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Preguiçosos, ambiciosos, otimistas, nativos digitais, extrovertidos. Todos esses são adjetivos atribuídos à geração Y, ou, como é mais conhecida, geração millennial – nascida entre os anos de 1980 e 1990. Durante anos, pesquisadores, antropólogos, sociólogos e analistas tentam desvendar as características formadoras dessa geração, inclusive o seus anseios e perspectivas para o mundo do trabalho. Apesar disso, o que se vê em capa de revistas especializadas e jornais pode estar parcialmente errado.
O grande problema da abordagem com esse grupo populacional é fazer uma análise de um conjunto de dados sem levar em consideração os próprios indivíduos. As características geracionais dependem de diversos fatores, como renda e ambiente sociocultural. Portanto, muito do que se entende por características dos millennials não passa de estereótipos, incluindo informações sobre as preferências no mercado de trabalho.
Em fevereiro de 2017, o think tank britânico Resolution Foundation divulgou um levantamento no qual apontava que apenas um em cada 25 millennials britânicos mudava de emprego todo ano. A percepção de alguns estudiosos, no entanto, era de que eles pulavam de emprego com frequência, em busca de maior realização profissional. De acordo com a pesquisa, membros da geração X tinham duas vezes mais chance de trocar de trabalho quando tinham 20 e poucos anos. A mudança é até positiva. Pode aumentar em 15% o salário, além de obter novos aprendizados e conhecimento.
Essa tendência parece ser mundial. Um estudo realizado pelo Centro de Pesquisas Pew de Washington, em abril de 2017, concluiu que americanos com idades entre 18 e 35 anos tinham a mesma probabilidade de continuar no emprego que os membros da geração X quando estavam na mesma fase da vida. Mas o fato de os jovens mudarem mais de emprego do que os mais velhos é uma verdade.
Acontece que, pela primeira vez, os jovens estão ganhando menos do que as gerações passadas há 15 anos. A queda na taxa de mobilidade de emprego, no entanto, ainda não foi totalmente explicada. Especula-se que tenha a ver com a menor probabilidade de conseguir um emprego melhor com um empregador diferente, as mudanças corporativas e no ambiente econômico e o fato de os millennials terem crescido durante a crise financeira.
Uma pesquisa de 2017 da consultoria Deloitte destacou o fortalecimento do desejo de segurança entre os millennials, provocado pela instabilidade política e social. Segundo o levantamento, feito com 8 mil jovens de todo o mundo, millennials de países desenvolvidos estão menos dispostos a deixarem o emprego nos próximos dois anos e mais propensos a permanecerem nos próximos cinco ou mais anos do que estavam no ano anterior. A estabilidade financeira, portanto, é uma opção extremamente válida para essas pessoas. Se você tem dúvidas sobre em qual perfil você se enquadra, uma boa alternativa é fazer um teste vocacional.
Tudo indica que muitos desses jovens estejam ávidos por um emprego no qual o lucro não seja a prioridade, e sim o propósito do trabalho. Esses, sim, procuram satisfação pessoal e profissional. Nesse sentido, ser freelancer é uma boa alternativa. De acordo com a pesquisa Mercado Freelancer 2017, feita no Brasil pela Rock Content, We Do Logos e 99freelas com quase 10 mil respondentes, a predominância de millennials é forte, com 79,3% do total de respostas.
Entre os fatores que fazem esses brasileiros se aventurarem pelo mundo freelancer está uma melhor qualidade de vida, mesmo em tempos de crise econômica. Os dados, no entanto, correspondem a uma realidade local, e não à totalidade desse público em âmbito mundial. Além disso, a pesquisa foi realizada por meio de questionário online, o que dificulta a penetração em algumas faixas menos favorecidas e com dificuldade de acesso à internet.
O mercado freelancer pode ser um objetivo distante em países cuja mensalidade das universidades é alta e o preço dos imóveis é mais elevado. De acordo com a pesquisa Deloitte sobre millennials de 2017, sete em cada 10 jovens vivendo em economias desenvolvidas prefeririam um emprego fixo integral em vez de ser freelancer. Os principais motivos apontados foram "segurança de emprego" e "renda fixa".
Mas o estereótipo sobre os millennials não está de todo errado – apesar de corresponderem a uma menor parcela deles. Uma pesquisa desenvolvida pela Carat, baseada em 14 mil millennials entre 15 e 34 anos, apontou que os jovens hiperconectados otimistas digitais e extrovertidos só correspondem a 42% dos millennials – ou seja, 36 milhões de pessoas. Os outros 49 milhões foram de alguma forma colocados erroneamente no mesmo grupo, embora possuam modos de vida e valores diferentes.