Acorda Cidade
Se há um sentimento de vira-lata no povo brasileiro, como analisado pelo jornalista Nelson Rodrigues (1912 — 1980), muito se dá por pequenos problemas que integram o cotidiano e não há nenhuma resolução aparente. A infraestrutura nacional é uma dessas questões, por mais que o empresariado se empenhe para valorizar diferentes esferas da economia, desde a extração de minérios até o agronegócio, há o chamado custo Brasil que nos faz perder força com a concorrência e é ruim para todos os habitantes do país.
O atual momento vivido pelo setor agropecuário apresenta um termômetro muito claro desse déficit logístico nacional. Enquanto a produção do setor teve um aumento espetacular de 67,5% entre 2009 e 2015, as exportações do mesmo não acompanharam tal avanço e expandiu apenas 19,5%. Os dados são da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
O potencial de exportação do Brasil sofre com muitas questões, algumas delas muito pontuais que devem ser sublinhadas.
As regiões Sul e Sudeste são as que contam com as melhores estruturas portuárias do país e as outras partes do país acabam muito distantes de portos, promovendo grandes jornadas dos produtos por rodovias nacionais, responsáveis por 58% de todo o transporte feito em solo nacional e é por onde passam 75% das mercadorias nacionais, segundo dados do Banco Mundial.
A carência na estrutura portuária nacional ainda fica explícita com informações da Associação Nacional dos Usuários do Transporte de Carga (Anut), em que o preço do contêiner no porto em solo nacional é de US$ 250, contra US$ 100 no caso da Europa e US$ 75 para a Ásia.
O país também carece de outras formas de transporte, há uma carência enorme em ferrovias e um potencial de mobilidade por hidrovias que deixa a desejar e poderia baratear todo o processo. Assim, as estradas ficam sobrecarregadas, uma vez que são usadas na maior parte do deslocamento de cargas feito por frotas pesadas, que incluem caminhões como o bitrem e o cegonha, utilizado pelas transportadoras de veículos.
Com tendência ao desgaste, as rodovias acabam sendo concedidas à iniciativa privada e os trabalhadores precisam pagar pedágios, que ainda são tributados, e encarecem todo o procedimento. Isso se reflete no custo do frete, que é maior no Brasil do que nos Estados Unidos e na Argentina para citar apenas dois exemplos.
O país tem o potencial de expandir seu faturamento com exportações em uma escala muito grande. Há produção de alimentos, commodities além de contar com diferentes tipos de minério. O custo Brasil atrapalha a todos e é um pé no freio da economia, essa questão deveria fazer parte da história já, porém ainda não se sabe até quando o potencial será jogado fora pelas autoridades.