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No México, o Dia dos Mortos é pura festa

'La muerte está tan segura de alcanzarte, que te da toda una vida de ventaja'. (frase presente nos altares mexicanos)

Lineia Fernandes

Uma das coisas mais interessantes de poder estudar fora do país é definitivamente conhecer outra cultura, muitas vezes, totalmente diferente da nossa. Este fim de semana, os mexicanos comemoram o Dia dos Mortos. Em relaçao à data, praticamente a única semelhança com o Brasil é o 2 de novembro, marcado pelo nosso Dia de Finados.

Enquanto os brasileiros recordam seus mortos com muito pesar, vao à missa, levam flores e velas aos cemintérios, os mexicanos literalmente comemoram a data. Pode-se inclusive encontrar algumas particularidades típicas do nosso carnaval no seu Día de los Muertos – muitas cores, máscaras, fantasias, festas e muita, muita comida e bebida segundo o gosto do freguês ou, melhor dizendo, do morto…

Foto: Lineia Fernandes

É óbvia a influência do Halloween americano, mas também é certo que a festa tem características diferentes e originais, algo que se mantém preservado na cultura desse povo. Este final de semana, os mortos chegam às casas mexicanas e, muito longe de representar medo, susto ou pesar, eles sao reverenciados de todas as maneiras. Assim, vivos e mortos compartilham praticamente tudo. Reza a tradiçao que a família deve ornamentar um altar para seus mortos e nele sao colocados todo tipo de presente para agradar sua alma. A dor e a tristeza desaparecem e cedem lugar ao colorido, à diversao e à alegria de poder oferecer ao morto as coisas das quais ele gosta.
 

Foto: Lineia Fernandes

Os mexicanos têm uma maneira interessante de encarar a morte. Pelo menos nesse dia conseguem transformar o peso que nós, brasileiros, por exemplo (ou ocidentais), carregamos no Dia de Finados (ou todos os dias, também depende da crença de cada um).

Foto: Lineia Fernandes

Para eles, a verdadeira morte seria o esquecimento. E para evitá-lo, no altar, decorado com luxo e muito colorido, sao colocados objetos que reverenciam e representam as preferências do morto – acreditem!, há um pouco de tudo: fotos, a comida e a bedida preferidas pelo difunto… A festa representa de fato um reencontro da família com os parentes que já nao estao aqui fisicamente.
E mais interessante ainda é que a festa nao se limita aos lares. Impacta a economia mexicana em vários aspectos, as pessoas fazem compras e viajam para comemorar e curtir a data.

Muda completamente a paisagem urbana da Cidade do México, assim como também de várias regioes do país. Ruas, praças, shoppings, lojas, restaurantes, instituiçoes públicas e privadas e até museus, tudo é decorado com o altar-oferenda aos mortos. Algumas coisas me fazem lembrar o Carnaval ou o Sao Joao no Brasil. A festa parece evidenciar a mistura da cultura mexicana com as tradiçoes espanholas. Devoçao crista se mescla com crenças pré-hispânicas e indígenas.

E o ritual também invade o cemitério – as pessoas levam comidas, bebidas, velas, flores coloridas, principalmente, no tom laranja, a tradicional cempasúchitl. Bem diferente do que acontece no Brasil, onde este espaço é sagrado e representa dor, tristeza e saudade, no cemitério mexicano no Dia dos Mortos, as pessoas cantam, conversam e comem. E há até mesmo grupos musicais que cantam as músicas preferidas do morto, claro!

Nas panificadoras e supermercados parecem estar os produtos mais concorridos, que nao podem faltar nesses dias. O tradicional pao do morto e caveiras (pasmen! é isto mesmo, nao estou louca!) de todos os tamanhos e confeccionadas com muito sabor. As mais disputadas sao coloridas, recheadas de doce, ou simplesmente de chocolate. Todos querem e fazem questao de levar a sua para casa – adultos e principalmente as crianças que nao têm medo de nada.

Foto: Lineia Fernandes

Como a tequila é uma bebida típica muito consumida no México, é óbvio também que está presente nos altares. Uma indígena de Tetela del Volcán explicou orgulhosamente a um jornalista a razao de colocar tantas garrafas de tequila no altar do marido: “É que meu marido gostava muito”, conta.
Há também vinho e outras bebidas segundo o gosto do difunto; sal para purificar, doces, sucos, cigarros, velas, incenso, crucifixos e obviamente a imagem da Virgem de Guadalupe, símbolo de fé do povo e presença constante nas esquinas mexicanas.

Patrimônio da Humanidade

Em 2003, a Unesco declarou Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade a celebraçao do Dia dos Mortos, por considerar que a festa é uma das maiores representaçoes culturais do povo mexicano, além de mais antiga e de forte valor entre os grupos índigenas do país.

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