Feira de Santana

Regentes de fanfarras comentam atual situação de bandas marciais em Feira de Santana

Os antigos desfiles e concursos de bandas e fanfarras feirenses deixam saudade e se perdem com o tempo por falta de patrocínio.

Bandas e Fanfarras em Feira de Santana
Foto: Arquivo Pessoal

A tradição de fanfarras, que atualmente é revivida apenas no desfile da Independência do Brasil, clama pelo seu renascimento. Os grupos que há alguns anos participavam de concursos e apresentações regionais, por falta de incentivo e patrocínios dos órgãos públicos, foram se dissolvendo com o tempo, mas muitos ainda têm esperança que essa velha tradição possa um dia retornar às ruas com mais frequência.

O representante Juvenal Lopes de Carvalho Filho, 54 anos, começou a tocar em fanfarra em 1983, no Colégio Gastão Guimarães.

Bandas e fanfarras
Foto: Ed Santos/ Acorda Cidade

“Na época o professor Tomé era o regente da fanfarra e Rocine era o mestre geral. Foi ele quem ensinou a todos nós. Eu comecei na fanfarra tocando instrumento, sendo aluno, com mais ou menos quatro a cinco anos. Rocine viu um potencial em mim e, quando Tomé saiu, foi para São Gonçalo dos Campos, fiquei no lugar dele. Com isso, fui me especializando até o momento que fui transferido para participar do coral do Municipal,” relembrou.

Juvenal Lopes contou ao Acorda Cidade que os olhos entusiasmados das pessoas assistindo às apresentações era uma das características que mais chamavam a sua atenção.

“Eu lembro dos meus parentes irem me assistir, os olhares entusiasmados nos anos 90, com aquelas fanfarras do Gastão, João Durval, Assis, Municipal tinha até Estadual,” descreveu.

Juvenal aborda que os feirenses amam um movimento cívico, mas lamenta que o poder público não invista nesses movimentos.

Bandas e Fanfarras em Feira de Santana
Foto: Arquivo Pessoal

“De 2010 para cá todos os políticos que assumiram a prefeitura de Feira de Santana abandonaram a cultura em geral, e a fanfarra foi junto, ela foi no abandono. O colégio Municipal, que a gente denominou de Fanfarra Municipal de Feira de Santana, é uma fanfarra conhecida hoje ainda em todo o país e apesar de não existir no papel, possui uma diretoria e ex-alunos fazendo confraternização todos os anos, e hoje está com 30 anos. Uma fanfarra, que em 1992 foi vice-campeã em São Paulo e ficou em terceiro lugar em 2004, chegou a ser dita que era a menina dos olhos de Feira de Santana e, de repente, de 2010 para cá o movimento de bandas e fanfarras praticamente foi exterminado por falta de incentivo,” declarou.

O representante destaca que antigamente os próprios alunos pagavam para tocar, era como se fosse uma escola de samba. Segundo Juvenal, os alunos pagavam todo ano um carnê para desfilar.

“Não dependíamos, praticamente, do poder público, mas não sei o que aconteceu com um tempo depois, que houve uma lei que foi proibido se cobrar qualquer coisa em entidade pública e acredito que foi daí que começou a descer ladeira a tradição de bandas e fanfarras.”

Bandas e Fanfarras
Foto: Ed Santos/ Acorda Cidade

O professor de Educação Física e Música, Luiz Carlos de Souza Silva, 66 anos, também vice-presidente da Associação de Bandas Norte e Nordeste da Bahia, começou a sua trajetória na fanfarra com apenas 10 anos, no colégio Estadual.

“Passei um período no Estadual depois fui para o Gastão Guimarães, me formei em professor em 77 e em 78 fui ser regente da banda do colégio Municipal, daí fiz um curso de Educação Física; fui ensinar e mesmo assim continuei com a banda do colégio Municipal. Depois trabalhei em outras cidades e também cheguei a ser presidente da Liga Cultural de Bandas Musicais da Bahia por 16 anos. Hoje faço parte da diretoria,” contou.

