Para evitar sonegações, as transações via Pix acima de R$ 5 mil para pessoas físicas e R$ 15 mil para pessoas jurídicas serão informadas à Receita Federal. A novidade, que entrou em vigor no dia 1º de janeiro, gerou confusão nas redes sociais devido notícias falsas afirmando que o Pix seria taxado com um novo imposto. No entanto, essa informação é falsa.
Para esclarecer o assunto, o Programa Acorda Cidade, da Rádio Sociedade News 102.1 FM, recebeu na manhã desta sexta-feira (10) Gabriela Trindade, contadora e especialista em planejamento tributário. Ela trouxe informações importantes e desmistificou a confusão em torno das novas regras.
“A Receita Federal já tem acesso a informações bancárias desde 2015 por meio da E-Financeira, que obriga os bancos a informar movimentações a partir de R$ 2 mil para pessoas físicas e R$ 6 mil para jurídicas”, explicou Gabriela. A diferença agora, segundo ela, é que o monitoramento foi ampliado para fintechs, carteiras digitais e movimentações feitas com cartão de crédito.
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Não há taxação do Pix
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, desmentiu informações falsas sobre a criação de um imposto sobre o Pix na última quinta-feira (9). Vídeos falsos ou os “deepfakes” circulam com a imagem do gestor associada a diversas fake news, incluindo essa sobre o Pix.
Segundo a contadora, o que a Receita quer é garantir que as movimentações tenham lastro fiscal (o entendimento de onde veio o seu dinheiro — salários, rendimentos, faturamento, nota fiscal, etc.). Ou seja, que estejam compatíveis com a renda ou faturamento declarado pelo contribuinte. “A sua movimentação financeira geral precisa estar compatível com a sua renda fiscal”.
A especialista destacou que a fiscalização não mira exclusivamente o Pix, mas sim qualquer movimentação financeira — como TED, DOC ou saldo em conta. Atualmente, não é apenas a Receita Federal que monitora a movimentação bancária; o Sefaz (Secretaria da Fazenda) também pode rastrear.
“Toda vez que, de repente, a Sefaz ou a Receita cruza os dados, e eles verificam que a sua movimentação bancária está superior à sua movimentação fiscal, ele vai te notificar, seja por débito, crédito, Pix, transferência, TED ou DOC. Até porque a Instrução Normativa 2.219 de 2024 não fala somente de Pix; ela está dizendo movimentação bancária ou saldo dessa movimentação. Então, não é que é mais ou menos rastreável, é a movimentação bancária”, garantiu.
Pequenos comerciantes e trabalhadores informais
Questionada sobre o impacto da nova regra para pequenos comerciantes e trabalhadores informais, Gabriela explicou que a medida não deve trazer problemas desde que os valores estejam dentro dos limites permitidos por lei. Uma solução é ser Microempreendedor Individual (MEI) ou se tornar um, já que o faturamento anual permitido é de até R$ 81 mil.
“Se esses ambulantes, autônomos, estão enquadrados dentro desse valor, R$ 81 mil ao ano, não têm com o que se preocupar”, afirmou em entrevista ao Acorda Cidade.
Ela também reforçou que a formalização é a melhor estratégia para evitar problemas futuros. Quem ainda está na informalidade precisa buscar regularização: abrir um MEI, se for o caso, ou migrar para uma empresa no Simples Nacional, dependendo do volume de faturamento.
O papel da Receita Federal e as Fake News
Gabriela fez questão de ressaltar que a Receita Federal é uma das instituições mais avançadas tecnologicamente no monitoramento fiscal. Por isso, ela segue ampliando suas tecnologias para fiscalizar as movimentações financeiras e evitar sonegações fiscais.
No entanto, a circulação de fake news tem causado confusão. Muitas pessoas acreditam que serão multadas automaticamente ao movimentar valores altos via Pix, mas isso não é verdade. A Receita primeiramente notifica o contribuinte para que explique a origem dos recursos.
“Não tem como brigar contra as normativas, contra a legislação, e seguir no caminho da sonegação fiscal. Porque a Receita Federal do Brasil é uma das mais eficientes em tecnologia e rastreamento”.
Se você ganha R$ 10 mil e gasta R$ 5 mil no cartão de crédito, está totalmente dentro do padrão, porque as contas de onde vieram o seu dinheiro estão “batendo”, compatíveis. Agora, suponha que você ganha um salário mínimo e movimenta mais de R$ 5 mil por mês; a Receita Federal pode te notificar para saber de onde vem esse valor. Esse alerta é direcionado para aquelas pessoas que “gostam” de emprestar cartão de crédito a amigos e familiares.
“Como vou comprovar isso? Você vai ter um relatório e, dentro do seu extrato bancário, demonstrar que esses créditos vieram e que pagou o cartão de crédito. O que é que eu sugiro? Que essas transferências sejam compatíveis com os valores que estejam lá no cartão de crédito. O que eu sugiro é que vocês reduzam essa rotina de estar emprestando cartão de crédito”.
Além disso, a má gestão dos recursos públicos também causa revolta no contribuinte brasileiro, que não vê retorno em políticas públicas.
“A gente paga, infelizmente, mas não vê retorno. Nem segurança, nem saúde, nem educação. Então, quando estamos falando sobre instrução normativa, temos que usar da imparcialidade. Fato é, a gente não vai brigar ou ir contra o sistema. Temos que instruir e buscar regularização”.
O que você precisa saber:
- Não haverá taxação do Pix. O que existe é uma ampliação da fiscalização para evitar sonegação.
- Fique atento à sua declaração. Garanta que os valores movimentados estejam compatíveis com sua renda ou faturamento.
- Formalize suas atividades. Abrir um MEI ou empresa pode evitar problemas futuros.
- Movimentação bancária é o alvo. Não importa se é Pix, TED, DOC ou cartão de crédito, a Receita monitora tudo.
“A carga tributária no Brasil é alta, mas não há como fugir do sistema. O ideal é buscar regularidade para evitar transtornos. Procure um profissional que possa orientar e trazer mais tranquilidade para o seu negócio”, acrescentou Gabriela Trindade.
Para ouvir a entrevista completa, clique abaixo:
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