Serra Preta

'O grande desafio no Brasil é diminuir a distância entre a educação de ricos e de pobres', diz professor e escritor Gabriel Chalita

Ele participa hoje da Jornada Pedagógica do município de Serra Preta e o evento segue até a próxima quinta-feira (10).

Gabriel Gonçalves

Tem início nesta terça-feira (8) e segue até a próxima quinta, dia 10 de fevereiro, o Jornada Pedagógica realizada pela Secretaria Municipal de Educação de Serra Preta, uma iniciativa que visa preparar os educadores, gestores, supervisores e orientadores educacionais da Rede Municipal para o ano letivo de 2022.

Neste primeiro dia de evento que está sendo realizado no Clube Bravolândia, distrito do Bravo, a Jornada terá como tema 'Inovação e Tecnologia: Saberes necessários para uma nova educação', palestra ministrada pelo doutor em Filosofia do Direito, escritor e ex-secretário de Educação do Estado de São Paulo, Gabriel Chalita.

Ao Acorda Cidade, o escritor destacou o privilégio em ser convidado para participar de uma roda de conversa com outros profissionais da educação, principalmente nesta retomada do ensino, ainda em período pandêmico. Ele falou ainda sobre a eeducação e o contexto de pandemia, bem bomo as diferenças na educação entre estudantes ricos e pobres.

"Eu fiquei muito feliz até porque sou educador, conheço o Brasil inteiro, ministro palestras em muitos lugares e acredito que seja uma experiência muito gostosa, hoje estamos em Serra Preta, cidade do interior da Bahia e sempre é um privilégio conversar com os professores, refletir o que estamos vivendo na educação, sobre a ansiedade dos professores, sobre os medos dos professores, estamos ainda na pandemia, esperamos que já seja o final da pandemia, mas ainda existem muitas interrogações. Acredito que esta oportunidade de estar com os professores, é aprender também junto com eles e por isso digo que é um grande privilégio. A gente sempre vai acompanhando o que vem acontecendo no mundo inteiro e principalmente no Brasil. Eu já tive a oportunidade de ministrar palestras no Estados Unidos, França, Finlândia, Alemanha e cada lugar, existe uma problemática educacional e assim, a gente vai aprendendo com o outro e isso é o mais importante, essa troca de experiências, essa reflexão do papel do professor para a sociedade", disse.

Em meio à pandemia, muitos governos municipais e estaduais decidiram amenizar o impacto causado na educação, proporcionando que os estudantes tivessem aulas remotas.

Para o ex-secretário de Educação do estado de São Paulo, esta foi a única solução, mas as lacunas no conhecimento permaneceram.

"Foi a solução porque infelizmente não tinha mais o que fazer. O Brasil é muito complexo, então algumas redes conseguiram ter aulas de forma remota, mas em algumas regiões do Brasil, os alunos não tinham sinais em casa de internet, algumas redes até optaram por fazer o caminho pelo programa de televisão, mas tivemos aí um resultado de uma pesquisa da Universidade de Harvard, em que crianças de 6 e 7 anos, ainda não sabem ler e escrever. De fato, foi um tempo desperdiçado e precisamos voltar agora com calma, não adianta o pai ficar ansioso, o professor ficar ansioso, porque não é assim que funciona e os professores não irão resolver todos os problemas. O momento é de ter calma, refletir sobre as questões socioemocionais, o aluno está desacostumado com a relação de grupos, então é preciso ir com calma. O docente é a arma da educação, todos os dias ele está ali compartilhando a sua vida com seus alunos, então o professor, a professora, são líderes e muitas vezes, a criança não tem um referencial dentro de casa e ao ver aquele docente, ele se inspira nas atitudes, nas maneiras, nas expressões. Muita gente fala que tem muita criança danada, mas as crianças não nascem danadas, não nascem violentas, as crianças são como esponjas que vai sugando tudo que têm por perto, então se a violência é depositada, vai crescer  violência, se o ódio é depositado, vai crescer o ódio. A pessoa plantou uma bananeira, não vai nascer dali, caju. Então os professores se tornam grandes líderes dentro de uma sala de aula", destacou.

