O envelhecer traz consigo enormes desafios em muitos aspectos da vida cotidiana. Muitos mitos e tabus rondam a questão do envelhecimento, por isso é preciso dialogar com a sociedade e buscar desconstruir preconceitos, para viver uma vida cheia de equilíbrio, saúde, e acima de tudo, com novas conquistas.
Aos 65 anos, completados no último dia 15 de março, o fotógrafo e jornalista Gutemberg Suzarte de Oliveira foi uma dessas pessoas que não se deixou abalar pelo mito do envelhecimento.
Em entrevista ao Acorda Cidade, ele relembrou o momento em que decidiu fazer um curso de graduação pela primeira vez e como foi recepcionado pelos colegas.
O fotógrafo foi estudante do curso de Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo da Faculdade Anísio Teixeira, em Feira de Santana, de 2019 a 2022. Hoje graduado, ele contou como foi o período em que esteve ao lado de pessoas muito mais jovens que ele, lutando em busca da realização dos seus sonhos.
“Eu iniciei o curso em 2019.1 e conclui em 2022.2, com toda a pandemia, tivemos aula online, mas o foco foi maior que a pandemia e com muita resiliência e apoio da família consegui. A minha avaliação sobre a faculdade foi muito boa. Não foi difícil para mim fazer o curso, pois como sou fotógrafo, ele nos dá uma visão muito ampla de como se comunicar e para a fotografia você tem que ter um olhar muito clínico e acima de tudo uma comunicação muito ampla. Hoje estou com 65 anos, que fiz recentemente no dia 15 de março. Nunca me senti desconfortável durante o curso, nem perante os colegas, pois sou muito fácil de fazer amigos”, relatou Gutemberg Suzarte.
Ele destacou que antes de entrar na faculdade, a última vez que havia entrado em uma sala de aula foi 1976, quando completou o ensino médio.
“Eu nunca tinha tido a experiência de estudar com pessoas mais jovens. Terminei meu segundo grau em 1976 e depois o pensamento era trabalhar. Agora, estar no convívio dos jovens foi muito bom, pois depois de estar com meus colegas, parceiros, me trataram muito bem.”
Sobre o caso que, recentemente veio à tona de uma mulher de 40 anos que sofreu preconceito por estar na universidade, no curso de Biomedicina, o jornalista avaliou que ela foi alvo de discriminação, assim como muitas outras pessoas, por conta da idade. No entanto, pessoas de todas as idades têm o direito de lutar pelo que desejam, sem sofrer o preconceito de idade.
“Para quem não sabe esse tipo de atitude é chamado de etarismo, que é o preconceito contra pessoas por causa da sua idade. Esse preconceito afeta pessoas jovens, porém é muito mais comuns contra pessoas idosas. Todas as idades devem ter a oportunidade de estudar e trabalhar. Sem o estudo, o indivíduo não é nada. O educador Paulo Freire já dizia que a educação não transforma o mundo. A educação transforma as pessoas, e as pessoas transformam o mundo. Sem conhecimento, o ser humano é incapaz de interagir, de criar e até mesmo de falar.”
A presidente do Conselho do Idoso, Irene Azevedo Brito, opinou que pessoas mais jovens precisam rever essa questão do preconceito contra o envelhecimento.
“O etarismo é o preconceito contra o envelhecimento, e os jovens precisam repensar isso, pois todos vamos envelhecer. É essa forma de preconceito contra a idade de uma pessoa, achando que ela não serve mais para nada. Por que uma pessoa de 20 anos acha que outra de 40 envelheceu a ponto de não servir para ajudar? A pessoa idosa tem sonhos. E quem não sonha em ter uma graduação? Conheço pessoas idosas que estão com poemas guardados, editando livros, recentemente ouvi a história de um senhor de 65 anos que passou para Medicina, um sonho que estava guardado”, refletiu a presidente do Conselho.
Ela ressaltou que, em Feira de Santana, há muitas queixas de violência contra pessoas idosas.
“Acham que essas pessoas não servem, então há violência de todas as formas. Parece que isso acontece mais hoje do que antigamente. Eu tenho 58 anos e aos 44 fui cursar minha primeira graduação, que era meu sonho. Isso tem 10 anos e não senti esse preconceito. Parece que está mais forte agora que no passado. As pessoas precisam rever esse preconceito com a pessoa idosa. Eu acredito que por mais que existam as leis, também existe a falta de amor na humanidade. A pessoa idosa já contribuiu muito e tem seus desejos. O idoso pode ir aonde ele quiser e fazer o que quiser”, enfatizou Irene Azevedo.
Conforme a presidente do Conselho do Idoso, pessoas vítimas de preconceito, seja ele qual for, devem denunciar.
“Em caso de preconceito, as vítimas devem denunciar ao Conselho, ao Núcleo de Violência, e principalmente ao Disque 100, que é uma central atuante e a denúncia vai chegar aonde é de direito. Denuncia, sim, porque a gente não pode aceitar mais nenhum tipo de preconceito. A pessoa quando sofre esse tipo de preconceito começa a se sentir incapaz, e aí a gente tem aquela pessoa envelhecida, depressiva, por achar que não tem mais serventia. Os idosos a partir de 60 anos têm seus direitos assistidos”, reiterou.
Com informações do repórter Paulo José do Acorda Cidade.
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