A convivência em sociedade desempenha um papel fundamental na transmissão de conhecimento entre indivíduos, além de refletir a evolução da humanidade em diversas áreas. É por meio da interação e da troca de experiências entre pessoas de diferentes idades que temos acesso a diferentes costumes, pensamentos e atitudes. A cada duas décadas, o surgimento de uma nova geração traz consigo uma série de novos hábitos e valores, impactando significativamente essas relações.
Considerando esse aspecto, é comum observarmos um distanciamento entre as diferentes gerações, o que pode resultar em desacordos durante a troca de experiências, baseadas em vivências distintas. Esse distanciamento, por sua vez, acaba fortalecendo mitos e estereótipos negativos. Um exemplo disso é a crença de que na infância as crianças apenas aprendem, sem terem nada de interessante para ensinar. Já na adolescência, são frequentemente rotulados de forma pejorativa, usando termos como “aborrescência”. Por sua vez, os adultos são muitas vezes vistos como pessoas preocupadas apenas com o trabalho, deixando de lado outras dimensões importantes da vida.
Para quebrar esses estigmas, especialistas ressaltam a importância da convivência entre as gerações como uma fonte de tolerância e respeito, além de promover a ressignificação de pensamentos. De olho na convivência harmoniosa, a Psicologia destaca a importância de sabermos lidar com as diferenças, internalizando que não existe um saber superior ao outro.
“De uma maneira geral, a dica importantíssima para promover uma convivência saudável entre gerações é que possamos nos ouvir através de uma escuta ativa e livre de preconceitos. Ouvir as pessoas que estão à nossa volta diminui um pouco essa ideia de que ‘eu estou sempre certa’. Precisamos aprender com as outras pessoas, também”, sugere Glaucia Santiago, professora do curso de Psicologia da UNIFACS e doutoranda em Saúde Coletiva com Ênfase em Ciências Sociais e Humanas.
A especialista também reforça que os conflitos geracionais nem sempre são ruins. Eles podem ser saudáveis na medida em que abordam as diferenças. “O conflito nada mais é do que a gente colocar uma questão e, ao fazer isso, poder pensar em novas possibilidades. Se não olharmos para esses estigmas como um conflito, acabamos naturalizando determinadas situações. Portanto, é ele que vai nos guiar a olhar de maneira mais ampla e, a partir daí, pensar em novas possibilidades para resolver e encaminhar dadas questões”, pontua.
Saúde mental
De acordo com Glaucia Santiago, uma das questões que a Psicologia tem acompanhado é o aumento dos casos de depressão em idosos. “A sociedade tende a colocar o trabalho como uma centralidade na vida. É no trabalho por onde passa a maior parte das nossas relações afetivas. Nesse contexto, existe a tendência de que pessoas idosas acabem se isolando mais. Muitas vezes, isso ocorre pela quebra da rotina causada, por exemplo, pela aposentadoria. Assim, validamos a importância da socialização das pessoas idosas com as diferentes gerações”, destaca a professora da UNIFACS.
Essa adversidade não atinge somente pessoas com idade mais avançada. De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), em todo o mundo, a depressão é uma das principais causas de doença e incapacidade entre adolescentes. Nesse sentido, trabalhar as relações intergeracionais pode ser uma forma de contribuir com a melhora da saúde mental, inclusive, das novas gerações.
“A saúde mental vai ser melhor a medida em que a gente puder lidar com as questões diferentes. O primeiro passo é entendermos que as gerações têm coisas em comum justamente em relação a força temporal e as forças sócio-históricas que estão presentes no momento”, avalia Glaucia.
Datas comemorativas podem ser ganchos importantes na discussão da promoção da saúde mental entre gerações, a exemplo do Dia dos Avós, celebrado em 26 de julho, que tem como um dos objetivos ressaltar a importância dos idosos na construção de uma sociedade mais aberta as diversas formas de enxergar o mundo.
Gerações
A classificação de geração está definida de acordo com a ideia do tempo em que as pessoas crescem e podem se manter por condições próprias. De acordo com Glaucia Santiago, “o conceito que mais utilizamos para pensar a ideia de geração é bem ‘americanizado’, começando lá na geração baby boomer, que são as pessoas que nasceram a partir de 1940. Logo depois tivemos as gerações X, de 1965 a 1979; Y ou Millenials, de 1980 a 2000; Z de 2001 a 2010; e a mais atual denominada de ALPHA, englobando aqueles que nasceram a partir de 2011”.
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