Bandas e Fanfarras em Feira de Santana
Foto: Arquivo Pessoal

“Desde que entrei no colégio Estadual, eu era professor de fanfarra. Com dois anos de fanfarra eu já estava sendo monitor de percussão. Naquela época as fanfarras eram patrocinadas pelos alunos, a exemplo do fardamento, já o instrumental era pela escola. Para eu pagar a farda precisei fazer vaquinha, com o dinheiro que minha mãe me dava para o lanche. Hoje as escolas dão todo o fardamento,” relembrou.

A primeira banda liderada por Luiz Carlos foi a do colégio Municipal de Feira de Santana.

“Naquela época não tinha divisão, a gente competia com 50 a 40 fanfarras. Santo Amaro, Alagoinhas tinham um a faixa de 40 a 50 bandas todo mundo concorrendo entre si. Uma Lei Municipal criada pelo finado Professor Rocine possibilitou a realização dos concursos. Feira de Santana já teve muitas fanfarras, todas as escolas municipais, estaduais e privadas participavam. Era um desfile que em média tinha de 15 a 20 bandas de Feira de Santana,” destacou.

Bandas e Fanfarras em Feira de Santana
Foto: Arquivo Pessoal

Conforme aborda o professor Luiz Carlos, Feira de Santana está com uma escassez de bandas. “Estamos lutando para que uma banda de Feira de Santana, que participe de concursos, seja criada, mas infelizmente os poderes públicos não dão oportunidade. É muito difícil nessa área, não só em Feira de Santana.”

Luiz Carlos conta ao Acorda Cidade que com a pandemia muitas fanfarras se acabaram. E aquelas que estão retornando agora contam com um apoio mínimo dos órgãos públicos.

“Geralmente os alunos fazem vaquinha para viajar; tem algumas prefeituras que contribuem e dão apoio, mas tem outras que não dão apoio nenhum. Hoje trabalhamos com instrumentos profissionais e o aluno se torna um profissional. Eles saem dali um trompetista, trombonista, temos alunos de fanfarra que hoje estão tocando em orquestras sinfônicas do Rio de Janeiro. Se os poderes públicos tivessem uma visão sobre o sentido das fanfarras para continuar esse trabalho seria diferente,” desabafou.

Bandas e Fanfarras em Feira de Santana
Foto: Arquivo Pessoal

O professor Luiz relatou que as fanfarras dependem dos poderes públicos para que os projetos voltem a acontecer.

“O Estado lançou agora um programa que está revitalizando as fanfarras, mas eu não sei se vai para frente, espero que vá, na realidade hoje só contrataram os regentes, no entanto para você colocar uma fanfarra na rua, você precisa no mínimo de quatro pessoas: o monitor de percussão, o monitor de sopro, que se divide em grave, médio, um instrutor de linha de frente e uma pessoa para coordenar todo esse trabalho. Só uma pessoa para trabalhar hoje é inviável, mas como foi lançado a gente até agradece por esse movimento que está acontecendo na Bahia toda e espero que esse projeto siga em frente”, disse.

Fanfarras e bandas
Foto: Arquivo Pessoal

Durante o feriado de 7 de Setembro, foram observados muitos comentários em torno da falta de organização e rapidez dos desfiles. Sobre isso, o professor Luiz Carlos de Souza argumentou que muitas fanfarras ficaram sem desfilar.

“Só de 2019 para 2022 ficaram sem desfilar cinco fanfarras, que eram as dos distritos, mais a banda do Polivalente e a do Dispensário Santana,” explicou.

E acrescentou que infelizmente os desfiles deveriam ser mais organizados. “O exército se preocupa em organizar a parte militar, quando termina a parte militar, a parte cívica se transforma em tragédia, que é o momento que entram as fanfarras e o povo não respeita.”

A música, a história e a cultura das fanfarras clamam pelo reavivamento dessa tradição. “Vamos lutar para que esse movimento nunca acabe, principalmente em Feira de Santana,” concluiu Luiz.

Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade.

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