Feira de Santana

Mães falam das expectativas e dúvidas sobre a volta às aulas; especialista defende que retorno é seguro

O infectologista Igor Araújo, que trabalha no Hospital Estadual da Criança (HEC), em Feira de Santana, avalia que o retorno das aulas em forma híbrido pode ser seguro.

Laiane Cruz

Muitas famílias comemoraram a autorização para volta às aulas da rede particular de ensino em Feira de Santana, que segundo a prefeitura deve ocorrer a partir do dia 19 de julho. Por outro lado, há pais que ainda se mantêm em dúvida, acerca da segurança dessa retomada em meio à pandemia, que continua em curso e com o aparecimento de novas variantes do vírus da covid-19.

Para a influencer digital Larissa Dourado, mãe de Mila, de 15 anos, Davi, com 10 e Caio, de 6, o cancelamento das aulas no início da pandemia trouxe um alívio temporário para a família. A rotina passou a incluir jogos, receitas, filmes e diversão em meio ao isolamento doméstico. No entanto, com o passar do tempo e a percepção de que as ‘férias forçadas’ estavam longe de acabar, o que veio em seguida foi o desespero.

Foto: Arquivo Pessoal

“Tentamos manter uma rotina ‘normal’, mas tem sido muito difícil. Antes da pandemia, sempre passeávamos no Parque da Lagoa, levava as crianças para brincarem na quadra. Na pandemia tudo isso acabou. Passamos a ficar em casa 24h juntos, meus filhos estão em fases diferentes e dividir o espaço foi complicado”, afirmou Larissa Dourado.

Além das dificuldades para equilibrar a rotina em casa, vieram também as dificuldades financeiras. Larissa e o marido ficaram desempregados e chegaram a cogitar colocarem os filhos para estudar na rede pública. Porém, com a falta das aulas online no ensino público, recorreram à ajuda da família para conseguirem manter os filhos estudando na rede privada, uma vez que havia a possibilidade do ensino remoto.

“Todos três estudam na rede privada, mas não era nosso plano no início do ano. Como ficamos desempregados durante a pandemia, não tínhamos como arcar com as mensalidades, e cogitamos colocá-los na rede pública. Mas como não havia previsão de matrícula 2021, optamos em deixá-los na rede particular e minha família ajuda a bancar as mensalidades”.

Foto: Arquivo Pessoal

Vídeo

Por trabalhar com redes sociais, antes da liberação das aulas, Larissa teve a ideia de fazer um vídeo contando um pouco dos desafios dessa rotina com os três filhos. A publicação já teve mais de 2.500 visualizações no Instagram. Inspirada no meme do @essemenino, que viralizou com críticas sobre a condução da compra de vacinas pelo governo federal, a mãe relata sobre os perrengues enfrentados nas aulas online das crianças, que estão em fases escolares diferentes, e pergunta ao prefeito Colbert Martins quando, finalmente, ele iria tomar a decisão de autorizar a reabertura das escolas.

“Eu precisava desabafar, minha vontade era convidar o prefeito para passar um dia aqui em casa, para ele vivenciar a realidade das famílias. Era frustrante ver tudo voltando e a escola não. Nem os parques foram liberados. É sufocante ficar 24h sem ter um tempo só seu, sempre tendo que atender uma demanda. O vídeo foi uma forma divertida de falar sobre os perrengues das aulas online”, salientou.

Para alegria geral da casa, as orações foram respondidas. “Eu ainda estou sem acreditar. Percorremos um caminho cheio de desafios. As crianças podem até ter aprendido a matéria, mas o contato com os colegas, ter a rotina da escola, o aprender diário só acontece no presencial. No início da pandemia, achava impossível que as crianças aceitassem a máscara, e hoje elas já estão acostumadas. As crianças aprendem rápido e vão nos ensinar muito. Meu filho perguntou se o prefeito autorizou a volta às aulas devido ao meu vídeo. Falei que não era tão influente assim”, brincou.

 

Incerteza

 

O mesmo sentimento de alegria não é compartilhado pela microempresária Jaqueline Duarte, que tem Henzo, de 7 anos. Para ela e o marido, Gilvan Duarte, a notícia foi recebida com preocupação, em meio a essa situação atípica.

