Enquanto em Brasília, nesta sexta, uma reunião era realizada com todos os órgãos e instituições envolvidos no processo seletivo do Enem deste ano, na busca por respostas e caminhos a serem seguidos após o vazamento de informações contidas em provas do exame nacional, em Feira de Santana, a 109 km de Salvador, uma das coordenadoras regionais do exame fazia uma denúncia grave. Segundo ela, milhares dessas provas já se encontram na cidade desde o último sábado, dia 26 de setembro.
Com a condição de não ser identificada, a coordenadora de uma das escolas onde seriam aplicadas as provas, hoje e amanhã, denunciou que guarda em sua residência provas do processo seletivo há uma semana. Diz que foi surpreendida, sábado passado, com a chegada de uma encomenda, por transportadora. “Quando meu filho me chamou dizendo que tinha chegado a prova de um concurso, nem me lembrei do Enem. Quando vi, não acreditei que estava recebendo a prova em casa, com uma semana de antecedência”, diz.
São dois sacos grandes de nylon. Um com um lacre frágil. Outro sem lacre, fechado com fita crepe. “Questionei o entregador e ele disse que era assim mesmo”, relata.
Não era assim, pelo menos até o ano passado. Este já é o terceiro ano em que a professora participa como coordenadora do Enem. Até 2008, os coordenadores só recebiam as provas duas horas antes do início da aplicação. Em Feira de Santana, o material ficava custodiado pelo Exército, no 35º Batalhão de Infantaria. Todos os coordenadores tinham que ir até lá buscar as provas. “Era uma embalagem resistente. O lacre era muito duro e exigia esforço na hora de abrir na escola”, recorda.
A entrega com tamanha antecedência causou preocupação, que foi tratada em reunião dos coordenadores com representantes do consórcio Conassel, vencedor da licitação do Ministério da Educação para o Enem de 2009. “Foi dito que não havia problema, porque o importante era o lacre dentro das caixas que estão no saco e que seriam abertas somente na hora da prova”, explica a denunciante.
A professora não abriu os sacos, para não ser responsabilizada por violação do material. Mas presumiu que poderia haver problemas, com milhares de coordenadores pelo País recebendo as provas com tanta antecedência. “A violação não precisaria ocorrer necessariamente pelo coordenador, mas por um parente, um empregado ou mesmo no caso de assalto”, finaliza
Glauco Wanderley, da sucursal Feira de Santana.