Educação

Livros emprestados e o hábito de ler à noite mudaram a história de vida de estudante de 10 anos

Para enfatizar o quanto gosta de ler, relembra um momento em que ouviu alguns resmungos de uma senhora na rua enquanto lia um livro ao mesmo tempo em que caminhava para casa.

Lineia Fernandes

Os livros contam muitas histórias. Mas as histórias incríveis que surgem por causa deles são surpreendentes e também merecem destaque. Taissa Gomes, de 10 anos, é um exemplo de uma dessas trajetórias nascidas por causa dos livros. E ela compartilhou um pouco de sua relação com a leitura na roda de conversa “Um dedo de prosa sobre o encontro com a leitura”, durante a 12ª Feira do Livro – Festival Literário e Cultural de Feira de Santana.

Fotos: Andreyse Porto

Havia apenas creches particulares no bairro em que Taissa morava quando mais nova. Como sua mãe não tinha condições financeiras para matriculá-la em uma dessas instituições, deixava-a em casa enquanto ia trabalhar como empregada doméstica. A dona de casa saía logo cedo e só voltava à noite, e a menina não frequentou uma instituição de ensino até certo ponto de sua vida.

Fotos: Andreyse Porto

Mas uma coisa fez a diferença na vida da criança: frequentemente, sua mãe voltava para casa com um livro em mãos. Sua patroa gostava de ler e quando finalizava algumas dessas leituras, emprestava-lhe alguns exemplares. E foi com estes livros que a doméstica se esforçou para ensinar a filha a ler aos pouquinhos, após longos e sucessivos dias de trabalho.

Taissa foi matriculada em uma creche pela primeira vez aos seis anos. Hoje, aluna do 5º ano da Escola Municipal Eurides Franco de Lacerda, do bairro Conceição, é ela quem influencia e ajuda os amigos a lerem. A primeira vez que pisou na sala de leitura da unidade de ensino, ela conta, sentiu-se em casa. “Tinha muitos livros que eu gostava: gibis, clássicos”, relata.

Para enfatizar o quanto gosta de ler, relembra um momento em que ouviu alguns resmungos de uma senhora na rua enquanto lia um livro ao mesmo tempo em que caminhava para casa. Algo que não lhe incomodou nem um pouco, garante.

Há um acordo entre estudantes e a equipe pedagógica na Escola Eurides Franco de Lacerda: o aluno que terminar suas atividades mais cedo tem direito a um momento de leitura livre; ele pode escolher livros e formar sua caixinha de leitura – é mais uma forma de incentivar o hábito. Taissa já usufruía bastante da regra em 2018, mas este ano, ela diz que vem abusando ainda mais.

Taissa é uma menina tímida e simples. Parecia um pouco nervosa enquanto falava, apesar de falar bem. Ela diz ter orgulho de sua escola, “do jeitinho que ela é”, por ter lhe proporcionado um espaço para ler; por incentivá-la. Ao finalizar sua participação na roda de conversa, quis apenas agradecer pela oportunidade. “Espero que o que eu falei aqui hoje possa incentivar outras crianças a gostarem de ler”, recomenda a estudante.

Gleice Anne Silva de Souza Assis, diretora da Eurides Franco de Lacerda, acompanhou Taissa neste momento. O mesmo potencial que ela vê na aluna, enxerga em todo estudante da escola. “Taissa tem esse prazer em ler. O que a escola faz é dar acesso aos alunos. Acreditamos que todas as crianças e adolescentes têm as mesmas possibilidades, mas não oportunidades. É dando este acesso que a gente pode despertar esse prazer em ler”.

A roda de conversa

A roda de conversa “Um dedo de prosa sobre o encontro com a leitura” integrou a campanha de doação de livros organizada pela coordenação da Flifs e pela Secretaria Municipal de Educação para contemplar também crianças que visitam a Feira, mas não têm condições financeiras de adquirir um livro.

A campanha nasceu há anos da parceria entre a Feira do Livro e as escolas da rede privada de Feira de Santana – são as instituições particulares que fazem as doações. Este ano, foram 19 unidades de ensino parceiras e cerca de 2000 livros arrecadados – os livros ficaram em dois estandes da Flifs, e as crianças puderam escolher quais eles queriam levar para casa. A roda de conversa leva os alunos de ambas as redes – pública e privada – para uma conversa.

“A ideia é fazer com que essas pessoas se encontrem, tanto quem doa, quanto quem recebe. Para proporcionarmos uma boa conversa sobre a leitura; mostrar como é importante você incentivar, ser incentivado. E para fazer com que a leitura aproxime essas pessoas; sem diferenças. Que a gente promova a nossa democracia e a cidadania através da formação de bons cidadãos”, destaca a professora Rosana Falcão, da equipe técnica da Secretaria Municipal de Educação, que participa da coordenação da campanha.

A roda de conversa aconteceu em duas ocasiões nesta 12ª edição da Flifs. Na última, participaram alunos das escolas municipais Eurides Franco de Lacerda e Ernestina Carneiro. Dentre as instituições particulares, estiveram presentes os estudantes da Creche Escola Prime; Colégio Adventista; João Paulo I e Creche Escola Aconchego de Mãe.

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