“Ainda não foram vacinados todos os adultos, que precisa tomar as duas doses para ficarem imunizados, e temos nesse cenário uma grande quantidade de professores que tomou apenas a primeira dose", avaliou Jaqueline.

Foto: Arquivo Pessoal

Ela acredita ainda que as crianças menores terão enorme dificuldade em cumprir os protocolos de segurança e higiene. “Boa parte das escolas vão cumprir, mas as crianças menores vão descumprir os protocolos de higiene, principalmente o uso da máscara na hora do intervalo.

Já o filho do casal, Henzo Duarte, ficou feliz com a possibilidade de voltar à escola e rever os colegas. Por outro lado, o garoto percebe que essa não será uma tarefa fácil, pelo menos por agora. "Meu filho ficou feliz, mas achando que seria tudo normal. Quando a gente fala dos protocolos que serão exigidos na escola, ele fica pensativo”, relatou.

Riscos

O infectologista Igor Araújo, que trabalha no Hospital Estadual da Criança (HEC), em Feira de Santana, avalia que o retorno das aulas em forma híbrido pode ser seguro, quando analisados os dados de estudos recentes sobre a transmissibilidade da covid-19 em crianças.

Foto: Ed Santos/ Acorda Cidade

“Com certeza é seguro, baseado no que a gente viu na volta às aulas no mundo e no Brasil. Os outros estados servem de parâmetro pra gente. No Espírito Santo, minhas sobrinhas e afilhadas já retornaram. Nos Estados Unidos e países da Europa já retomaram as aulas e isso não mostrou alteração de impacto nem de aumento de casos em crianças, nem na população em si. Os estudos mostram que as chances de uma criança transmitir pra terceiros chega a ser um terço do que o adulto transmite. Então pensando que o adulto transmite 100% pra outra pessoa, a criança transmite 66% a menos para terceiros. Estudos mostraram que quando uma criança apresentou sintomas de covid na escola, e a sala foi isolada em casa, as outras crianças não manifestaram sintomas. Então isso nos dá tranquilidade para dizer aos pais que elas devem voltar. A Bahia não tem que ser diferente do mundo”, avaliou o médico.

Ele reforçou que a transmissão entre crianças é muito menor, e que a volta às aulas é importante. Os fatores psicológicos, segundo o especialista, são bem mais agressivos e preocupantes hoje na pandemia que quadros de covid em crianças e sua transmissibilidade.

“Se nós analisarmos que o adulto transmite mais que a criança e este já está saindo, aglomerando mais que a criança, esse adulto terá mais chance de transmitir em casa para a criança do que o sistema híbrido.”

Protocolos na escola

O infectologista informou que no Ministério da Saúde existe uma comissão de infectologistas e pneumologistas, que ajudaram as Secretarias de Saúde e Educação para o retorno às aulas no Brasil. E o que ele orienta aos pais é buscar saber como será feito na creche ou escola da sua escolha.

“O pai tem que saber o que a escola está propondo, o que vai ser feito, quantidade de alunos por aula, alunos por professor. Se a criança apresentar sintomas como será dali em diante. Isso vai nos dar tranquilidade pra os pais decidirem se vão colocar seus filhos nas aulas mesmo ou não. Do mesmo jeito, somente os pais conhecem os filhos, se conseguem ficar de máscara, se fazem a lavagem das mãos, se é uma criança que fica com as máscaras, sem ficar manipulando muito o rosto, e se você convive com pessoas que têm problemas de saúde. Temos que pensar no geral, conhecer o filho, conhecer a escola. Agora aquela criança que tem problemas de saúde mais específicos, entende-se que realmente fique mais em casa e tenha uma avaliação mais ponderada. Os professores correm menos risco que a criança, se pensarmos que a criança transmite menos que o adulto”, explicou. 

 

Com informações da produtora Maylla Nunes do Acorda Cidade.

Inscrever-se
Notificar de
0 Comentários
mais recentes
mais antigos Mais votado
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários