Feira de Santana

Dia do professor: educadoras relembram as dificuldades enfrentadas para criar vínculos com estudantes através das telas virtuais

De acordo com os dados obtidos pelo Acorda Cidade, mais de 4.500 profissionais atuam em Feira de Santana.

Gabriel Gonçalves

O Dia do Professor é comemorado anualmente no Brasil, sempre no dia 15 de outubro, data que homenageia a importância do profissional estabelecida no ano de 1963.

Em Feira de Santana, cerca de 770 educadores fazem parte da rede particular, de acordo com o Sindicato dos Professores da Rede Privada (Sinpro). Já na rede municipal, este número alcança até 2 mil professores, segundo dados da Secretaria Municipal de Educação e 2.050 professores, ocupam as funções pela Secretaria Estadual de Educação, de acordo com o Núcleo Territorial de Educação (NTE).

Com quase 25 anos de experiência, a professora Iraildes Soares, conhecida como 'Pró Idy', informou ao Acorda Cidade que nunca teve pretensão em ser uma educadora, mas foi a partir do contato com uma aluna da sua tia, que o amor e o desejo de seguir a profissão despertaram de forma inexplicável.

"Eu comecei a lecionar muito nova, tinha completado 18 anos na época e foi um grande presente, porque eu não esperava ser professora, não era isso que eu estava planejando. Eu tenho uma tia que inclusive é professora, e sempre estava envolvida com ela em apresentações para o Dia das Mães, Dia dos Pais e uma vez, enquanto não estava tendo os ensaios, eu estava aguardando quietinha no fundo da sala, quando uma garotinha pegou um caderninho, veio em minha direção e disse 'tia, você me ajuda?' Aquilo mexeu comigo de uma forma, que eu só queria saber de ensinar e estou até hoje neste caminho e no próximo ano completo 25 anos de professora e 22 anos de carteira assinada", disse.

Com a chegada da pandemia, muitos profissionais precisaram se reinventar no modo de lecionar. Mesmo estando com todo apoio da escola, foi preciso obter novos conhecimentos, além da nova maneira em como explicar assuntos e saber manusear perfeitamente as novas ferramentas de trabalho.

Para driblar uma rotina exaustiva em frente a tela do computador, a 'Pró Idy', decidiu transformar a parede de casa em uma lousa de sala de aula.

Foi desta forma, que a professora do Ensino Fundamental II, conseguiu vencer mais uma barreira dentro da carreira profissional, fazendo com que seus alunos, não perdessem a oportunidade de estarem sempre aprendendo.

"Foi um dos grandes desafios da profissão em poder lecionar, acredito que para a maioria dos profissionais, porque foi um desafio poder criar vínculo com o aluno, com essa criança. Dentro desses 25 anos de sala de aula, eu nunca imaginei na minha vida, que estaria dando aula para crianças de 8, 9 anos de idade por uma tela de notebook, por uma tela de celular. Infelizmente falta o olho no olho, aquele toque, o abraço, poder dar bom dia, boa tarde e como eu sempre estava acostumada com isso, essa afetividade foi abalada. Mas eu venci, assim como outros colegas profissionais também venceram, porque era preciso segurar a atenção daquela criança que estava ali do lado do irmão, do pai, da mãe, acontecia alguma coisa lá na casa, e o professor tinha que ter essa segurança em manter ele ali atento a aula. Foi uma missão muito grande em ter que dar aula remota para crianças", destacou.

Para a professora Iraildes, a palavra 'valorização' é uma ação forte e necessária, mas que infelizmente só tem o reconhecimento dentro do ambiente escolar.