Desafios da educação

Como secretário de educação, Gabriel Chalita informou à reportagem do Acorda Cidade que muitos desafios foram encontrados, entre eles, tentar diminuir a distância da educação que é dada através da rede privada, e a educação pública.

"Existe um desafio tremendo que não é encontrado apenas no estado de São Paulo, mas em todo o Brasil, como diminuir a distância entre a educação de ricos e a educação de pobres. Temos muitas escolas com ótimas qualidades, principalmente aqui no estado da Bahia. São mensalidades que muitos pais chegam a pagar cerca de R$ 7 mil. As crianças passam praticamente o dia inteiro na escola têm tempo integral, possuem aulas de inglês, espanhol, mandarim, práticas esportivas e o acesso aos conhecimentos de modo em geral. No estado de São Paulo, existem muitas periferias que relativamente, são pobres e é perceptível essa diferença", afirmou.

Com esta retomada do ensino após um grande déficit na educação, o escritor Gabriel Chalita, destacou que este momento é de 'paciência', sobretudo para os estudantes que foram prejudicados e ainda continuam com dificuldades no aprendizado.

"Agora é momento de paciência, como uma palavra muito bonita mesmo, paz na ciência. Temos que ter a ciência que muitos estudantes estão atrasados, são alunos que estão no quarto ano e que deveriam ter sido alfabetizados no primeiro ano, mas não foram. São operações matemáticas que neste ano poderiam ser aplicadas de forma mais avançada, porém será preciso retomar com o assunto inicial até que este aluno tenha o total conhecimento. Vão ter crianças chorando na escola, porque não têm o costume, são crianças que já estão com uma idade mais avançada, mas ainda não sabem ler nem escrever, então é necessário ter a paciência. Hoje a gente tem a tecnologia como todas as formas de inovação e às vezes, as pessoas confundem, mas nem sempre tecnologia vai ser o ensino à distância, mas sim as possibilidades novas que temos através das informações que estão em um simples celular. A partir destas buscas, os alunos podem chegar à importantes conclusões e chamamos a atenção, que quando se trata de uma geração tecnológica, não estamos tratando desta geração chamada de TikTok, mas uma tecnologia que visa ampliar e possibilitar as pesquisas que são feitas pelos alunos", citou.

No próximo dia 11 de março, o escritor Gabriel Chalita estará lançando também uma nova peça teatral, que retrata a história de um filho que está prestes a perder a mãe e faz relembrar momentos vividos.

Segundo ele, as peças fazem parte das experiências em todo o Brasil, com o objetivo das pessoas ouvirem as outras pessoas mais e consequentemente, também amar.

"Vai ter uma peça agora no dia 11 de março no Rio de Janeiro, que se chama 'Sorriso de Mãe', é uma história de um filho que está com a mãe praticamente morrendo, mas ele quer um último sorriso da mãe e para ter esse último sorriso, ele lembra de viagens que foram realizadas com a mãe e isso é muito interessante, porque a primeira lembrança, é uma viagem que eles realizaram para Juazeiro do Norte e conheceram um menino chamado de Cícero. Em outra viagem para Salvador, conheceram uma mulher que se chamava Odete, então eu aproveito experiências minhas pelo Brasil, o conhecimento de pessoas e cada história, faz uma homenagem que eu considero fundamental na filosofia contemporânea. Precisamos ouvir, amar mais as pessoas e infelizmente já não existe mais a paciência de querer ouvir o outro, mas a escola precisa ser um espaço privilegiado da escuta, a partir do secretário ouvindo os diretores, ouvindo os professores, os professores precisam ouvir os alunos, os namorados devem ouvir um ao outro e isso faz as pessoas crescerem internamente, e a educação também é isso", concluiu.

 

Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade

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