Mundo do Trabalho

Um quarto dos estagiários conquistou a vaga por meio de recomendação, aponta pesquisa.

No entanto, especialistas afirmam que a indicação ganhou novo sentido nos processos seletivos atuais.

Acorda Cidade

Não é novidade que contar com uma recomendação na hora de disputar uma vaga pode ser determinante para conquistá-la. A famosa “indicação” é um parâmetro antigo, largamente usado no mercado de trabalho – o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) já apontava, em 2009, o quanto a prática é comum no país: segundo um estudo do instituto, quase 60% dos trabalhadores da iniciativa privada contaram, na época, com a “ajudinha” de terceiros (parentes, amigos ou colegas que já atuavam na empresa) para serem contratados.

Atualmente, num cenário onde a oferta de vagas já não é tão propícia quanto outrora, o critério segue relevante – mesmo com profissionais sobrando no mercado, as empresas não abrem mão da boa e velha referência na hora de preencher seus postos. Mas, ao contrário do que muitos podem imaginar, o controverso "quem indica” ganhou uma nova conotação nos tempos atuais. Segundo recrutadores, graças à tecnologia, a recomendação não requer, necessariamente, vivência profissional ou a influência corporativa. Com o bom uso das ferramentas digitais, até os mais jovens podem se beneficiar do famigerado “Q.I.” para ingressar no mercado de trabalho. Inclusive, segundo pesquisa especializada, 25% dos estudantes que se encontram estagiando no momento conseguiram a oportunidade por meio de indicação, evidenciando que esse fator, quando somado a outras estratégias, é tão expressivo quanto às demais vias de contratação.

Quem quer ser estagiário?

O estágio é, sem dúvidas, uma das principais portas de entrada do mercado de trabalho para os jovens, sobretudo em tempos nos quais essa parcela da população é a mais afetada pelo encolhimento do mercado celetista. Segundo dados da Companhia de Estágios – consultoria e assessoria especializada em programas de estágio e trainee, somente no primeiro semestre desse ano foram mais de 97 mil inscritos em seus processos seletivos, 9% a mais que no mesmo período de 2016. E, de acordo com a recrutadora, dentre os diversos meios que os jovens usam para chegar até o sonhado estágio, o “Q.I.” tem um peso cada vez mais relevante: num levantamento exclusivo que ouviu 2.193 estudantes de todo o país, a especializada identificou que um quarto dos estagiários em atividade conseguiu a vaga por meio de indicação.

Indicação não é atalho, mas conta pontos.

O critério é tão expressivo que só perde para “Plataformas de divulgação de vagas” (28%) – método que pode incluir mailing, hotsites e/ou aplicativos específicos pelos quais as recrutadoras divulgam oportunidades. No entanto, a influência de terceiros se mostrou mais eficaz na conquista do estágio do que os sites de consultoria (16,4%), as redes sociais (5,5%) e, até mesmo, a pró-atividade, ou seja, quando o jovem procura vagas nos sites das próprias empresas (9%), diretamente na faculdade (5,8%) ou entrega currículos (1,7%).

De acordo com Tiago Mavichian, diretor da Companhia de Estágios, esse fenômeno não indica que alguns jovens são previamente favorecidos por suas relações pessoais, mas sim que os recrutadores estão observando outros detalhes na hora de escolher um candidato “É natural que algumas empresas divulguem, num primeiro momento, as vagas internamente. Esse hábito faz com que os próprios funcionários repassem a oportunidade para pessoas do seu convívio social, familiares ou amigos em que confiam. O jovem que ficou sabendo dessa vaga e se candidatou certamente passará pelo processo seletivo convencional, mas caso ele vá adiante, o fato de conhecer alguém dentro da empresa pode lhe render pontos. Isso porque alguns processos seletivos envolvem mais de uma etapa e, a cada fase, é preciso “afunilar” os critérios de avaliação dos candidatos. É nesse momento que a indicação pode ser determinante, pois, após serem avaliadas as qualificações e habilidades interpessoais do candidato, é verificado seu networking, referências e eventuais recomendações”.

“Q.I.” moderno: quem interage!

Segundo Rafael Pinheiro, gerente de recursos humanos, as novas técnicas de recrutamento, podem ajudar a derrubar o sentido pejorativo da indicação: “Se antes boa parte dos trabalhadores questionava a parcialidade do ato, hoje a dinâmica é diferente: muitas vezes o candidato e seus concorrentes sequer ficam sabendo que o networking está sendo avaliado e que o recrutador checou, por exemplo, o perfil dos entrevistados nas redes sociais. Essa análise pode, inclusive, ser isenta de qualquer influência externa, pois os responsáveis pelo processo estão avaliando, na realidade, a postura e interação desse candidato com outros profissionais”. Para o especialista, além de dar mais dinamismo, as ferramentas digitais dão mais isonomia ao processo seletivo, estimulando o “Q.I. do bem” – quando a indicação é encarada como uma referência de profissionalismo.

O que vem primeiro?

Segundo a pesquisa da Companhia de Estágios, dentre os estagiários que conseguiram a vaga por meio de indicação, 61% investiu em qualificação no último ano, seja por meio de cursos de idiomas, de informática ou especializações na sua respectiva área de estudo. Outros 13,5% realizaram atividades voluntárias ou um projeto profissional (como abrir o próprio negócio) nos últimos doze meses. De acordo com Mavichian, isso indica que os recrutadores certamente levaram esses pontos em consideração na hora de selecionar tais candidatos “Esse comportamento evidencia que a indicação não anula as etapas essenciais de um processo seletivo, como a análise das competências do candidato. Isso sinaliza, inclusive, que o jovem deve sim construir um bom networking, mas, antes de tudo, investir na qualificação e no fortalecimento do currículo. Afinal, suas habilidades sempre falarão mais alto do que qualquer indicação”. – conclui.

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