Acorda Cidade
A maior mudança notada devido à pandemia de Covid-19 foi a adoção do isolamento social e, com ele, a suspensão de aulas presenciais nas escolas. A alternativa está sendo adotar uma espécie de “homeschooling”, onde o aprendizado acontece no próprio lar. Mas alunos e pais se viram diante de um novo desafio: como levar o aprendizado da escola para casa de forma satisfatória? A professora do curso de Pedagogia da Unifacs, Emeline Gimenez, traz dicas para ajudar a solucionar essa questão.
Uma das atitudes tomadas pelas escolas é o envio de tarefas para serem feitas, gravação de videoaulas pelos professores ou encontros através de videochamadas. No entanto, alguns desafios pedagógicos se impõem para este formato de ensino como, por exemplo, a falta de um espaço adequado para o estudo, falta de computador ou internet e, até mesmo, a falta de conhecimento dos pais sobre o assunto. Isto somado à falta de tempo, ainda mais em um cenário em que muitos adultos continuam trabalhando normalmente na modalidade home office.
Educação domiciliar
Para entender melhor essa nova realidade é preciso diferenciar o conceito de homeschooling, ou educação domiciliar tradicional do que está sendo vivenciado na atualidade. A pedagoga explica: “Partamos do princípio de que o que está acontecendo em nosso país no momento não deve ser comparado à filosofia homescholling. Assim, esse momento de comunicação remota está adaptando algumas vertentes dessa filosofia, porém continua acontecendo com a orientação daquele professor que, anteriormente, já havia construído um vínculo afetivo com a criança”. Ela acredita que é a partir desse vínculo que o sujeito em formação continuará aprendendo.
“Penso que o papel do professor presencialmente é insubstituível e isso será uma grande perda”, acredita a professora Emeline. Mesmo assim, ela defende que esse ensino a distância é uma medida amenizadora para o momento. “Enxerguemos a oportunidade de inovarmos, criarmos e sermos seres humanos mais resilientes e de aproveitarmos esse tempo para participar mais da atividade da aprendizagem dos nossos filhos”, conclui.
Como fazer
A criança é capaz de aprender mesmo onde os adultos não enxergam possibilidades. A professora Emeline dá três dicas para orientar os pais a agirem na aplicação dessa didática no ensino no lar.
1 – Elabore com seu filho uma rotina que tenha um horário para cada coisa e a deixe exposta para que a própria criança vá garantindo o cumprimento de suas tarefas. Lembre-se de permitir que elas também escolham algumas atividades. Isso auxiliará na organização mental, desenvolverá sua autonomia e consequentemente diminuirá a ansiedade.
2 – Envolva a criança em todas as atividades. Permita que ele auxilie nas tarefas domésticas, organize seus brinquedos, cuide do seu próprio quarto, enfim, colabore como qualquer outro membro da família. Desenvolvendo atividades corriqueiras do lar, a criança estará propícia a aprender muito.
3 – Coloque-se no lugar do seu filho. Ele está muito mais à mercê desse processo que você. Principalmente se você já está sendo orientado pela escola, ao receber os conteúdos, pense em como gostaria de aprender aquele assunto. Utilize brinquedos, brincadeiras e músicas, movimentos gestuais para auxiliar essa criança a compreender o assunto. A ludicidade é uma grande aliada nessa jornada.
Explorando o lúdico
Qualquer coisa nesse momento pode e deve ser um instrumento de aprendizagem, pois a criança ama investigar, descobrir, participar e colaborar. Basta que o adulto abra o espaço para que ela seja também protagonista ativa e valorizada nesse âmbito familiar. Com uma atividade lúdica é possível correlacionar diversas disciplinas e conteúdos de uma forma dinâmica. Para entender melhor, a pedagoga utiliza o exemplo de fazer um bolo.
“Ao ler a receita, separar os ingredientes, e quantificá-los, já envolvemos a matemática e a língua portuguesa. Em seguida contempla-se a ciência preparando a massa, misturando os ingredientes e percebendo as transformações químicas. Por fim, ao degustar o preparo, conversar e contar para a criança como aprendeu essa receita (herança de mãe ou avó), nesse momento contemplará a história, explorando a identidade familiar”, comenta.
Garantindo o rendimento
Para assegurar que o aluno possua um rendimento com o aprendizado doméstico, a professora Emeline afirma que é preciso conscientizar as crianças e os jovens. “É preciso orientá-los que o ato de aprender é uma atividade voluntária, ou seja, o cérebro da criança aceita ou não aprender aquilo. Assim, quanto mais equilibrada e feliz essa criança estiver, melhor ela se desenvolverá”, elucida.
“Esse é o papel do professor: partir do que o aluno já sabe para, assim, ampliar o seu conhecimento. Então sugiro que observemos os conhecimentos prévios das crianças, bem como os materiais que temos em casa para que elas possam explorar, recortar, colar, amassar, produzir. Percebamos que em tudo há formas geométricas, números e letras, cores; basta que enxerguemos possibilidades nos mínimos detalhes”, conclui.