"Será que realmente estamos sendo valorizados? Em nosso dia a dia, nós recebemos o carinho dos alunos, a gente recebe os recadinhos, os agradecimentos, mimos, mas enquanto professora, eu particularmente queria ser mais valorizada. A sociedade brasileira enquanto estado, que aí eu trago a participação dos governantes, deveriam perceber a importância de ser um professor. Pode ser até clichê isso que vou dizer, mas para ser um médico, deputado, vereador, entre tantas outras profissões, antes de tudo, passam pelos professores, no entanto, infelizmente essa valorização não acontece, apenas em nosso ambiente de trabalho. Se a gente for parar para analisar, vemos que em outros países, existe sim essa valorização para nossa categoria, mas não é o mesmo que acontece aqui no Brasil. Para que o professor possa sobreviver, ele precisa trabalhar em dois, três empregos e acredito que isso não deveria ser necessário, temos muitos professores aí que trabalham a vida toda e no final da sua trajetória, acabam se aposentando com um salário mínimo, então precisamos rever os nossos conceitos em relação à valorização dos professores", concluiu.

Com quase 30 anos de profissão, a professora Ana Lúcia Souza Santos, foi a responsável pelo destino profissional da Pró Idy. Hoje, ela se sente feliz e satisfeita, em poder inspirar através da profissão, outras pessoas a se espelharem na dedicação que tem em sala de aula.

"Hoje a minha sobrinha, a Pró Idy é uma excelente profissional, ela me via planejando as aulas, me fantasiando, sempre chegava em casa falando sobre o meu trabalho e foi a partir daí que ela também fez pedagogia, trabalhou em escolas que eu trabalhei e tenho muito orgulho em saber que eu pude inspirar ela, fazendo a diferença na vida de muitas famílias e principalmente de crianças. Isso não tem preço,o que aconteceu na vida dela e da minha, pois foi através das minha ações, pelo amor de ser professor que ela se encontrou", declarou.

Foto: Arquivo Pessoal

Embora servindo como exemplo para outras pessoas, a professora Ana Lúcia também encontrou o desejo de lecionar no seu tempo de aluna. Segundo ela, a diretora da escola, pedia auxílios para escrever as atividades no quadro.

"O meu interesse em querer dar aula, iniciou quando ainda era criança. Eu estudava em uma escola particular, e sempre me destaquei na leitura e na escrita, tinha uma boa caligrafia e a proprietária da escola me pedia para tomar a leitura das outras crianças e colocar as atividades no quadro. A partir daí, eu comecei a gostar e o interesse foi despertando cada vez mais e quando ingressei em uma sala de aula mesmo, foi na década de 90 quando sai do Gastão Guimarães", disse.

A pandemia da Covid-19, também foi mais um desafio enfrentado pela professora Ana Lúcia. Segundo ela, foi complicado ter que aceitar que da 'noite para o dia', precisaria reformular todo método de ensino.

"O que muito marcou na minha trajetória enquanto profissional, foi este período de pandemia que foi muito difícil. Ter que lidar com aulas online, da noite para o dia, a gente ter que se virar e o mais complicado, manter aquele vínculo afetivo com todos os estudantes do outro lado da tela. Foi uma realidade diferente, eu sentia a falta do olho no olho, o contato presencial, a interação em sala e acredito que este foi um dos grandes desafios enfrentados por todos os profissionais durante a pandemia", lamentou.

Para Ana Lúcia, o dia 15 de outubro é para relembrar a importância dos profissionais para os estudantes que ao se tornarem adultos, terão a lembrança daquela pessoa que foi a base de toda uma construção do conhecimento.

"Quando eu chego em alguns locais, escuto: 'professora, lembra de mim? Hoje eu sou professora de Educação Física. Professora, lembra de mim? Hoje sou nutricionista, sou fisioterapeuta'. Então eu confesso que as lágrimas cem dos olhos porque é muito gratificante encontrá-los e saber que fizemos parte dessa história, parte da base lá atrás e sempre vamos continuar com a nossa luta. Mesmo diante de tanta valorização, a gente sempre coloca em primeiro lugar esse amor em dizer: sou professor sim com muito orgulho", concluiu.

Com informações do repórter Ed Santos e Maylla Nunes do Acorda Cidade

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