A exposição Movimentos segue aberta à visitação até o dia 30 de novembro em Feira de Santana. O evento, que reúne 37 obras de diferentes artistas, comemora o aniversário de 20 anos do primeiro coletivo fotográfico da Bahia.
A exposição acontece no Cuca [Centro Universitário de Cultura e Arte] e explora a dinâmica da vida urbana e as diversas formas de registrar o tempo.
📲 😎SEJA VIP: Siga o canal do Acorda Cidade no WhatsApp e receba as principais notícias do dia.
O clique ideal
O fotógrafo Acson Araujo faz parte da exposição com uma imagem que traz um jovem negro com os pés sujos, calçando uma sandália maior que o próprio pé.
A cena foi capturada no município de São Gonçalo dos Campos, na região metropolitana de Feira de Santana. Para o artista, a foto comunica uma história de resistência, luta e abandono.
“Quando eu tirei essa foto, eu estava pensando em como capturar a ideia do deslocamento e da luta silenciosa que constantemente essas pessoas enfrentam. Não é só sobre o sertão ou o jovem negro. É sobre como o Brasil ainda deixa essas histórias de lado. Ao mesmo tempo, o que mais me impacta, é o fato de que, apesar das dificuldades, ainda há beleza e dignidade”, disse Acson.
Simbolismo e significados
O fotógrafo disse em entrevista ao Acorda Cidade que a imagem é carregada de simbolismo e significados. Para o artista, ao usar uma sandália que não é do tamanho do próprio pé, o jovem parece representar as vulnerabilidades econômicas e as desigualdades estruturais que marcam a sociedade brasileira.
“A imagem representa a precariedade, a falta de recursos e a noção de que a solução que se oferece para certos problemas não cabe na realidade daqueles que mais precisam. O pé sujo, por sua vez, fala da sujeira, não só do ambiente físico, mas também de uma sujeira histórica e social que está impregnada nas vidas de muitos jovens negros no Brasil”, disse Acson.
Juventude negra
Acson fez uma defesa sobre a necessidade de um olhar mais humano voltado para a juventude negra no país. O grupo é constantemente moldado pela desconexão entre o que se precisa e o que se tem. Para ele, a foto é uma oportunidade de reflexão.
“A arte tem esse poder de provocar, de fazer a gente pensar sobre o outro e sobre o que nos cerca. O que eu espero com essa foto é gerar uma reflexão sobre o que temos visto, sobre o que temos ignorado e sobre como podemos olhar de maneira mais humanizada para aqueles que estão na margem”, disse o fotógrafo.
A reflexão é o objetivo
Em 2022, Acson esteve presente na Bienal de Porto Alegre e na Movimentos, que estava em exibição no Teatro Gregório de Matos, na capital, Salvador. O fotógrafo espera despertar no visitante da exposição a vontade de desenvolver um olhar que repense a realidade de quem vive na periferia, no sertão ou em qualquer outro lugar do Brasil.
“Eu costumo dizer e pensar que a poesia é infinita nos olhos de quem vê. O meu olhar e o olhar que as pessoas devem ter, tanto para a sua cidade quanto para outro lugar, é o olhar de sensibilidade, é o olhar onde a gente consegue visualizar a arte. É um olhar de transformação através da poesia”, concluiu o fotógrafo.
Com informações do repórter Paulo José do Acorda Cidade
Reportagem escrita pelo estagiário de jornalismo Jefferson Araújo sob supervisão do jornalista Gabriel Gonçalves
Siga o Acorda Cidade no Google Notícias e receba os principais destaques do dia. Participe também dos nossos grupos no WhatsApp e Telegram