Acorda Cidade
Professor de história e literatura na rede privada da Grande São Paulo, Dennis Almeida preparou a aula que daria aos alunos do ensino médio. Entrou na sala, mas não encontrou ninguém. Ligou a câmera, e nenhum estudante estava online.
"Me senti um lixo. Não pelo abandono, mas por ter sido fácil demais fazer isso", escreveu no Twitter.
O post viralizou: recebeu mais de 55 mil curtidas em três dias. Nas respostas, outros docentes se solidarizaram e contaram que estão passando por situações semelhantes. Alguns criticaram: "Deveria dar um teste difícil para os alunos!".
Ao G1, Almeida explica que seu post não era uma reclamação contra os estudantes. "A questão não foi não ter ninguém – isso nunca tinha acontecido. O que me machucou foi ver a facilidade com que lidei com a situação", diz.
"Precisa ter uma troca [entre professor e alunos]. Eu nunca acreditei que falar sozinho para uma câmera, sem interagir com ninguém, seria uma boa aula. Mas, na pandemia, estou fazendo justamente aquilo que eu considerava inviável. E sem perceber", conta.
Pelo sistema híbrido, parte da classe ficaria em casa, e parte acompanharia virtualmente, em tempo real. Segundo o professor, no passado, ele teria ficado revoltado com a ausência da turma inteira, e iria imediatamente avisar a coordenação.
Dessa vez, no entanto, apenas decidiu gravar o vídeo e disponibilizá-lo na internet, caso alguém decidisse acessar o conteúdo depois.
"Eu fui falando sozinho, sem nenhum pesar. Só no fim que pensei: 'o que estou fazendo aqui?' Como pude aceitar isso? Meu padrão do que é uma aula decente está lá embaixo. Eu decaí", afirma Almeida.
Exaustão na pandemia
O professor atribui a mudança de postura ao cansaço e ao desgaste trazidos pela pandemia.
"A gente entrou em piloto automático, de estafa completa. E os alunos também não aguentam mais ficar 6 ou 7 horas assistindo às aulas. No começo, ligavam a câmera. Depois, só falavam no chat. Agora, nem isso", conta.
A aula seguinte ao desabafo de Almeida foi agitada. Os alunos estavam chateados com as críticas que receberam nas redes sociais e tentaram se justificar.
"Alguns disseram que não receberam notificação [da plataforma on-line]. Outros contaram que não puderam entrar mesmo. Cada um tem seu argumento", diz.
"Muitos desses meninos chegaram ao limite do que conseguem entregar. Eles são ótimos, em geral; sempre foram participativos. Tudo isso acontece nestes tempos loucos que estamos vivendo."
Fonte: G1