"Publicidade"

Documentário mostra estratégias que indústria de ultraprocessados usa para lucrar a qualquer custo

"O que se vende, o que se come", desenvolvido pelo Idec, também aborda os impactos do consumo desses produtos para nossa saúde, assim como propostas de regulação.

Alimentos Ultrprocessados
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Algumas histórias podem moldar nossos desejos, interferir no que comemos e até colocar nossa vida em risco, e essas histórias existem porque há quem ganhe muito dinheiro com elas! É isso que mostra o documentário “O que se vende, o que se come”, lançado nesta semana pelo Idec (Instituto de Defesa de Consumidores). O material mostra as estratégias de publicidade que a indústria de produtos alimentícios ultraprocessados usa para lucrar a qualquer custo, e também dimensiona os impactos disso em nossas vidas.

“É comum, por exemplo, a publicidade de ultraprocessados destacar que seus produtos levam ingredientes naturais, como frutas, leite e mel, e não outros que seriam vistos como menos saudáveis. Porém, muitas vezes o item nem está de fato na composição desses produtos, sendo chamado de ‘ingrediente fantasma’”, exemplifica Laís Amaral, coordenadora do programa de Alimentação Saudável e Sustentável do Idec, no documentário.

Outra estratégia utilizada é adicionar na composição dos ultraprocessados aromatizantes, corantes e/ou edulcorantes, tornando-os hiperpalatáveis. Isso para que gerem uma quantidade excessiva de estímulos no paladar das pessoas e, assim, elas consumam muito mais desses itens do que consumiriam de um produto natural. Ou seja, são produtos arquitetados para viciar.

O resultado disso é que, enquanto estudos da última década associam o consumo de ultraprocessados com o desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis, como diabetes e doenças do coração, o faturamento anual dessa indústria no país é de mais de R$ 1 trilhão.

Para mudar esse cenário, os especialistas ouvidos no documentário apontam a importância da implantação de políticas públicas. Desde 2022, por exemplo, alguns produtos trazem uma lupa na parte da frente da embalagem, indicando quantidades excessivas de açúcar, gordura saturada e/ou sódio. Porém, são necessárias a criação e instituição de outras muitas políticas regulatórias de alimentação e nutrição.

“Aqui nós temos maior interferência dessa indústria nas políticas públicas e nos debates no Congresso Nacional do que em outros países. Esse setor vem criando resistência e fazendo forte pressão política e econômica para que não cheguem no Brasil leis e regras como as que estão sendo aprovadas pelos países vizinhos”, explica, no documentário, Igor Britto, diretor-executivo do Idec.

Por exemplo, a publicidade de produtos ultraprocessados que leva as pessoas a acreditarem que estão consumindo algo saudável, quando na verdade não estão, é enganosa, então pode, além de ser denunciada aos órgãos reguladores, ser contestada judicialmente.

Porém, não há um órgão público específico de fiscalização da publicidade em si, sendo realizada de forma autorregulada. A regulação, em teoria, é feita pelo Conar (Conselho Nacional de Autorregulação Publicitária), uma associação de agências de publicidade, veículos de comunicação e grandes empresas anunciantes, onde todos os membros têm interesse que não haja uma fiscalização eficaz.

Diversos outros problemas e soluções são apontadas no documentário, que conta com depoimentos de especialistas como Adalberto Pasqualotto, Alain Santandreu, Ana Olmos, Ana Paula Bortoletto, Isabela Henriques, Jaime Delgado, Marília Albiero e Renata Monteiro, além dos membros da equipe do Idec: Igor Britto, Laís Amaral e Mariana Ribeiro. O material pode ser assistido gratuitamente no site: https://idec.org.br/o-que-se-come

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