Gabriel Gonçalves
A pandemia de covid-19 tem afetado a saúde mental não só dos adultos, mas também de jovens e crianças. As mudanças de hábitos por conta da suspensão das aulas presenciais e o distanciamento social causaram um impacto negativo na saúde mental dos pequenos.
Guilherme, de apenas seis anos, costumava viajar no período das férias, mas para evitar a contaminação pelo vírus, os pais precisaram modificar sua rotina. A mãe dele, Laina Rios, buscou alternativas para que ele pudesse ocupar o tempo livre em casa.
Foto: Arquivo Pessoal
"Nesse período de pandemia, Guilherme tem ficado muito tempo com a gente dentro de casa e adotamos algumas alternativas como andar de bicicleta dentro do condomínio, atividades escolares, desenhos para colorir, quebra-cabeças, e em alguns momentos deixamos ele brincar no tablet, sempre ocupando a mente dele. Como as crianças têm ficado muito tempo dentro de casa, gera estresse e agora com esse retorno das aulas, acredito que não possa melhorar, porque ainda vai continuar de forma online, mas estamos fazendo um pouco de tudo para entreter ele", destacou.
Para Verbênia Marclei, mãe da pequena Ana Sophia, as brincadeiras durante o período da pandemia foi uma das atividades mais praticadas dentro de casa, tudo isso como forma de substituir a ausência das coleguinhas de Sophia.
Foto: Arquivo Pessoal
"Todo mundo ficou dentro de casa nesse período, Sophia veio sair praticamente no final do mês de setembro, então para que ela não ficasse estressada, o nosso foco foi alternar com as brincadeiras, fazendo com que ela não sentisse tanta falta das coleguinhas da escola. Ela gosta muito de pintar, então aproveitamos essas atividades para ocupar a mente. Caso tenha o retorno das aulas, ela vai ter a oportunidade de rever as amigas, poder brincar com elas e não se sentir tão só como se sente aqui em casa, mas existe um grupinho com quatro amigas e que ficam se falando. É um pouco complicado, mas estamos fazendo o melhor para passar por cima disso tudo", explicou Verbênia ao Acorda Cidade.
De acordo com a psicóloga Débora Oliveira, após o início da pandemia resultando na suspensão das aulas presenciais, criou-se uma fila que não existia para atendimento psicológico infantil. Os pais relatam que os filhos estão apresentando quadro de ansiedade e agressividade.
"Cada vez mais tem se falado em transtorno mental que está surgindo na sociedade, principalmente neste período de pandemia que estamos vivendo. Aqui na clínica não tínhamos fila para atendimento infantil, e os pais estão buscando essa ajuda pois as crianças estão apresentando quadros de agressividade, ansiedade, irritabilidade, tudo isso em decorrência da pandemia", explicou.
Antes da suspensão das aulas presenciais, as famílias possuíam uma rotina diária, como deixar os filhos em instituições de ensino e seguirem para trabalhar. Por conta do momento atual, houve modificações principalmente nas atividades cognitivas das crianças. De acordo com Débora Oliveira, a escola cumpre um papel de socialização, onde os estudantes podem interagir com outras crianças da mesma faixa etária.
"As crianças perderam a rotina de ir para a escola. A rede de ensino tem o papel fundamental para além do desenvolvimento cognitivo, o papel da socialização, onde podem interagir, dividir as brincadeiras, partilhar experiências e de repente estão presas dentro das residências, interagindo apenas com os familiares ou outra criança da mesma faixa de idade", destacou.
Quando é indicado o acompanhamento psicológico infantil?
Segundo a psicóloga Débora Oliveira, os pais precisam identificar se as crianças estão apresentando quadros como episódios de irritabilidade, ansiedade, agressividade e se permanecem por muito tempo de forma isolada.
"Quando a criança está com um quadro ansioso instaurado, agressividade, irritabilidade, e ficando mais tempo em casa de forma isolada, isso prejudica no desenvolvimento e no crescimento dessa criança. Então nestes casos específicos em que identificamos um prejuízo social, é necessário que tenha um acompanhamento psicológico, mas a ansiedade em si, já é um processo natural do ser humano, não é porque a criança ficou ansiosa, irritada que já deve levar na clínica. Os pais precisam identificar esse processo e se existe uma frequência e intensidade nestes quadros apresentados", ressaltou a psicóloga em entrevista ao Acorda Cidade.
Como acontece o tratamento?
A psicóloga afirma que os atendimentos clínicos são diferentes entre as faixas etárias, pois os adultos procuram o acompanhamento clínico, já as crianças são levadas pelos pais.
"O adulto chega aqui com uma demanda, já sabendo que precisa de ajuda e a criança é trazida pelos pais. Perguntamos se está tudo bem, elas vão nos responder que está, porque aquela dinâmica familiar, mesmo que não seja o ideal, será o normal para a criança. Então realizamos a orientação parental, um trabalho em parceria do psicólogo com a família, e através desse método, percebemos que os pais estão perdidos em como agir com os filhos. Às vezes não é preciso ficar 100% do dia com os filhos, mas no momento em que os pais estão com as crianças, a atenção deve ser voltada para ela, naquele momento. É preciso ter bastante atenção, porque muitas vezes os pais proíbem os filhos de estarem com celular, mas os mesmos estão utilizando o aparelho, e na mente da criança, fica o questionamento por que ele pode e eu não posso? Então é preciso também avaliar como os pais estão se colocando para os filhos", finalizou.
Com informações do repórter Ney Silva do Acorda Cidade