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Depois de três anos de uma experiência pioneira, o Serviço Social da Indústria (Sesi), em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), formou, na quinta-feira (17), 198 estudantes de cinco estados – Bahia (51), Alagoas (40), Ceará (20), Espírito Santo (57) e Goiás (30). É a primeira turma do Novo Ensino Médio no Brasil, formada no chamado Itinerário V, que associa o ensino regular à formação técnica e profissional.
Na Bahia, o projeto piloto do Novo Ensino Médio foi desenvolvido nas unidades do Sesi e Senai de Feira de Santana. A gerente de Educação e Cultura do Sesi Bahia, Cléssia Lobo, lembra que os preparativos começaram em 2017 com a capacitação dos profissionais e mobilização de estudantes que tiveram essa oportunidade de forma gratuita.
“A integração da educação básica com a educação profissional responde aos anseios de jovens que precisam ter formação de qualidade, que os ajude na sua inserção no mundo do trabalho, e continuar estudando em níveis posteriores de formação”, destaca.
Para Patrícia Evangelista, gerente Executiva de Educação Profissional do Senai Bahia, é “uma grande satisfação fazer parte desse projeto. Trata-se de uma enorme oportunidade de integrar conhecimentos da educação básica a competências da formação técnica-profissional, trabalhando temas como liderança, gestão, inovação, empreendedorismo, raciocínio lógico, sustentabilidade, saúde e segurança e competências para a empregabilidade. Existe aí um grande benefício para o aluno, que, ao chegar ao final do ensino médio, também estará habilitado numa formação técnica e preparado para ingressar no mercado de trabalho”.
Patrícia Evangelista | Foto: João Alvarez/Coperphoto
Receber o certificado do Ensino Médio e do curso técnico de Eletrotécnica, em meio às dificuldades impostas pela pandemia e pela realidade socioeconômica das famílias, é a primeira conquista de uma nova trajetória que eles começaram a escrever em 2018. Os alunos ingressaram com gratuidade e 81,5% vieram de escolas públicas, 87% são da classe D e 13% são classe C. A estrutura Sesi Senai possibilitou adaptar as aulas para o modelo a distância, com aulas remotas, e cumprir o calendário escolar sem prejuízos na formação.
Clécia Lobo | Foto: Fernando Vivas/Fieb
Cléssia Lobo explicou que o projeto piloto finaliza com 100% de concluintes no ensino médio, o que é extremamente relevante para seguirmos nesse caminho”, complementa. Ela destaca que a reforma do Ensino prevê um currículo que foca em desenvolver competências nos jovens, promovendo melhores indicadores educacionais no país, como redução da evasão e ampliação da conclusão da educação básica. Para tanto, oferecerá cinco itinerários de formação: I – Linguagens; II- Matemática; III- Ciências da Natureza, IV- Ciências Humanas e V – Educação profissional.
“Este projeto na Bahia também visa reduzir desigualdades de oportunidades para esses jovens em um cenário que o Estado ainda tem desafios enormes neste segmento da educação básica”, destaca a gestora do Sesi Bahia. Para Cléssia, o currículo baseado nos eixos da educação tecnológica, científica e empreendedora, desenvolvimento de capacidades socioemocionais são demandas, principalmente no momento atual, em que adaptabilidade, empatia e criatividade são fundamentais.
Finalizar o projeto com o 3º. ano dos estudantes em meio a pandemia, em 2020, com o fechamento presencial das escolas, elevou os desafios das equipes, principalmente no engajamento dos estudantes e na necessidade de aulas experimentais e práticas de laboratórios, relata a gerente do Sesi. A superação foi a partir da oferta de metodologias ativas, com simuladores, aplicativos, ferramentas de comunicação e empréstimos de recursos tecnológicos para os estudantes, como computadores e modens de internet.
O curso de Eletrotécnica foi escolhido para as primeiras turmas após pesquisa em âmbito nacional, considerando a demanda de profissionais. Por atuar em diferentes segmentos com manutenção, projeto e execução elétrica e eletrônica, o técnico em eletrotécnica é um dos mais requisitados, com salário médio de R$ 1.700,00 a R$ 3.390,00.
