Após conquistar vaga em curso de Medicina, jovem que estudava sem energia elétrica busca recursos para se manter

^{Gabriel Gonçalves}

Sempre dedicado aos estudos, o jovem feirense Matheus Araújo Moreira Silva, 26 anos de idade, já mostrou que as barreiras encontradas na vida continuarão sendo derrubadas.

Para conquistar a tão sonhada vaga no curso de Medicina, Matheus juntou todas as forças, e mesmo sem energia elétrica dentro de casa, persistiu e continuou com os estudos.

Resultado disso, foram os 980 pontos na prova da Redação no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) da edição do ano de 2020. No total, Matheus ficou com 708 pontos na média geral.

Após essa primeira etapa, o morador do Conjunto Viveiros venceu mais uma 'prova de vida' e conquistou a vaga na Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB), em Santo Antônio de Jesus, para cursar Medicina.

Atualmente, Matheus está finalizando o 2º semestre de maneira remota, mas já com todo planejamento para iniciar o curso presencial a partir do mês de abril deste ano.

Ao Acorda Cidade, Matheus informou que fez a prova do Enem mais uma vez, mas nesta última edição, foi como um incentivo aos estudantes que, assim como ele, buscam melhores condições de vida.

Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

"Essa última edição da prova do Enem que eu fiz foi como objetivo de acompanhar e incentivar meus alunos, através do projeto que montei, que é o 'Escrevendo Sonhos', com a finalidade de ajudar a galera das escolas públicas, então como forma de poder estimular os estudos, acompanhar o desenvolvimento, comentar sobre as questões, decidir também fazer a prova. Como essas aulas que eu dava eram de forma remota, eu cheguei a ter cerca de 20 estudantes, mas era um público não apenas aqui de Feira de Santana. Posso dizer que também foi uma experiência muito bacana, porque a gente sabe que os estudos de forma remota nessa pandemia não foram suficientes, o que prejudicou muita gente, mas na última quarta-feira já saiu o resultado do Enem e teve muita gente que tirou nota alta, notas de 900, 980 pontos e eles estão ansiosos, principalmente por aguardar o resultado do Sisu", comentou.

Há um ano, essa emoção em saber o resultado também tomava conta do jovem Matheus. Segundo ele, foi um grande momento de êxtase após oitos anos na tentativa.

"Eu fiquei muito feliz naquele momento do resultado, saber que foi uma vitória para mim, porque realmente foram oito anos tentando conseguir esta aprovação e vejo outras pessoas com esta mesma dedicação, que possuem esta persistência. Sabemos o quanto é complicado devido às situações vulneráveis e chegar em um curso bastante pleiteado é uma grande realização. Agora é focar também na segunda etapa, que é morar longe da minha família, morar em outra cidade", disse.

De acordo com Matheus, as aulas 100% presenciais têm início a partir do dia 11 de abril e ele está aproveitando a reta final do semestre para se organizar e fazer a mudança para o município de Santo Antônio de Jesus, onde está localizado o Campus da UFRB.

"Neste momento eu ainda estou estudando de forma online, finalizando o segundo semestre, porque devido a alguns atrasos, a Instituição decidiu levar direto, então eu fico aqui na casa do meu irmão pela questão do silêncio. Onde eu moro, tem muitas pessoas, tem a questão do barulho, eu tenho um irmão que é portador de necessidades especiais, então como o curso ainda está sendo realizado de forma online, eu preciso dessa concentração, mas a partir do dia 11 de abril, aulas presenciais", contou.

Devido ao curso ser diurno, Matheus informou à reportagem do Acorda Cidade que não tem como trabalhar durante o dia e estudar pela noite. Para isso, ele segue com o projeto e arrecadando fundos para manter os custos na outra cidade.

"Nesse momento, a minha rotina está sendo um pouco cansativa, porque eu tenho aula durante o dia e a noite eu tenho aula para dar reforço. Com isso, eu já estou juntando alguns recursos para me manter lá na cidade. Acredito que a partir do dia 20 de março eu já esteja me mudando e pelo que planejei, acredito que eu tenha dinheiro para ficar lá, por pelo menos cinco até seis meses e depois disso, eu preciso verificar uma nova alternativa. Como o curso é diurno, tenho aula pela manhã, aula pela tarde, é um padrão da Instituição, mas se não fosse isso, trabalhar seria o menor problema. Eu sei que a gente precisa caminhar com os pés no chão, então eu sei que estou indo morar lá, ainda preciso pensar em outras coisas, mas é pensar positivo que tudo vai dar certo", destacou.