Acorda Cidade
A prática artística da Mimus Companhia de Teatro, baseada na técnica de Mímica Corporal Dramática (MCD) de Etienne Decroux, ator mímico francês, tem feito sucesso em Feira de Santana com o projeto Feira Mimus, que estreou neste mês de março e tem ainda duas novas temporadas em abril e maio de 2016, com uma série de eventos: espetáculos, oficinas e palestras, conduzidas pelos atores e diretores baianos Deborah Moreira e George Mascarenhas, que fazem circular o repertório cênico da Companhia pelo interior da Bahia com o intuito de formar e atualizar artistas locais.
Todas as ações acontecem no Centro de Cultura Amélio Amorim, na Av. Presidente Dutra, 222, Capuchinhos. Depois da apresentação inédita do espetáculo “O Tigre”, em marco, a próxima encenação será “Alegria de Viver”, de 15 a 17/04 (sexta a domingo), sempre às 19h. O texto da peça remete ao valor e ao papel transformador da arte para a cultura, o pensamento e a visão do mundo contemporâneo. O tema será ampliado e discutido na oficina “Mímica Corporal e Criação Cênica”, dias 15 e 16/04 (sexta e sábado), das 9h às 12h, e na palestra “Mímica Corporal Dramática – Princípios Poéticos”, dia 16/04 (sábado), às16h. O espetáculo tem preço popular (R$ 10,00 inteira e R$ 5,00 meia entrada), as oficinas e palestras têm certificação e as inscrições, gratuitas, podem ser feitas on line pelo www.mimus.com.br.
Com relação às palestras, que se configuram mais propriamente como um bate-papo, são provocadas discussões para demonstrar e exemplificar o que acontece no próprio espetáculo em cartaz a cada temporada. “Assim, neste próximo mês de abril, abordaremos o processo criativo utilizado na elaboração do espetáculo, a partir da mímica corporal, articulando o tema à oficina do mês, na qual facilitaremos a construção de uma partitura corporal”, explica Mascarenhas.
“Alegria de Viver”
Desde sua primeira apresentação, a peça Alegria de Viver conquistou público e crítica, sendo indicada ao Prêmio Braskem 2010 nas categorias Melhor Texto e Melhor Ator. O espetáculo parte de referências do quadro homônimo que o artista francês Henri Matisse pintou em 1905 para falar sobre histórias pessoais, o valor da criação em todas as dimensões e temas da atualidade. Agora, “Alegria de Viver” tem apresentação inédita em Feira de Santana e traz ao palco os atores George Mascarenhas e Deborah Moreira, que brincam com as diversas possibilidades trazidas pelo texto, com instigantes reviravoltas em cada cena, à procura de um novo estilo de criação.
Revoltada com a atitude do seu criador, uma Escultura ganha vida para reivindicar seu lugar. Daí tem início o jogo que lida com o enigma da criação: quem é o artista e quem é a obra de arte? Como em um caleidoscópio, personagens revezam-se nas diferentes faces de cada um. Os diálogos são alinhavados por projeções em vídeo, criadas pelo jovem cineasta Dedeco Macedo, a partir das pinturas de Matisse e Zuarte Jr, da música de Luciano Salvador Bahia e Erik Satie e iluminação de Luciano Reis. O resultado é um espetáculo leve, pleno de beleza, poesia, reviravoltas e humor. O espetáculo foi escrito por Deborah Moreira, dramaturga, também atriz, que protagoniza a ação ao lado de George Mascarenhas, diretor da montagem, que utiliza todos os elementos cênicos a serviço da expressividade corporal que serve para provocar as memórias e pensamentos sobre os nossos próprios rastros.
“De algum modo, a ambientação, figurinos, iluminação, música e projeções têm, cada um, um papel importante na criação deste ambiente, na visualidade e como elementos sensoriais do espetáculo. Mas a peça está centrada nos atores e são eles que precisam, no diálogo com o entorno e com o público, gerar as questões, provocações e emoções que desejamos”, elucida o diretor, com o desejo de que todos possam se divertir e aprender com o espetáculo.
Os espetáculos da Companhia propõem experimentar os princípios técnicos e artísticos da MCD, associados a perspectivas e poéticas de teatralidades contemporâneas. A articulação entre a corporeidade dilatada, a construção cênica e uma dramaturgia textual original e autônoma tem sido a tônica do trabalho de Deborah Moreira e George Mascarenhas. Os atores escolheram Feira de Santana para sediar o novo trabalho da dupla no interior da Bahia, para onde sempre levam suas histórias e questionamentos, em função da própria efervescência cultural da cidade.
“Resolvemos revisitar obras de arte que nos tocavam e nos deparamos com o quadro do pintor francês Henri Matisse, intitulado ‘Alegria de Viver’, uma obra prima do modernismo histórico do início do século XX. Ao mesmo tempo, estávamos lendo a peça de Rousseau, de 1762, intitulada Pigmaleão, baseada no mito grego de um escultor que construiu uma escultura de mulher, Galatéa, tão absolutamente perfeita que se apaixonou por ela. Por misericórdia, a deusa Afrodite transforma a escultura de pedra em uma mulher e os dois seguem apaixonados pela vida. Na peça de Rousseau, ao criar vida, a escultura passeia pelo ateliê e curiosamente não se reconhece mais como pedra. Em Alegria de Viver, brincamos com o avesso de Pigmaleão. O artista não só não está apaixonado por sua obra, como está absolutamente desencantado e resolve quebrar e vender tudo, para buscar uma nova forma de criar. Então, sua escultura ‘clássica’ ganha vida para reivindicar o seu lugar… e em algum ponto do caminho, encontram-se com a obra de Matisse. Muitas inspirações e caminhos cruzados”, reflete George Mascarenhas.