Preço do Leite

Comerciantes de produtos à base de leite e derivados veem crise no setor com elevação dos preços

Os motivos são os sucessivos aumentos no preço do leite, e por consequência dos produtos lácteos.

Foto: Ed Santos/Acorda Cidade
Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

O comerciante Marivaldo Pascoal, que vende laticínios no Centro de Abastecimento há 35 anos, sentiu na pele nos últimos dias a queda nas vendas das suas mercadorias. O motivo são os sucessivos aumentos no preço do leite, e por consequência dos produtos lácteos.

Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

“O aumento se agravou em virtude da estiagem e a entre safra. O requeijão vem de Ipirá, assim como outros derivados, e esse aumento está sendo feito quase que diariamente. O quilo do requeijão, por exemplo, custava R$ 30 e hoje está por R$ 40. A gente torce para baixar, mas até o momento não temos essa expectativa. Todos estamos sendo prejudicados em virtude desse aumento, e as pessoas estão comprando mais o necessário. O requeijão, por exemplo, virou um item supérfluo”, observou.

A comerciante Nilcilene Freitas Lopes, que também trabalha com laticínios no empreendimento, notou que os reajustes começaram com mais frequência algumas semanas antes do São João, e agora o aumento é feito toda semana.

Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

“Semanalmente, estamos tendo um reajuste de cerca de 2 reais, mas esses dias até que parou. Sempre os fornecedores estão avisando que não está tendo leite e pode acontecer de não mandarem o requeijão para gente. A manteiga está do mesmo jeito, e o queijo coalho até, que está tendo um pouco, mas o requeijão precisa de muito leite para ser feito. Muita gente do interior e de outros estados vem ao Centro do Abastecimento para comprar e levar para suas cidades”, afirmou.

A manteiga, o queijo coalho, o requeijão, doce leite cremoso e em barra, doce de pote, a manteiga de garrafa, todos esses produtos derivados do leite fazem parte do dia a dia de vendas de Nilcilene. E como consumidora também, ela entende que isso faz os clientes comprarem menos do que estavam acostumados.

Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

“O leite está muito caro. Fui comprar um dia desses a R$ 5,50 e dois dias depois estava quase R$ 7. E o preço dos produtos está sendo repassado para o cliente, porque a gente compra as embalagens e isso encarece ainda mais. A nossa manteiga e o requeijão vêm do interior, cada um aqui tem seu fornecedor. A gente compra de Capela, Santo Antônio, Pé de Serra, mas às vezes a gente tem que trocar de fornecedor, porque eles não estão dando conta com a falta do leite. A manteiga aqui está custando R$ 36 o quilo, o requeijão tá de R$ 44 e toda semana está aumentando R$ 2. Quem comprava um quilo, agora está comprando meio ou só 250 gramas, vai diminuindo a quantidade”, lamentou.

Do outro lado da cidade, a proprietária de gelateria e confeitaria, Jeude Cléa Maia, também tem que fazer malabarismos e colocar tudo na ponta do lápis para não desequilibrar as contas da empresa. O leite de vaca está presente em todas as preparações dos seus produtos, e os constantes reajustes trouxeram impactos negativos para os negócios.

Foto: Arquivo Pessoal

“Estou há seis anos no mercado com produção própria de gelatos italianos. Usamos o leite na produção dos gelatos e bolos, assim como os derivados, como leite condensado, creme de leite, requeijão cremoso, queijos em geral. Nós sentimos, sim, o reflexo desses aumentos e tivemos que repassar para os clientes. Isso teve um impacto muito grande nas contas, estamos reduzindo o volume de compras e refazendo o planejamento. O leite é indispensável e sem ele não conseguimos produzir nada que faz parte do nosso cardápio. Este ano, já tivemos dois aumentos no nosso cardápio e estamos segurando o quanto podemos”, confessou.

Foto: Arquivo Pessoal

De acordo com a nutricionista Monique Pita, o leite é uma bebida rica em nutrientes, como cálcio, vitamina A, B12, vitamina D, carboidratos, entre outros minerais importantes para o fortalecimento do organismo humano. Mas consciente dos aumentos dos preços do leite e derivados, a profissional indica que é possível fazer substituições para não prejudicar a saúde.

“Podemos substituir o leite por brócolis, feijão, couve, batata doce. E para fazer misturas e preparações, podemos utilizar o leite de origem vegetal, como leite de aveia, leite de coco. O aumento do preço desses alimentos na prateleira vem de um ciclo, uma coisa vai puxando a outra e o consumidor sofre”, ponderou.

Ela explicou ainda que alguns produtos que são vendidos em supermercados similares ao leite integral de vaca são na verdade misturas.

“O composto lácteo é uma mistura de leite com outras substâncias, já o soro do leite é um subproduto do leite que serve para fazer o queijo. A gente só pede que retire o leite da dieta quando o paciente tem alergia à proteína do leite de vaca ou quando é intolerante à lactose. Nestes casos, a gente recomenda o leite 0 lactose ou de origem vegetal”, orientou.

Crise na produção

O economista Renê Becker esclareceu sobre os motivos para o leite estar com preço tão elevado.

“O preço do leite aumentou porque a oferta do produto caiu, em decorrência da seca em regiões produtoras. Também há outro fator, que foi a elevação dos custos de produção. Em consequência disso, o preço foi repassado para os laticínios e por fim para o consumidor”, explicou.

O economista estima que, se tais situações se mantiverem pelos próximos meses, há possibilidade de que os valores cobrados pelos laticínios subam ainda mais.

“Se os preços irão permanecer no nível atual ou se sofrerão reajuste, é muito difícil prever em virtude do momento que estamos atravessando. Mas, a expectativa é de que não haja redução de preços num curto período. Isso só ocorrerá quando houver chuvas mais constantes e os preços dos insumos reduzirem. Esses são os motivos em regra geral que fizeram com que o preço do leite se elevasse, e se isso se mantiver poderemos ter novos aumentos. Isso reflete diretamente na renda da população, que diminui e afeta o consumo familiar”, concluiu.

Com informações do repórter Ed Santos e da jornalista Maylla Nunes do Acorda Cidade

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