Diretor-superintendente do SsesiI e diretor-geral do Senai, Rafael Lucchesi explica que as organizações são a referência nacional para implementar a formação técnica e profissional. Enquanto as escolas públicas e privadas têm até 2022 para implementar e estão dando os primeiros passos, a rede forma a primeira turma após três anos de muito aprendizado.
“Por mais de um século, tivemos um mesmo modelo de ensino, que não acompanhou as mudanças tecnológicas e as necessidades do mercado de trabalho e da indústria. O Novo Ensino Médio é a revolução desse modelo, possibilitando aos jovens experimentarem e construírem planos para o futuro profissional”, defende.
Oportunidades e perspectivas
Nos três anos de formação, estudantes, pais e docentes relatam amadurecimento profissional e pessoal dos formandos. Pais e estudantes da Escola Sesi José Carvalho, em Feira de Santana, descrevem a transformação que o novo modelo de ensino trouxe para suas vidas. Uma delas é a mãe da estudante Laísa Maia, Cristina Maia, que define como “um holofote na minha vida, não só a luz no fim do túnel”, a oportunidade de a filha ter conseguido a bolsa de estudos em um momento de instabilidade financeira da família, com a doença e a morte do marido e a venda do próprio salão de beleza. Para garantir que a adolescente não interrompesse os estudos na pandemia, o Sesi forneceu computador e promoveu as aulas on-line.
O estudante Igor de Oliveira fala das novas perspectivas que passou a vislumbrar. Ele pensa em trabalhar como eletrotécnico, cursar engenharia elétrica, fazer um MBA e entrar na área de administração para ser CEO de alguma empresa. “Tanto a escola tem que ser inspiradora quanto os alunos têm que ter comprometimento, não podem ser passivos. Só escutar o professor falar, anotar o que ele põe no quadro, depois ir para a casa e não estudar, não vai dar certo”, opina.
Micael Nildo de Oliveira Souza, Laura Lima Siqueira e Igor Roberto Brito compartilham percepções do novo método. “A principal diferença foi da conexão das áreas. A física complementava a química. Isso ocorreu, por exemplo, no estudo da teoria atômica. Foi bem mais interessante estudar português unido com artes e redação”, exemplifica Micael Nildo, que é da equipe de robótica finalista do Desafio Volta às aulas, promovida pelo Sesi.
Já o amadurecimento de Laura foi além de trocar a opção do curso superior – de medicina ou odontologia, que, ela acredita, eram mais um desejo dos pais, para engenheira civil na área militar. “Antes eu estudava para passar e não me importava muito com o aprendizado. No Sesi, eu lembro de uma professora que me marcou muito porque ela dizia que a prova não definia a gente. A gente tinha que estudar para aprender e agregar conhecimento na nossa vida. Agora eu estudo para aprender e não somente para passar”, conta.
Igor Brito é um exemplo de como o curso técnico abre um leque de possibilidades. Com o diploma de eletrotécnica, ele deseja conciliar o trabalho e o curso superior de engenharia elétrica.
A coordenadora pedagógica do Sesi, Glaubervânia Costa Silva Cardoso, se recorda das inúmeras perguntas feitas por docentes, pais e estudantes e das adaptações que foram sendo realizadas ao longo dos anos. “Nós já estávamos em um modelo inovador de ensino e tivemos que nos reinventar com ferramentas tecnológicas, dinâmicas à distância e aulas virtuais. Para as aulas do curso técnico em eletrotécnica, usamos bastante os simuladores”. Ela destaca que o Novo Ensino Médio consegue formar o estudante com qualidade e com enfoque profissional.
Gabriel Queiroz dos Santos, instrutor do Senai Jayme Villas-Boas Filho, de Feira de Santana, detalha o significado deste desafio. “Desde o início ficou claro para os professores que a gente estava fazendo algo novo. Que a gente ia fazer as coisas diferentes e não daria para a gente se basear pelo velho. Para dar certo, a gente tinha uma programação por ciclos e um planejamento praticamente semanal”, conta. Durante a experiência piloto, Gabriel deu aulas de eletricidade, leitura e interpretação de desenho, projetos elétricos prediais, segurança em eletricidade e instalações elétricas e industriais. Para ele, foi gratificante demonstrar, na prática, o que os alunos viam em sala de aula.
Com informações da Agência CNI