Andrea Trindade
O astrofísico e professor da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs), Marildo Pereira, participou de uma pesquisa que identificou sinais robustos da existência de um planeta gigante na constelação do Cisne. O estudo durou quase sete anos.
As evidências revelam que o chamado, exoplaneta (planeta que orbita uma estrela que não seja o Sol) possui massa mínima estimada de aproximadamente treze vezes a massa do planeta Júpiter, se encontrando em uma órbita de cerca de seis vezes e meia a distância Terra-Sol.
A pesquisa foi publicada em diversos meios de divulgação do mundo, inclusive no Astronomical Journal e no site da Forbes, uma das maiores revistas do mundo. Liderado pelo ex-estudante de Física da Uefs e atualmente pós-doutorando no Instituto de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Leonardo A. Almeida, o estudo também teve a colaboração do ex-estudante da Uefs Carlos E. F. Lopes, e outros pesquisadores do Inpe, IAG-USP e UFRN.
O professor Marildo Pereira contou que em 2013 ele e o professor Leonardo estavam garimpando o banco de dados do Satélite Espacial Kepler (da agência espacial norte-americana, NASA) quando se depararam com um interessante par de estrelas. Eles passaram a estudar o comportamento do sistema encontrado, registrando vários fenômenos, inclusive eclipses, e passaram a analisar minunciosamente também observações feitas pelos telescópios do Grupo Isaac Newton nas Ilhas Canárias, Espanha. O objetivo era entender melhor aquele fenômeno.
Foto: Paulo José/Acorda Cidade (Arquivo)
Distinguir entre as duas causas virou um problema para os astrofísicos, pois a determinação do ciclo de atividade magnética de uma estrela pode demandar vários anos de observação (no caso do Sol 11 anos). Por sorte, dois fatores contribuíram para ajudá-los a resolver o problema. Primeiro a excelente cobertura de observações feita pelo Satélite Kepler; e segundo a alta atividade magnética da estrela menos brilhante.
“Baseados nas observações obtidas entre 2005 e 2017, determinamos que os instantes de eclipse têm uma modulação de ~17 anos, ao passo que o ciclo de atividade magnética da estrela secundária ocorre em uma escala de tempo entre 500 e 700 dias. Desta forma, não encontramos evidências de que a atividade magnética provocasse perturbações nos instantes de eclipses em nenhuma escala de tempo observada. Descartada a hipótese da perturbação observada ser devido à atividade magnética, foram usadas as Leis de Kepler e a Lei Universal da Gravitação para analisar a amplitude e o período da perturbação orbital, de forma a permitir a modelagem do sistema e assim determinar a massa do corpo estranho (este procedimento é bem semelhante aos usados nas descobertas do planeta Netuno e do planeta anão Plutão). E foi assim que chegou-se ao resultado revelando a possibilidade de existência de um planeta com a massa mínima estimada de aproximadamente treze vezes a massa do planeta Júpiter, se encontrando em uma órbita de cerca de seis vezes e meia a distância Terra-Sol”, informou o astrofísico Marildo Pereira.
Diante da descoberta, segundo o astrofísico, surgiram novos questionamentos, entre eles saber se o exoplaneta se trata de um planeta de primeira ou segunda geração e se a sua detecção direta poderá ser feita quando entrar em operação a nova geração de telescópios gigantes com espelhos primários maiores do que 20 metros.
O professor Marildo cita como exemplo o Telescópio Gigante Magalhães (GMT, em inglês), no deserto do Atacama, no Chile, previsto para coletar sua primeira luz em 2024, e terá a participação do Brasil.
O artigo referente a descoberta foi publicado agora no início de abril na importante revista internacional de astronomia The Astronomical Journal, intitulado Orbital period variation of KIC 10544976: Applegate mechanism versus light travel time effect, assinado por Leonardo A. Almeida, Leandro de Almeida, Augusto Damineli, Claudia V. Rodrigues, Matthieu Castro, Carlos E. F. Lopes, Francisco Jablonski, José D. do Nascimento Jr. e Marildo G. Pereira.
Para acessar o artigo:
http://iopscience-iop-org-443.webvpn.jxust.edu.cn/article/10.3847/1538-3881/ab0963/pdf.
DOI: 10.3847/1538-3881/ab0963