Cultura

Poesia que toca alma: o Nordeste contado em verso por Bráulio Bessa

Ele esteve na Festa Literária de Santo Estevão (Flise), na última quinta (5), onde reuniu um grande público.

Daniela Cardoso e Maylla Nunes

Atualizada às 15:10

“Recomece! Se refaça! Relembre o que foi bom. E se um dia lá na frente, a vida der uma ré, Recupere a sua fé, e recomece novamente” Os versos escritos pelo Poeta, escritor e cordelista, o Alto-Santese Bráulio Bessa, conquista cada vez mais o público através das suas mensagens atribuídas ao Nordeste com frases motivacionais. Ele esteve na Festa Literária de Santo Estevão (Flise), na última quinta (5), onde reuniu um grande público. O escritor, famoso nacionalmente através do seu trabalho na internet e no programa Encontro com Fátima, da TV Globo, iniciou sua paixão pela literatura de cordel aos 14 anos. Essa paixão começou na sala de aula e por isso ele acredita na educação como uma ferramenta transformadora.

Foto: Maylla Nunes/Acorda Cidade

“Eu não tinha interesse nenhum por poesia, por literatura e na sala de aula, aos 14 anos, quando o professor me passou um trabalho sobre a literatura brasileira, me apaixonei por poesia e queria ser poeta. Não só por achar a poesia bonita, mas por acreditar na ferramenta transformadora dela, essa sim era a minha maior intenção. Já que um poeta estava me tocando, eu deveria tocar alguém também. Me encantei e hoje estou aqui. Sempre ressalto muito isso para mostrar a importância da educação, do educador e do agente transformador que é o professor”, afirmou.

É hora do recomeço. Recomece a acreditar.

Na vida do poeta, nem tudo foram flores. O poema ‘Recomece’, um dos mais famosos escrito por ele, pode ser um exemplo da própria história. Quem acompanha o seu sucesso atual, não imagina que ele ouviu muitos ‘não’ nessa vida. Houve quem lhe dissesse que ‘poesia não vende no Brasil’. Mas como recomeçar faz parte da vida dele, assim como de milhões de brasileiros, Bráulio não desistiu e viu na internet um espaço onde poderia iniciar mais um recomeço.

“Eu fui para a internet porque eu levei 44 nãos de editoras desse país tentando lançar um livro de poesia. Ninguém queria publicar um livro meu, ninguém dava importância. Percebendo que eu não ia ter espaço nas editoras, eu encontrei na internet uma alternativa de levar a poesia para o povo. Pensei onde eu podia levar a poesia para as pessoas sem dinheiro, sem amigo nenhum e numa cidade 18 mil habitantes no sertão do Ceará. Esse lugar era na internet. Trouxe a poesia e o povo gostou”, relembra.

Coração nordestino

“Talvez fosse o meu destino, nascido prá escrever, aquilo que faz bater, um coração nordestino”. Questionado se o Nordeste é sua principal fonte de inspiração, Bráulio Bessa, afirma que ‘bebe da fonte’ do povo, especialmente o Nordestino, por estar mais próximo da realidade onde nasceu e onde vive até hoje.

“O povo é minha principal fonte de inspiração. Não deixaria de ser o povo nordestino por eu ser um nordestino do interior do Ceará. Sempre digo, pois muita gente pergunta quando se trata de poeta, de compositor sobre a fonte de inspiração, que vem de pertinho de mim, do próprio povo. Eu escrevo sobre o sentimento humano. Eu só preciso prestar atenção no que o povo sente e transformar em poesia”, afirmou.

Foto: Daniela Cardoso/Acorda Cidade

E dentro da cultura nordestina, sem dúvida, a literatura de cordel faz o coração do povo bater mais forte. Sabendo que a poesia está mais viva do que nunca no coração das pessoas e que a literatura de cordel está popularizada, o escritor Bráulio Bessa, aproveita a oportunidade de ter um espaço na televisão para reafirmar ainda mais a importância desse símbolo da cultura nordestina.

