na renda. Comédias nacionais que lotam os cinemas não são novidade. Segundo o professor e coordenador da Academia Internacional de Cinema, autor do livro Cinema Brasileiro no Século XXI, Franthiesco Ballerini, 32 anos, há uma tradição secular de comédias no Brasil. “Nós fazemos comédia muito melhor do que outros países, já temos um histórico, que começou com as chanchadas e foi fundamental para formar audiência”.
Mesmo com tanto sucesso entre o público, a maior parte da crítica repudia o gênero. Segundo Ballerini, isso vem desde as chanchadas e continua até hoje. “Há um preconceito com as comédias. Na minha opinião, isso é uma ignorância, porque comédias sofisticadas são raras. Sofisticado é Woody Allen, Irmãos Cohen”. Para Ballerini, outro aspecto do sucesso das comédias é a facilidade de consumo. “Depois de uma semana pesada de trabalho, ir ao cinema, às vezes, é só uma diversão, principalmente quando é um programa em família. Essas produções cumprem muito bem essa função”, diz.
Uma produção que pode ultrapassar essa barreira é o filme Vendo ou Alugo, com Marieta Severo, 66, e Marcos Palmeira, 49, que vem arrematando prêmios em vários festivais. A comédia, de Betse de Paula, faturou 12 dos 16 prêmios no festival Cine- PE, incluindo o de melhor filme. A data de estreia já está definida: 19 de agosto.
Para o humorista Fábio Porchat, o brasileiro gosta de rir de si mesmo. Ele também disse, em entrevista coletiva em Salvador, na terça-feira, que “essas produções estão mais profissionais e, em vez de comédias nacionais, passam a ser apenas comédias”.
Vale lembrar que, apesar do sucesso das comédias, a bilheteria da história do cinema brasileiro foi a de Tropa de Elite 2, que levou 11 milhões de pessoas aos cinemas. O segundo longa brasileiro mais visto desde a retomada foi a comédia Se Eu Fosse Você 2 (2009), que ultrapassou a marca dos 6 milhões de espectadores. As informações são do Correio.
Inscrever-se
0 Comentários
mais recentes