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O fato de ser filha única entre dois homens não deu privilégios a Tarsia Gonzalez, que hoje é Presidente do Conselho Administrativo da Transpes, escolhida pela terceira vez como a melhor empresa para se trabalhar do Brasil. Tornou-se sócia-cotista assim que começou a trabalhar. Aos 16 anos, queria dinheiro para comprar um par de sapatos de salto. Hoje, Tarsia administra a empresa com os irmãos.
“Em 1982, com 13 anos, eu disse a meu pai que estava crescendo e que as minhas roupas já não eram mais de criança, e que eu tinha muita vontade de comprar um sapato de salto. Eu achava um sapato de salto a coisa mais linda do mundo”, lembra Tarsia. A resposta do pai foi de que estava na hora de Tarsia trabalhar para que pudesse comprar o sapato. “Eu não sabia o que fazer, me senti muito envergonhada. Nós já fazíamos parte de uma família de classe média alta, estudávamos em boas escolas, mas eu só teria o sapato e roupas novas se eu começasse a trabalhar”, completa.
Tarsia conversou com a mãe e disse que queria parar de estudar para poder trabalhar. “Minha mãe ficou muito brava com meu pai e disse que não. Em primeiro lugar, eu deveria estudar”, conta. Tarsia diz que assim nasceu o desejo e a necessidade de começar a produzir para conquistar as coisas sem precisar pedir a ninguém. Seu início na empresa do pai aconteceu em 1986, aos 16 anos, quando se tornou sócia-cotista. Começou trabalhando alguns dias da semana, fazendo tudo o que era necessário. Organizava os ambientes e, como fazia esta tarefa muito bem, o pai pediu para que executasse a conferência dos relatórios de viagem dos motoristas carreteiros. “Eu organizava, somava e lançava no relatório quanto tinha custado aquela viagem. Foi aí que comecei a aprender a calcular o quilômetro rodado, a média do caminhão, quanto aquilo representava de custo e fazer o ressarcimento das despesas”, explica.
Mas e o sapato de salto? Depois de 6 meses de trabalho, o sapato já não era mais importante para Tarsia. “Ajudar meu pai passou a ser a prioridade. Hoje tenho paixão por sapatos e, sempre que gosto de um, me recordo dos primeiros pares que tive a oportunidade de comprar por minha conta. Nunca mais tive a coragem de pedir algo para o meu pai”, explica.
Tarsia percorreu todas as áreas da empresa, o que deu a ela um perfil profissional generalista. Trabalhou na área financeira e, depois, na área de gestão de pessoas, na época chamada de departamento pessoal e recursos humanos. Em 1998, implementou a certificação ISO 9001 na empresa, na época, a primeira de Minas Gerais e a terceira do Brasil no segmento de transportes a obter o certificado. Em 2005, foi contratada uma empresa para desenvolver o planejamento estratégico da Transpes – um dos resultados foi a mudança do nome de Transpesminas para Transpes, passando a empresa a atuar não só em Minas como em todo território nacional, hoje com 22 filiais.
Em 2007, após 16 anos como diretora de Administração e Recursos Humanos, implantou na matriz um sistema integrado de gestão empresarial que hoje já está instalado em todas as filiais, inovando a empresa e trazendo controles eficazes para melhores resultados. Dois anos depois, em 2009, assumiu o departamento de Marketing e Comunicação. Após o retorno de Madri, em 2012, depois de um aperfeiçoamento profissional pela ESADE Business School – Alta Perfomance em Liderança, em parceria com a Fundação Dom Cabral, Tarsia voltou com um projeto profissional que traria para a empresa a implementação da governança corporativa. Criou então o Conselho de Administração da empresa com a assessoria da Fundação Dom Cabral e fez um processo sucessório do seu cargo de executiva. Em 2015, assumiu o cargo de presidente do Conselho. Hoje, seu filho mais velho, Ruz Gonzalez, segue os passos da mãe na Companhia e sua filha Regina Gonzalez trilha o caminho da Psicologia.
Formada em Psicologia, Tarsia nasceu em 1º de abril de 1969, três anos após a fundação da empresa em que trilharia seu caminho profissional. A Transpes, eleita em 2014, 2015 e 2016 uma das Melhores Empresas para se Trabalhar pela revista Você S/A, foi fundada em 1966 com 5 caminhões; hoje, a frota é composta de mais de 1.000 equipamentos. A empresa registra mais de 500 clientes atendidos e, por ano, transporta mais de um milhão de toneladas, faz 25 mil embarques e percorre 30 milhões de quilômetros.