“Acho que existia um movimento muito forte, bem antes de mim, que fez com a literatura de cordel não morresse. Na época, quando eu tive essa ideia de trazer para a plataforma de internet, eu sabia que eu estaria reinventando alguma coisa. Quando o cordel começou a se popularizar na internet, vi que a gente estava acendendo uma brasa e essa brasa ia ser um incêndio muito grande na vida das pessoas, na vida de muitos poetas. A minha chegada na televisão foi um divisor de águas em um aspecto para expandir a popularização da literatura de cordel e uma apresentação dos poetas de cordel para muita gente. Não foi só o Bráulio Bessa que ganhou ou ficou conhecido por isso, o que eu vi foi muita gente passando a se interessar por poesia, por literatura de cordel. A cultura nordestina está cada vez mais forte, a nordestinidade está em alta e vamos pelejar para que esse movimento seja ainda mais forte”, afirmou.

Amor, carinho e muita gratidão estão embutidos nos versos do poeta cearense. Quem lê sente e muitas vezes se reconhece nas palavras escritas por ele. Além desses sentimentos, o amor pelo Nordeste e pelas pessoas também são marcas fortes do trabalho de Bráulio. Ele reconhece a responsabilidade e também a importância de levar a arte nordestina para milhões de pessoas por todo o Brasil.

“É muita responsabilidade tocar o coração das pessoas, tocar a alma das pessoas. A poesia é mal educada. Sempre digo que a poesia não bate na porta de ninguém, ela chega com os dois pés, arromba a porta e entra. É um sentimento de gratidão, me sinto realizado com isso. A gente veio para esse mundo com uma missão. Eu tenho a minha, você tema sua. Muita gente demora a encontrar o sentido dessa missão. Eu tive sorte, pois com 14 anos encontrei meu caminho e sabia que o que tinha pra deixar de bom, era a poesia. É por isso que eu não paro. Essa reposta das pessoas, em cada abraço que recebo. Acho que nasce uma poesia dentro de mim”, disse.

Sonhar é ser meio doido

“Sonhar é verbo, é seguir, é pensar, é inspirar, é fazer força, insistir, é lutar, é transpirar. São mil verbos que vêm antes do verbo realizar”. Sábios são os versos do poeta. Ele sabe que “Sonhar é ser sempre meio, é ser meio indeciso, meio chato, meio bobo, é ser meio improviso, meio certo, meio errado, é ter só meio juízo. Sonhar é ser meio doido”. E Bráulio foi, é e continuará sendo. Por que sabe que “Na vida, bom é ser meio, não tem graça ser inteiro. O inteiro é o completo, não carece acrescentar, é sem graça, é insosso, é não ter por que lutar. Quem é meio é quase inteiro e o quase nos faz sonhar”. E ele continua sonhando.

“Meu sonho agora é lançar meu quinto livro. O meu sonho era lançar um livro, desde menino, e lancei. Agora meu sonho é lançar outro. Quando está dando certo, a gente não mexe e eu não sou criativo para essas coisas de sonho, não. Se meu sonho era ser um escritor brasileiro, eu continuo sonhando em seguir entregando poesia para a vida das pessoas, seja com meus livros, conversando, na televisão, no rádio. O que eu quero é continuar vivo para manter a poesia viva”.

E com sua 'Poesia que Transforma', Bráulio Bessa com seu talento, seu jeito acolhedor, simples e simpático, poeta de sorriso fácil, segue seu caminho entregando poesia para a vida das pessoas, transformando histórias. Ele sabe e já escreveu que “Aí sim, lá na chegada, onde o fim é evidente, é que a gente percebe que foi tudo de repente, e aprende na despedida que o sentido da vida é sempre seguir em frente”.

Trechos em itálico retirados de poesias do escritor Bráulio Bessa

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